A polícia em toda a China está encurralando os praticantes do Falun Gong e forçando-os a ceder amostras de sangue para criar um banco de dados de DNA, informou um relatório publicado na semana passada no website Minghui. A polícia estaria recolhendo amostra de sague, a fim de ampliar a lista de potenciais doadores cujos órgãos poderiam ser tomados à força para a extração ilegal de órgãos.
O Minghui é um centro de referência para relatos de praticantes do Falun Gong sobre a perseguição que eles sofrem na China. Um artigo de 19 de julho listou mais de 25 incidentes, alguns envolvendo até 10 praticantes, nas províncias de Liaoning, Guizhou, Hebei e Hunan, e também na capital de Pequim. Estas regiões estão dispersas geograficamente, estendendo-se desde o extremo Nordeste até o Sudoeste do país.
Em incidentes típicos, praticantes do Falun Gong relatam que a polícia invadiu suas casas e extraiu seu sangue contra sua vontade, às vezes à força.
Numa investigação de 2006 sobre a extração forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong, o advogado internacional de direitos humanos David Matas e o ex-congressista canadense David Kilgour descobriram como praticantes do Falun Gong detidos em campos de trabalho forçado eram selecionados pelas autoridades para exames de sangue e outros testes. O relatório de Kilgour e Matas foi posteriormente publicado como o livro Colheita Sangrenta.
Os exames feitos correspondiam aos realizados para determinar a compatibilidade para doação de órgãos, segundo o livro Colheita Sangrenta. Prisioneiros dos campos que não eram praticantes do Falun Gong não eram selecionados para esses exames caros.
Kilgour e Matas listaram estes testes como um tipo de evidência que sustenta a conclusão de que os praticantes detidos na China estariam sendo usados como um banco de órgãos de pessoas vivas.
Numa entrevista por telefone, Matas afirmou que nunca tinha ouvido sobre a coleta de sangue de praticante que não estivessem detidos. “Estes testes são presumivelmente para a extração de órgãos, a não ser que as autoridades forneçam uma explicação alternativa, o que eles não fizeram”, disse Matas.
Ethan Gutmann, o autor do livro a ser publicado “O Massacre: assassinatos em massa, extração de órgãos e a solução secreta da China para o problema da dissidência” (tradução informal do título), também nunca tinha ouvido falar de testes feitos em praticantes que não estivessem detidos.
Gutmann associou estes testes com a decisão recente do regime chinês de não parar de usar órgãos de prisioneiros executados ou no corredor da morte. As autoridades chinesas anunciaram anteriormente a criação de um sistema voluntário de doação de órgãos que substituiria o uso de órgãos de prisioneiros.
“O estabelecimento médico chinês essencialmente renegou todas as suas reivindicações passadas de que reformaria seu sistema de coleta de órgãos, desta forma o momento parece se encaixar”, escreveu Gutmann num e-mail. “Se a informação do Minghui estiver correta, a situação na China está se deteriorando rapidamente.”
Matas especulou que esta nova tática para a coleta de dados de praticantes pode estar relacionada com a paralisação do sistema de campos de trabalho forçado na China no final de 2013.
“Parece uma adaptação ao fechamento dos campos de trabalho”, disse Matas. “Eles só precisavam dos praticantes nos campos de trabalho para tê-los acessíveis como um banco de órgãos. Se as autoridades podem ter acesso aos praticantes [em liberdade], então elas não precisam mantê-los em detenção.”
“Isso é típico do comunismo”, disse Matas. “As coisas mudam, mas não melhoram. Elas pioram de formas diferentes.”
De acordo com o relatório do Minghui de 17 de julho, policiais de uma delegacia na cidade de Weining, província de Guizhou, disseram a praticantes que as amostras de sangue seriam usadas para criar um banco de dados de DNA.
Em outro relatório do Minghui, os praticantes do Falun Gong disseram que policiais inseriram instrumentos em suas bocas à força para recolher amostras de DNA. Num caso, os policiais entraram na casa de um praticante que estava desaparecido e recolheram amostra de seu DNA e de seus parentes.
Gutmann observou que os testes usados na China para verificar a viabilidade e compatibilidade dos órgãos evoluíram de exames complexos para a simples utilização de amostras de DNA. O procedimento descrito pelo Minghui é consistente com esse novo modelo, disse ele.
O novo teste “pode ser apenas uma tática de intimidação”, disse Gutmann. “Os praticantes na China certamente estão cientes da importância desses tipos de testes. O problema é que, mesmo se for uma tática de intimidação, a história mostra que essas táticas podem se tornar realidade.”
“Estou relutante em usar a expressão ‘solução final’ neste momento, mas devo confessar que é exatamente o termo terrível que me veio à mente quando li o relatório do Minghui. Este é um desenvolvimento verdadeiramente alarmante. O Departamento de Estado dos EUA deve responder a isso”, concluiu Gutmann.