Dados oficiais tentariam esconder ameaça de tumulto social
A Secretaria Nacional de Estatísticas da China publicou recentemente os coeficientes Gini de 2003 a 2012, após uma década de silêncio sobre o tema. Os dados mostram que o coeficiente atingiu 0,491 em 2008, mas que gradualmente caiu desde então. De acordo com as estatísticas oficiais, o coeficiente alcançou 0,474 em 2012.
No entanto, os números têm sido amplamente questionados. A maioria dos universitários chineses sabe que o coeficiente Gini é um índice que mensura a desigualdade social e que um coeficiente Gini de 0,4 ou superior pode provocar agitação social.
Dúvidas sobre a credibilidade do governo
O regime de 10 anos do ex-líder Hu Jintao e do ex-premiê Wen Jiabao não só esgotou o meio ambiente da China e exagerou seu poder financeiro (colocando os governos locais em dívidas profundas), mas, o que é pior, desgastou a credibilidade do governo. Em particular, o fato de que famílias de milhões de dólares na China totalizem 670 mil – a terceira maior do mundo, ao lado apenas dos Estados Unidos e do Japão – tem irritado ainda mais o público.
Ao mesmo tempo, com os preços da habitação subindo e a desigualdade de renda e o desemprego piorando, aqueles na classe mais baixa têm mais dificuldade para subir, enquanto os da classe média podem facilmente escorregar para baixo.
Em meio à intensificação da polarização e degeneração social, fragmentos de informação que passaram pela estrita censura têm dado ao povo chinês vislumbres ocasionais de como a riqueza da China tem se concentrado nas mãos de poucos.
Segundo um conjunto de dados amplamente citado do Ministério das Finanças chinês, desde 2010, os 10% mais ricos possuem 45% da riqueza nas áreas urbanas, enquanto os 10% mais pobres possuem apenas 1,4%.
Muitos chineses sabem também que 64,3% da população chinesa está nas faixas de renda baixa e média-baixa. Recentemente, em 2005, 19% da população, ou 254 milhões, viviam abaixo da linha de pobreza internacional de 1,25 dólares por dia.
A propaganda do regime comunista chinês afirma que os Estados Unidos têm a maior concentração de riqueza e a maior desigualdade de renda do mundo. Mas segundo o Banco Mundial, 5% dos norte-americanos controlam 60% da riqueza total do país, enquanto na China 1% da população possui 41,4%.
Isso significa que a concentração de riqueza na China excede em muito a dos Estados Unidos e a China se tornou o país mais polarizado do mundo.
Enquanto a Secretaria de Estatísticas manteve o coeficiente Gini da nação como um segredo por uma década, outros institutos de pesquisa têm divulgado suas próprias conclusões.
A ONU estima que o coeficiente para a China estivesse acima de 0,52 em 2010, o quarto maior no mundo, e teria chegado a 0,55 em 2011, permanecendo o quarto maior.
Entre mais de 190 países nas Nações Unidas, cerca de 150 têm estatísticas completas e menos de 10 têm coeficientes Gini superiores a 0,49. Os números da China estão apenas pouco abaixo dos três países mais empobrecidos do mundo.
Em dezembro de 2012, o Centro de Pesquisa da Renda Familiar Chinesa da Universidade Sudoeste de Finanças e Economia de Chengdu citou um coeficiente Gini de 0,61, baseado numa pesquisa de 2010 com 8.438 famílias chinesas. O relatório também disse que tal enorme diferença de renda existente na China hoje é uma raridade no mundo.
A Secretaria de Estatísticas da China divulgou sua versão de uma década dos coeficientes Gini logo após a Universidade Sudoeste publicar seu relatório, provavelmente na tentativa de neutralizar seu efeito. Mas a grande diferença entre os números oficiais e as estatísticas de outras organizações tem sido amplamente questionada.
Alguns blogueiros comentaram ironicamente que não há nada que se possa fazer quanto à polarização de renda, de modo que só resta manipular o coeficiente Gini.
Ponto cego: a renda opaca
Grande parte da riqueza social da China é distribuída na forma de renda opaca – uma parcela significativa dos rendimentos dos residentes urbanos está fora da supervisão e do controle estatal.
Enquanto as autoridades e os ricos podem facilmente obter uma grande quantidade desta renda opaca, os chineses comuns raramente têm tais oportunidades. A Secretaria Nacional de Estatísticas não foi capaz de considerar a renda da corrupção em seu cálculo Gini, por isso, o número da Secretaria não pode refletir com precisão a verdadeira disparidade de renda na China.
É impossível saber o tamanho exato da renda opaca na China, mas dados oficiais publicados em maio de 2012 dão algumas pistas. Nos últimos 30 anos, 4,2 milhões de oficiais do Partido Comunista Chinês estavam envolvidos em corrupção, incluindo 90 de nível provincial ou ministerial que foram investigados e punidos.
Embora as autoridades chinesas tenham sido conservadoras sobre tornarem público casos de corrupção, muitos casos relatados pela mídia envolvem o desvio de dezenas ou centenas de milhões de dólares.
O maior valor divulgado esteve associado a Zhang Shuguang, ex-diretor da Secretaria de Transportes do Ministério das Ferrovias. Ele foi demitido e acusado de desviar 2,8 bilhões de dólares para sua conta bancária no exterior.
Além disso, oficiais corruptos frequentemente possuem dezenas de imóveis. Por exemplo, a mídia chinesa informou recentemente que um ex-funcionário da administração habitacional do governo foi preso porque seus familiares possuíam 31 casas.
Mas o exposto é apenas uma parcela muito pequena da corrupção real na China. Cerca de 80 a 95% dos casos de corrupção permanecem velados ao público ou impunes.
A maioria dos chineses não tem o privilégio de ouvir um “segredo de Estado”. Os aristocratas vermelhos, no entanto, têm usado seus poderes para acumular fortunas e as fontes, o tamanho e o paradeiro de seu dinheiro são segredos bem guardados. É por isso que a mídia estatal pode repreender a extravagância de ditadores estrangeiros sem se sentir envergonhada.
Mas em 2012, uma rachadura apareceu na obstrução oficial sobre a riqueza das figuras do topo do regime. Facções políticas vazaram informações confidenciais sobre a riqueza de seus antagonistas para a mídia mundial, a fim de obter vantagem numa luta feroz de poder. Repórteres do New York Times e da Bloomberg expuseram a ponta do iceberg da riqueza dos aristocratas vermelhos.
Embora estes relatos da mídia tenham sido censurados na China, as histórias foram amplamente difundidas de boca-a-boca.
Um coeficiente Gini maior significa maior desigualdade de renda. Enquanto o desemprego entre recém-graduados aumenta e a via de ascensão social é bloqueada, a pobreza é transmitida para gerações cada vez mais empobrecidas. Se uma sociedade tem cada vez mais pobres, que não podem ver qualquer esperança no futuro, o ódio crescerá e se tornará insolúvel.
He Qinglian é uma proeminente autora chinesa e economista que atualmente vive nos Estados Unidos. Ela é autora de “China’s Pitfalls”, que trata da corrupção na reforma econômica da China da década de 1990, e “The Fog of Censorship: Media Control in China”, que aborda a manipulação e restrição da imprensa. Ela escreve regularmente sobre questões sociais e econômicas da China contemporânea.
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