O desafio começa para Leung como novo líder de Hong Kong

12/04/2012 03:00 Atualizado: 12/04/2012 03:00

O novo chefe do Executivo eleito Leung Chun-ying (Centro) cercado pela mídia e seus apoiadores em 28 de março de 2012. Leung enfrentará uma tarefa desafiadora com a ampla descrença pública, dizem analistas. (Aaron Tam/AFP/Getty Images)A quarta corrida eleitoral do chefe-executivo de Hong Kong chegou ao fim no domingo, contra o pano de fundo de manifestantes pedindo o fim do controle do regime chinês sobre a ex-colônia britânica.

Leung Chun-ying, que é publicamente reconhecido como tendo o apoio do Partido Comunista Chinês (PCCh) e do Gabinete Administrativo Chinês atrás de si, venceu o primeiro turno da votação com 689 votos. Isso representava pouco mais da metade dos 1200 votos possíveis do comitê de poderosos magnatas e oficiais pró-Pequim.

Seu rival, o Sr. Henry Tang, conquistou 285 votos. O Sr. Albert Ho do Partido Pan-Democrático recebeu 76 votos.

A última corrida pela liderança nesta zona de negócios da Ásia de 7 milhões de pessoas começou a ser conhecida como “a batalha entre o porco e o lobo”, devido à exposição constante de escândalos envolvendo os dois principais candidatos.

Foi também a primeira vez que as eleições receberam tanta pressão e protesto dos habitantes de Hong Kong de todas as esferas sociais. Para expressar sua insatisfação, 220 mil pessoas simularam um referendo em que mais da metade das cédulas de voto estavam em branco.

Centenas se reuniram em frente à Assembleia Legislativa no domingo, quando o resultado da eleição foi anunciado, enquanto outra marcha está prevista para o fim de semana, para pedir um fim à interferência comunista chinesa em assuntos de Hong Kong.

Leung é amplamente conhecido por ser um apoiador pró-PCCh e foi rotulado como um “comunista de armário” na mídia. No entanto, alguns dizem que há sinais positivos de mudança.

Confrontado com suas próprias lutas de poder entre facções, Pequim parece estar perdendo o controle. Mesmo o homem mais rico de Hong Kong, Li Ka-shing, ousou não votar em Leung, dando seu voto para o rival, Henry Tang.

Muitos estudiosos acreditam que a vitória não tão esmagadora dos votos de Leung e o limitado apoio dos cidadãos gerará uma crise de governança para o novo chefe do Executivo apoiado por Pequim.

O população de Hong Kong já estão menos disposta a acreditar nas promessas do PCCh e as queixas do povo de Hong Kong estão crescendo.

No entanto, outros são menos otimistas. O Professor-Associado Chan King Ming da Universidade Chinesa de Hong Kong acredita que Leung é apenas outro fantoche controlado por Pequim, bem como os três chefes-executivos anteriores.

“Ele é um fantoche do Partido Comunista, pessoalmente arranjado por eles para assumir os assuntos de Hong Kong. Isso fez com que as pessoas de Hong Kong se sentissem irritadas e impotentes, com nossos valores fundamentais seriamente comprometidos.”

Ele também expressou preocupação com a promessa de sufrágio universal, um espinho para a China comunista na política de “um país e dois sistemas” concedida a Hong Kong. O sufrágio universal é o direito dado a todos os cidadãos para eleger seu líder numa votação direta, o que tem sido exigido pelo povo desde 1997, mas não deve ser implementado até 2017.

“Nossa preocupação é que a promessa dos comunistas chineses pelo sufrágio universal até 2017 não se tornará realidade. Parece que a eleição será sempre vencida por alguém escolhido a dedo pelos comunistas chineses”, disse Chang.

Desde a entrega em 1997 do domínio britânico para a China Continental, a intervenção em Hong Kong tem sido ampla, acredita Chan.

“Vimos um monte de coisas lamentáveis ocorrerem. O sistema político continental controla completamente Hong Kong aqui, é muito preocupante e frustrante.”

Chan também expressou preocupação de que depois de tomar posse, Leung faria um show de grande esforço na implementação do chamado ensino obrigatório nacional. Ele também pode tentar passar a controversa legislação anti-subversão do “Artigo 23”. Em 2001, milhares protestaram contra a legislação que teria diminuído severamente as liberdades civis apreciadas em Hong Kong.

Essas duas campanhas destruiriam efetivamente os valores centrais de Hong Kong, incluindo a liberdade de expressão, de reunião, imprensa e outras tais liberdades, acredita Chan.

“O que mais nos preocupa é que o modo de governo continental seja trazido para Hong Kong, resultando em conluio entre o governo e os setores empresariais, por trás das cenas da ‘caixa preta’ política, que vai danificar o ambiente da economia empresarial de Hong Kong.”

Leung assume o cargo em junho do chefe do Executivo Donald Tsang que deixa o cargo, e cuja liderança tem sido atormentada por protestos constantes contra suas fracassadas políticas de saúde, habitação e liberdades civis.

Agora, Leung enfrenta o desafio de continuar o legado de Tsang ou assumir um compromisso firme em separar-se do controle do regime chinês.

O professor sênior do Departamento de Governo e Administração Pública da Universidade Chinesa de Hong Kong, Ivan Choy, pensa que Leung enfrenta três problemas: votos limitados para ele, esperança limitada nele e coesão limitada com ele.

“Com muitas das principais plataformas políticas na sociedade, ele é incapaz de reuni-las para eles. Por exemplo, você pode ver que no setor de indústria e comércio, no setor financeiro e bancário, no setor imobiliário e outras tais plataformas, sua atitude em relação a ele é visivelmente reservada.”