Novo primeiro-ministro está pronto para agitar a política da Itália

27/02/2014 14:48 Atualizado: 27/02/2014 14:48

A Itália tem um novo primeiro-ministro. Matteo Renzi, de 39 anos, é o mais jovem primeiro-ministro na história do país e está trazendo a esquerda italiana para frente do palco.

Historicamente liderada por figuras não tão carismáticas, a esquerda italiana foi mantida refém pelo líder direitista Silvio Berlusconi durante anos, e tem sido por vezes considerada a escolha daqueles que simplesmente não gostam de Berlusconi. Ser carismático é considerado por alguns italianos como coisa de direita.

Matteo Renzi intitula-se “o demolidor”, porque quer rejuvenescer seu partido erradicando os velhos valores da esquerda italiana pós-comunista. Ele venceu sua batalha na votação do Partido Democrata com facilidade e agora tem uma forte liderança no Partido.

Renzi é firme. Ele estabeleceu um programa corajoso de reformas, dizendo que mudaria a lei eleitoral, eliminaria o Senado e reformaria os poderes de autonomias locais em apenas alguns meses. Quase todos os partidos no Parlamento apoiaram muitas de suas reformas propostas, mas ninguém ainda foi capaz de movê-las adiante.

A fim de alcançar os objetivos, você deve encontrar um ponto médio entre as forças políticas, mesmo que “não satisfaça você da melhor forma”, disse Renzi, num discurso em que pedia a confiança do Senado. “Se falharmos, não tentaríamos encontrar justificativas”, acrescentou Renzi. “Se falharmos neste desafio, isso será apenas minha culpa.”

A Itália vem passando por uma profunda crise política. Muitas pessoas perderam qualquer resquício de confiança nos políticos. Renzi disse que esta é a última chance do Partido Democrata recuperar essa confiança. “Nossa cultura pode nos tornar uma superpotência global”, disse ele.

O comentarista político Alessandro Lattarulo disse ao Epoch Times que o discurso de Renzi “destruiu a liturgia do passado” de discursos convencionais de primeiros-ministros. O discurso de Renzi ao Senado durou cerca de uma hora e ele não leu de uma folha ou teleponto. “Ele tentou falar com os cidadãos, mais do que com os políticos presentes”, comentou Lattarulo.

Renzi é o terceiro primeiro-ministro consecutivo da Itália que não era um candidato para esse papel durante as eleições. O primeiro foi o tecnocrata Mario Monti e o segundo foi Enrico Letta, um membro do Partido Democrata, mas sobrinho de Gianni Letta, um dos defensores de maior confiança de Berlusconi.

‘O demolidor’ ou apenas outro Berlusconi?

Além do carisma, a simpatia mútua parece aproximar Renzi e Berlusconi. A nova lei eleitoral que Renzi propôs é resultado de um acordo entre ele e Berlusconi, que está na oposição.

A mente aberta e os métodos rápidos de Renzi – como perseguir seus objetivos mesmo com o custo de fazer acordos com forças da oposição – deixaram muitas pessoas confiantes na capacidade do jovem primeiro-ministro de fazer reformas, enquanto muitos outros ainda acham que ele é muito parecido com Berlusconi.

A atual lei eleitoral pode dar a maioria a uma única força política, tendo em vista que a esquerda, a direita e o Movimento 5 Estrelas (M5S) teriam um número similar de votos, segundo pesquisas eleitorais. Esta lei é a razão pela qual a Itália foi forçada a ter um grande governo de coalizão.

Assim, enquanto até mesmo os direitistas tendem a ter uma boa opinião sobre ele, o maior adversário de Renzi é o centrista M5S, fundado pelo ex-comediante Beppe Grillo. O M5S considera a retórica de Renzi como pura propaganda, observando que muitas coisas que ele diz podem ser boas, mas ele ainda tem de mostrá-las. Eles também dizem que Renzi está aliado aos “grandes poderes”, um termo genérico para banqueiros, grandes empresários e elites que supostamente controlam a política italiana.

Na Itália, a maioria dos jornais tem uma posição política e regularmente influenciam a vida política italiana. O fato de que a Repubblica tem alguma influência concreta na política italiana “é bem conhecido”, disse Lattarulo. “Faz muito tempo que ela tenta atuar quase como um partido político real.” No entanto, Lattarulo não acha que isso teria o poder de escolher os ministros de um governo.

Um olhar no passado

Para determinar se Renzi, além de ser um bom orador, é também um bom planejador político, pode-se ver como ele governou Florença, onde ele foi prefeito da cidade até que se tornar primeiro-ministro.

Como o prefeito de Florença, Renzi fez algumas escolhas corajosas, como mudar algumas zonas de tráfego do centro, onde muitos dos monumentos artísticos da cidade estão, assim preservando-os da poluição criada pelos veículos. Isso na verdade decepcionou muitas pessoas que tinham interesse em ter transporte público perto do centro, enquanto mostrava o interesse real de Renzi em promover a beleza e a cultura.

No entanto, alguns dizem que ele fez isso apenas para promover sua imagem, mas não trabalhou eficazmente em muitos aspectos da vida da cidade.