Um número de altos oficiais chineses muito maior do que se pensava podem ser considerados “oficiais nus”. Esses oficiais moveram seus cônjuges, filhos, outros membros da família, e bens para o exterior, muitas vezes para países ocidentais, de acordo com um relatório da revista Trend de Hong Kong.
Cerca de 90% dos membros do Comitê Central, membros suplentes do comitê, e membros do Comitê Central de Inspeção Disciplinar têm famílias que vivem ou trabalham no exterior, ou que vivem em países ocidentais, descobriu a publicação. Oficiais desses comitês emitiram uma declaração que seus familiares trabalham no exterior.
Um documento emitido conjuntamente pelas entidades acima mencionadas afirma que todos os oficiais devem divulgar as informações de sua família antes de 1º de julho, de acordo com o relatório, que foi publicado em 27 de abril. Se os membros do Partido não o fizerem, poderão enfrentar punição.
Em fevereiro, a Academia Chinesa de Ciências Sociais descobriu que a maioria dos oficiais do Partido Comunista Chinês (PCC) acredita que sua família “deve ser capaz de ter” residência permanente em outro país. Cerca de 75% dos oficiais superiores alinham-se com o perfil de “oficial nu”, um termo que foi completamente banido na mídia oficial chinesa até 2008.
Bo Xilai, o ex-chefe da cidade e província de Chongqing, que foi despojado do poder há dois meses, é dito ter sido o primeiro “oficial nu” da China, possuindo um número de propriedades em Hong Kong, Singapura, Nova Iorque, e Vancouver.
Shi Zangshan, um especialista em política chinesa baseado em Washington DC, disse que o movimento de forçar “oficiais nus” a divulgarem suas informações é uma ordem direta do primeiro-ministro Wen Jiabao. “É óbvio que Wen Jiabao está por trás da ordem do Comitê Central de fazer os ‘oficiais nus’ informarem sobre a situação de seus familiares”, disse Shi. “Os acontecimentos mais interessantes com certeza ainda estão por vir.”
A notícia vem enquanto mais e mais chineses manifestam seu interesse em lidar com os “oficiais nus”, e alguns têm apontado que isso é outra faceta da natureza corrupta do PCC.
Numa postagem recente num microblogue do Sina Weibo, uma versão chinesa similar ao Twitter, o internauta administrador da Focus News Agency enviou uma mensagem sarcástica para seus 73 mil seguidores, “[O embaixador dos EUA] Gary Locke é o único oficial na China, cuja família realmente vive na China.” A mensagem foi gostada e encaminhada mais de 600 vezes.
Lidando com a atitude da elite
Gan Yisheng, o vice-secretário do Comitê Central de Inspeção Disciplinar, afirmou no website do Ministério de Supervisão na última quarta-feira que prevenir a fuga de altos oficiais da China é um processo “complicado, difícil e de longo prazo”.
Numa reunião, o Ministério de Supervisão ordenou a construção de um aparato de segurança para prevenir que oficiais do PCC escapem. O aparato focaria essencialmente nos oficiais do governo cujos cônjuges, filhos ou outros membros da família estão vivendo ou trabalhando no exterior.
Xi Jinping, um membro do Politburo e o suposto sucessor de Hu Jintao à liderança do Partido, disse numa sessão de treinamento a ministros que os mais “alto ‘oficiais nus’ que têm familiares próximos com dupla nacionalidade e cônjuges e parentes que são proprietários ou gerentes de negócios ou empresas estatais receberão tratamento preferencial”, segundo a revista Trend.
Ele acrescentou que este fenômeno acarreta o “desperdício de fundos em transporte público, alimentação e outras despesas, o que despertou a ira do público”. “As tendências atuais na sociedade mostram três problemas que provocarão o colapso do PCC e da nação”, continuou ele. “Uma crise política, crise de instabilidade política e a crise do povo e do partido.” “Se a crise pode ser superada depende da força e determinação do Partido para se reformar e das ações da sociedade.”
O Politburo teria discutido os resultados da pesquisa do grande número atual de “oficiais nus” no PCC. Li Yuanchao, um membro do Politburo e chefe do Departamento de Organização, disse que seu departamento “mal pôde acreditar nos resultados da pesquisa, mas temos de enfrentar a dolorosa verdade: A situação é triste.”