Número oficial de mortes em shopping chinês gera suspeitas

12/07/2012 11:00 Atualizado: 12/07/2012 11:00

Milhares de pessoas se reúnem numa praça local para lamentar as vítimas do fogo no shopping Tianjin em 30 de junho. (Postado na internet por um blogueiro chinês em 6 de julho)Um incêndio recente num centro comercial no município de Tianjin, norte da China, provocou uma tempestade de controvérsia online, depois do anúncio das autoridades de que houve 10 mortes e 16 feridos, enquanto testemunhas afirmam que 378 pessoas morreram, muitas delas pulando do prédio.

O fogo começou no sábado, 30 de junho, mas as autoridades de Tianjin permaneceram em silêncio por sete dias sem oferece qualquer explicação ao público até 5 de julho.

A população local duvida da alegação oficial, dizendo que estão encobrindo os fatos. Algumas pessoas disseram que o relatório de que houve apenas um cliente morto é “uma mentira deslavada”. Um residente que mora perto do shopping disse ao Epoch Times que viu muitas pessoas pulando do prédio tentando escapar do incêndio.

Outro residente disse que o fogo começou por volta das 15h30 e que a polícia foi notificada entre 15h30 e 15h35. No entanto, as autoridades afirmam que o fogo começou às 16h e que os bombeiros responderam prontamente, chegando à cena ao redor das 16h.

Portas de saída bloqueadas

Quando o fogo começou, o gerente do shopping ordenou que os guardas de segurança bloqueassem duas portas do primeiro andar para impedir o saque de clientes, segundo o residente. Seguranças perseguiram alguns clientes que correram para fora do shopping e pediram para inspecioná-los.

Com a propagação do fogo, o gerente depois ordenou que as portas fossem abertas novamente, mas naquele momento a energia estava desligada e as portas automáticas não abririam, disse o residente. Quando alguém finalmente conseguiu forçar as portas, o fogo já havia engolido as duas. Pelo que pôde ser visto em vídeos de celulares feitos por espectadores, ninguém foi resgatado por estas portas.

Encobrindo a história

Surgiram relatos online de oficiais restringindo jornalistas que tentaram reportar sobre o fogo, incluindo policiais à paisana que os seguiam. A polícia local também ordenou que a equipe do hospital não desse informações ao público, segundo o residente entrevistado pelo Epoch Times.

O crematório local também não permitiu que seus funcionários voltassem para casa. Um deles foi detido por “espalhar boatos” depois de revelar que viu mais de 200 corpos sendo levados para o crematório. Censores estatais rapidamente apagaram mensagens na internet sobre o fogo e muitos blogueiros disseram à imprensa que o acesso à internet estava inativo.

Um terceiro morador disse à Rádio Som da Esperança que mais de 500 pessoas morreram no fogo, mas que nenhum morador se atrevia a falar sobre isso. “Se alguém disser alguma coisa ou postar algo online, será preso. Várias pessoas já foram presas. Os membros da família das vítimas estavam sendo seguidos por toda a parte para impedi-los de falar e expor qualquer coisa”, disse este morador.

Em 6 de julho, sete dias após o incêndio, milhares de pessoas responderam a uma convocação online de luto e se reuniram numa praça local. Autoridades enviaram uma grande força de segurança para dispersar a multidão e declararam lei marcial em torno das 15h. Três pessoas foram presas.

Estabilidade e harmonia

Zhang Gaoli, o secretário do Partido Comunista Chinês (PCC) em Tianjin, é um candidato ao círculo de nove membros que governa o país, o Comitê Permanente do Politburo. O jornal Apple Daily de Hong Kong disse que as autoridades de Tianjin censuraram reportagens sobre o fogo para que a carreira política de Zhang não fosse afetada.

Uma figura principal da liderança do PCC em Tianjin ordenou que todos os membros do PCC “expressassem a mesma mensagem e fizessem a mesma declaração”, a fim de manter a estabilidade e harmonia, segundo as ‘Investigações de Jornalistas da China’, um website de Hong Kong que publica artigos de investigação detalhados.

Hu Jia, um proeminente ativista dos direitos que estava no condado de Jixian em 5 de julho, disse a ‘Secret China’, um website de língua chinesa no estrangeiro, que é contra a lei as autoridades de Tianjin encobrirem o número real de mortos e que Zhang Gaoli deve ser o responsável.

“Cerca de 300 a 400 pessoas morreram e isso [a notícia] certamente afetaria a carreira política de Zhang Gaoli. Mas mesmo que ele não faça nada sobre isso, sua equipe tentará certificar-se de que sua carreira esteja segura”, disse Hu Jia.