A cada 15 segundos, uma criança africana perde um dos pais devido à AIDS. O número crescente de órfãos da AIDS na África é uma das mais graves consequências da epidemia de HIV/AIDS hodiernamente.
As consequências sobre as crianças se tornou tão grave que a UNICEF incluiu um indicador relacionado à prevalência de HIV/AIDS em sua “avaliação de risco infantil”. “O número impressionante de crianças africanas órfãs devido à doença é apenas o início de uma crise de proporções gigantescas […] e o pior ainda está por vir”, alertou a UNICEF.
Em todo o mundo, estima-se que mais de 16 milhões de crianças sejam órfãs por causa da AIDS, das quais 14,8 milhões vivem na África Subsaariana. Em alguns países, uma proporção maior de crianças fica órfã devido à AIDS do que qualquer outra causa.
Crianças órfãs por causa da morte dos pais vítimas da AIDS são susceptíveis de desnutrição e analfabetismo e têm maior risco de se tornarem infectadas por HIV. Ao mesmo tempo, porque são emocionalmente vulneráveis, quando crescem, elas tendem a se envolver em comportamentos sexuais de risco que pode levar a um círculo vicioso de abuso e exploração.
O que torna essa situação particularmente preocupante é que o número de órfãos continuará a subir pelo menos durante a próxima década. Órfãos do HIV/AIDS são parte de um problema muito maior, pois países que têm altas taxas desses órfãos também têm elevado número de crianças diretamente afetadas pela epidemia e que são igualmente vulneráveis. Embora o número total seja difícil de avaliar, estima-se que mais de 3,4 milhões de crianças no mundo vivam com HIV/AIDS.
Porque órfãos da AIDS podem perder algumas habilidades valiosas na vida que seriam transmitidas pelos pais, eles são mais propensos a enfrentar problemas sociais, de saúde e econômicos à medida que crescem. Além disso, os órfãos, particularmente aqueles de famílias mais pobres, têm menos probabilidade de frequentar uma escola em comparação com crianças não-órfãs.
É necessário desenvolver grandes campanhas educativas para tornar os adultos mais conscientes do perigo da infecção, não só para eles, mas também os riscos que isso representa para seus filhos. Hoje, menos de 10% dos quase 15 milhões de crianças africanas órfãs da AIDS recebe algum tipo de suporte público.
Para ajudar os órfãos da AIDS de forma pragmática e imediata, é necessário fortalecer a capacidade das famílias colaterais para protegerem e cuidarem dos órfãos, fornecendo-lhes ajuda financeira por meio de conselhos locais ou governos provinciais.
Björn Ljungqvist, representante da UNICEF na Etiópia, declarou, “Em todos os países onde há uma grande epidemia de HIV/AIDS, primeiramente, não se vê qualquer órfão, pois eles são absorvidos pelos sistemas tradicionais. Então, de repente, parece se chegar a um ponto de ruptura e começa-se a encontrar essas crianças nas ruas, trabalhando em condições difíceis ou mesmo famílias chefiadas por crianças.”
As necessidades especiais de crianças órfãs também devem ser abordadas em respostas baseadas na comunidade e aumentando a capacidade dos orfanatos locais. É fundamental diminuir o estigma em torno da infecção por HIV. Devido ao estigma, muitas crianças órfãs não têm acesso à educação ou a cuidados de saúde e podem acabar vivendo nas ruas.
Muitas vezes, órfãos da AIDS são suspeitos de estarem infectados com HIV, uma situação que os estigmatiza ainda mais. É fundamental não só desenvolver novas políticas governamentais, incluindo legislação, educação e emprego, mas se certificar de que essas políticas sejam implementadas.
César Chelala, MD, PhD, é um consultar internacional de saúde pública e autor do livro “AIDS: Uma epidemia moderna”, uma publicação da Organização Pan-Americana de Saúde.
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