O contra-ataque de Bo Xilai através das manchetes do Diário de Chongqing

15/02/2012 03:00 Atualizado: 15/02/2012 03:00

Bo Xilai, secretário do Comitê Municipal de Chongqing do Partido Comunista Chinês, atende um encontro durante o Congresso Nacional Popular no Grande Salão do Povo em Pequim, China, em 6 de março de 2011. (Feng Li/Getty Images)

Análises de especialistas demonstram ineficácia do ato

Começando no dia 13 de fevereiro, a mídia local Diário de Chongqing publicou uma série de reportagens positivas a respeito de Bo Xilai, o chefe local do Partido Comunista, depois de um período de vários dias em que a mídia manteve-se silenciosa a seu respeito.

Acredita-se que tanto o período de silêncio e a mais recente cobertura estão relacionados com a fuga do ex-chefe de polícia de Chongqing e vice-prefeito, Wang Lijun. O website dissidente Boxun tem reportado que Wang, sob investigação de Pequim por corrupção, fugiu para o consulado norte-americano em Chengdu temendo que Bo o assassinasse para silenciá-lo. Wang agora está nas mãos das autoridades de Pequim e diz-se que está ansioso por revelar informações sobre Bo.

Especialista em China acreditam que a mudança de cobertura da mídia de Chongqing indica que Bo decidiu contra-atacar. Ao invés de se sentar e esperar ser expurgado, Bo escolheu revidar contra os altos oficiais de Zhongnanhai, a sede da liderança do Partido Comunista Chinês (PCCh).

Depois do encontro de Bo com o primeiro-ministro canadense Stephen Harper em 11 de fevereiro, a mídia local de Chongqing deu cobertura limitada ao evento no dia seguinte. Não houve fotografias de Bo e apenas uma pequena reportagem do Xinhua.net, contendo meros 300 caracteres no texto, apareceu na mídia impressa.

Na edição de 13 de fevereiro do Diário de Chongqing, entretanto, havia imagens conjuntas de Bo e do Primeiro-Ministro Harper.

No dia 14 de fevereiro, as atividades de Bo de dois dias anteriores foram impressas na primeira página do Diário de Chongqing como notícia de manchete. A reportagem dizia que em 12 de fevereiro, Bo Xilai, secretário do Partido em Chongqing, conduziu um encontro do Comitê Permanente da cidade para determinar os progressos na reforma da cidade e discutir a implementação de próximas ações. A reportagem também elogiava as realizações políticas de Bo em Chongqing.

A TV de Jilin também reportou conteúdo similar no mesmo dia. É interessante notar que Jilin é uma província do noroeste da China, que é muito distante de Chongqing, localizada no centro-oeste.

Mais recentemente, o Diário de Chongqing também incluiu na primeira página uma reportagem sobre o Prefeito Huang Qifan de Chongqing conduzindo uma reunião convencional, e outra reportagem na segunda página sobre um discurso de Bo, feito no Encontro de Trabalho, Cultura e Propaganda de Chongqing no dia 2 de fevereiro, antes do incidente com Wang Lijun.

No incidente de Wang Lijun, Huang comandou tropas policiais armadas e numerosos veículos policiais para cercar o consulado norte-americano em Chengdu. Analistas acreditam que as ações de Huang colocaram-no em desavença com Pequim e que ele não se salvará caso Bo perca seu cargo.

Os congressistas norte-americanos Dana Rohrbacher (R-CA) e Illeana Ros-Lehtinen demandaram que a Administração Obama investigue imediatamente como Wang Lijun entrou no consulado geral norte-americano de Chengdu e como ele foi conduzido quando lá esteve.

O Washington Free Beacon, citando uma fonte familiar com o interrogatório de Wang no consulado norte-americano, proveu detalhes sobre a “corrupção e conexões do crime organizado de seu chefe, Bo Xilai, assim como detalhes sobre a política chinesa de repressão de dissidentes”.

Um comentador político, o Sr. Cao Changqing, acredita que há duas alternativas para explicar a mudança na cobertura na mídia de Chongqing.

O primeiro senário possível é que a situação está ruim para Bo. Ele está amedrontado e usou este método para se fortalecer e mostrar que ele ainda está no controle. De outra forma, não haveria necessidade de fazer propaganda regular do encontro do Comitê Permanente da cidade.

Num segundo senário, talvez ele tenha recebido notícias de Pequim de que neste duelo entre ele e Wang Lijun, Zhongnanhai está preparada para sacrificar Wang. Talvez ele tenha recebido garantias e ousou se autopromover novamente.

No entanto, Cao acredita que se o Comitê Central do PCCh quisesse proteger Bo Xilai, então, teriam utilizado uma mídia mais influente para reportar sobre o encontro do Comitê Permanente de Bo Xilai, do que uma mídia local como a TV de Jilin. Assim, esta segunda possibilidade parece incerta para Cao.

O bem conhecido economista da China Continental, Mao Yushi, pensa que em qualquer caso o uso da mídia feito por Bo não o ajudará com o público.

“Isso devem ser medidas de Bo Xilai para lidar como o incidente. Mas conhecendo os fatos, o público em geral não vê essas coisas. O que o público quer ver é como você responde as revelações de Wang Lijun. Se você não menciona a substância e só se utiliza destas coisas superficiais, o público duvidará ainda mais de você”, disse Mao, durante uma entrevista com o Epoch Times.

A respeito da mídia de Chongqing enaltecer as realizações políticas de Bo Xilai, especialmente sobre as autoridades locais de Chongqing prestarem uma grande atenção ao bem estar do povo, Mao sente que isso não terá sucesso.

Mao acredita que a “Chongqing Modelo” de Bo Xilai, que envolve campanhas para cantar canções pró-comunistas e esmagar a máfia, é fajuta e também enganosa. Mao crê que há duas maneiras de melhorar a vida das pessoas: produzir riqueza mais eficientemente ou distribuir melhor a riqueza gerada pela população.

“Se você não trabalhar com essas coisas, dando ao povo reais benefícios, então é completamente mentira”, disse Mao. “O Partido Comunista Chinês chegou ao poder usando este método, usando estes métodos desonestos e perversos, e isto está destinado a falhar.”