Quando Hongwei Lou ouviu pela primeira vez o boato de que o Partido Comunista Chinês lançaria uma campanha contra o Falun Gong, ela riu. Por que o Partido perseguiria um grupo de pessoas tão pacíficas?
Pouco depois, uma campanha de perseguição brutal começou, e Lou parou de rir.
As memórias de Lou, o livro “Remember the Truth” (“Lembre-se da Verdade”, tradução livre), nos apresenta a visão da vida de uma jovem mulher na China, a imensa popularidade da disciplina espiritual do Falun Gong e a eventual perseguição ao Falun Gong, que já dura mais de 14 anos. Uma narrativa comovente, “Lembre-se da Verdade” oferece uma visão privilegiada das grandes mudanças que estão ocorrendo na China hodierna. A obra fala do amor num momento de terror, e da fé e da devoção que ajudam a reconstruir uma família despedaçada.
Como a maioria das crianças que cresce na China comunista, Hongwei Lou foi ensinada a acreditar no Partido Comunista Chinês (PCC) desde muito jovem. “Muitas vezes o que me ensinaram na escola primária só poderia ser considerado total absurdo”, escreve ela. “A maioria das respostas nos testes eram escritas para louvar o PCC.”
Ainda assim, ela se saiu muito bem na escola e foi estudar na Universidade de Wuhan, onde conheceu um jovem honesto chamado Bu Dongwei. Lou nos fornece anedotas divertidas e comoventes sobre seu namoro na faculdade, seu eventual casamento e as lutas que enfrentaram vivendo juntos.
Um dia, Lou foi visitar seus pais e descobriu um milagre. Sua mãe tinha sido completamente curada de sua artrite e da saúde frágil, e tinha até jogado fora seus remédios. Lou também ficou espantada com a nova atitude de otimismo da mãe diante da vida.
O que mudou? Seus pais tinham começado a praticar o Falun Gong.
Lou pegou o livro do Falun Gong, voltou para casa, e ela e o marido começaram a ler. O livro mudou tudo. Nele, eles encontraram respostas para muitas questões da vida que nunca tinham entendido.
Os problemas de estômago de Dongwei se foram. Eles passaram a apreciar mais seus trabalhos, fazê-los muito melhor e assim começaram a ganhar mais dinheiro. A vida agora tinha significado além da azáfama do dia a dia. Eles passaram suas noites lendo o livro e passeavam no parque discutindo como poderiam ter lidado com as situações da vida de maneira melhor, de acordo com os três princípios fundamentais da prática – verdade, compaixão e tolerância. Nos fins de semana, eles faziam os exercícios no parque, junto com um número crescente de outras pessoas que aprendia a prática.
Três anos depois, em 1999, começou a perseguição. Policiais começaram a prender os praticantes, e propaganda anti-Falun Gong foi inventada e transmitida dia e noite em todos os meios de comunicação – mentiras que os 100 milhões de adeptos do Falun Gong sabiam serem absurdas.
E o mundo de Lou virou de cabeça para baixo. Após uma série de amigos serem presos, ameaçados ou espancados, ela e o marido sentiram que tinham de fazer alguma coisa. Eles se sentaram e escreveram cartas a vários funcionários do Partido Comunista explicando que o Falun Gong era bom e que a mídia havia se enganado.
A questão é que os funcionários do governo já sabiam que o Falun Gong era bom. Muitos deles até mesmo o praticavam. Então, por que a prática foi banida?
Segundo Lou, o Partido Comunista ensina “mentiras, ódio e luta”, que é o oposto dos três princípios do Falun Gong, “verdade, compaixão e tolerância”. Se a grande maioria no país começasse a praticar o Falun Gong, talvez não houvesse mais ninguém que acreditasse no Partido Comunista.
Lou e seu marido foram rapidamente presos por suas cartas e enviados para a prisão e em seguida para um centro de remanejamento, onde suportaram espancamentos, abuso verbal e trabalho pesado. Lou descreve a imundície do centro: “Eu sentia que ser espancada era menos pior do que a sujeira insuportável.” Mais tarde, eles foram levados para campos de trabalhos forçados, onde Lou recorda o tormento psicológico e a privação de sono que eventualmente corroeram sua capacidade de raciocinar.
A história é um exemplo contundente de uma catástrofe muito maior.
Ainda assim, o livro não leva o leitor às profundezas do desespero. Mesmo nas cenas de maus tratos chocantes, há momentos inesperados de leveza, como o “bolo de aniversário” que colegas de cela de Lou lhe fazem com comida da prisão.
Enquanto estava presa, Lou contou a outros prisioneiros sobre o Falun Gong, apresentando-lhes uma tradição espiritual que até então eles nada sabiam.
Após cerca de um ano, Lou e o marido foram liberados dos campos de trabalho. Eles retomaram a prática do Falun Gong, que os ajudou a recuperar sua saúde física e mental.
Em 2004, sua filha Tiantian nasceu.
Antes que o bebê completasse dois anos, sua felicidade foi interrompida novamente. Enquanto Lou estava no exterior, seu marido foi detido e preso pela segunda vez e ela não pôde voltar para casa ou seria encarcerada também.
“Após a segunda prisão de Dongwei, minha vida se tornou um pesadelo”, escreve Lou. “Eu não conseguia comer nem beber. Eu tive que me forçar a comer. No entanto, eu sabia que não podia ter um colapso nervoso. Eu tinha de resgatá-lo.”
Lou passou mais de dois anos espalhando a notícia da prisão do marido pelo mundo, utilizando todos os meios disponíveis. Ela apelou e pediu à comunidade internacional por ajuda. Ela não desistiria até que Dongwei fosse solto.
“Lembre-se a Verdade” é uma leitura absorvente e por vezes arrepiante. O livro termina com esperança e com a oportunidade de ver com novos olhos a alegria que a liberdade traz para a vida.