Novos livros da escolar primária: ‘Crianças leais ao Partido Comunista Chinês para sempre’
As escolas na China reabrem para o novo ano letivo em setembro e a cada 6 anos os alunos recebem uma cópia de um livro recém-publicado que se destina a fazê-los apreciar a liderança do Partido Comunista Chinês (PCC).
O livreto de 56 páginas intitulado “Grande passo para novos patamares históricos: Um guia estudantil no espírito do 18º Congresso Nacional do PCC” atraiu muita discussão online, a maior parte negativa. Os chineses têm questionado os motivos políticos por trás desta introdução invasiva nas escolas da China e afirmam que a ideia é inadequada e retrógrada.
O Guia do Estudante, conforme descrito no site oficial, tem como objetivo apresentar aos jovens estudantes o “espírito do 18º Congresso do PCC”, o conclave político no qual a nova geração de líderes comunistas, incluindo o secretário-geral Xi Jinping, assumiu o comando em novembro do ano passado.
O texto atravessa uma variedade de assuntos, incluindo a estrutura e os objetivos declarados do Congresso, e glorifica tais realizações como o desenvolvimento econômico, o controle da internet e “a lenda do porta-aviões”, que os militares chineses colocaram no mar recentemente. Oficiais do PCC e “trabalhadores-modelo” são entrevistados.
Este conteúdo é dividido em quatro pontos, os quais são expressos em linguagem típica panegírica comunista. O último ponto, chamado “Crianças leais ao PCC para sempre”, inclui informações sobre “potenciais estratégias militares delineadas durante o Congresso”.
Muitos chineses estão cautelosos com o que eles veem como uma política invasiva para doutrinar os jovens. “O vazio, a falsidade e a monstruosidade do PCC estão claramente refletidos no livro chinês ‘Regras dos estudantes elementares’”, escreveu o blogueiro Yeduzidu em maio deste ano no Tianya, um fórum popular de discussão na China.
“A regra nº 1 é o amor à pátria, amar as pessoas e amar o PCC. Isso é obviamente pregação política. Por que o PCC força as pessoas a cantarem louvores a ele? Não é inadequado forçar crianças a declararem este ponto de vista político?”
Um internauta comentou no Weibo: “A política não tem lugar na sala de aula. Isso é flagrante lavagem cerebral, com o objetivo de destruir completamente qualquer possibilidade de inovação e criatividade na nova geração.”
Os novos livros didáticos parecem ser parte de esforços mais amplos da nova liderança sob Xi Jinping para intensificar a presença do Partido Comunista na vida e na mente dos chineses. Nos últimos meses houve um aumento da supressão online de “rumores”. Oficiais de todos os níveis têm sido alvo de disciplinamento pelo sistema extralegal shuanggui e, ultimamente, o método de estilo maoísta de forçar oficiais a se autocriticarem publicamente foi revivido.
Outro internauta chinês comparou as políticas atuais com o que foi ensinado na era Mao. “Em 1975, quando eu estava na escola, eu fui forçado a ler as ‘Obras Escolhidas’ de Mao e escrever ensaios críticos contra o perdão de ‘direitistas’.”
Um jornalista do Orient Today comentou: “Não mais o caminho soviético, mas sim o caminho da Coreia do Norte? Polegares para baixo.”
Outros expressaram sarcasmo com a decisão de dar o texto a crianças recém-alfabetizadas de 6 anos. “Isso é certamente um novo patamar histórico”, comentou um, zombando do nome do texto.
