Novo líder comunista chinês pode ser reformista reservado

16/09/2012 09:47 Atualizado: 16/09/2012 09:54
Xi Jinping, o provável próximo líder chinês. (Feng Li/Getty Images)

Embora Xi Jinping, o indicado próximo líder chinês, não tenha sido visto em público há duas semanas, há sinais de que, quando ele assumir o leme do Partido Comunista Chinês (PCC) no fim deste ano, ele possa estimular a reforma política e econômica no país, possivelmente com algum vigor.

Especialistas que analisaram observações feitas por Xi Jinping ou em seu nome dizem que ele tem sido surpreendentemente ousado em indicar políticas e ideias orientadas à reforma antes mesmo de assumir o cargo.

Deng Yuwen, vice-editor do Study Times, que é afiliado à Escola do Partido do Comitê Central do PCC, publicou um artigo de três partes em 2 de setembro intitulado “O legado político de Hu Jintao e Wen Jiabao” na revista financeira relativamente liberal Caijing.

Xi Jinping é o diretor da Escola do Partido que publica o Study Times.

Embora o primeiro artigo tenha listado algumas conquistas do atual líder chinês Hu Jintao e do primeiro-ministro Wen Jiabao, o segundo e o terceiro tinham críticas duras e listavam 10 grandes problemas na sociedade chinesa. O artigo foi posteriormente removido do website da Caijing.

De acordo com Deng Yuwen, embora Hu Jintao e Wen Jiabao tenham feito contribuições, “a administração de uma década criou mais problemas do que conquistas”. Os problemas incluem falhar em fazer ajustes na estrutura econômica e não fazer progressos na reforma política e democratização.

O artigo também manifestou a expectativa de Deng Yuwen sobre Xi Jinping. “A solução para todos esses problemas, em última análise, reside na reforma política e na profundidade da reforma política. Portanto, os líderes devem ser corajosos em dar o primeiro passo para pressionar a reforma política e a democratização”, disse Deng.

“O fim de uma era é o começo de outra… Como os sucessores podem resolver os problemas que afetam o plano da China de desenvolvimento pacífico e quão rápido a China ascenderá ou parará de subir. Nós, portanto, devemos ter um sentido de crise”, acrescentou Deng.

Um artigo do Boxun, um website dissidente em língua chinesa fora da China, comenta que o Study Times já publicou diversos artigos sobre a reforma e alguns podem ter apresentado os pontos de vista de Xi Jinping.

Deng Yuwen também é um comentarista e colunista da Phoenix News Media. Sua pesquisa se concentra sobre a reforma e a transformação social na China.

Num artigo publicado na Phoenix em 25 de março de 2011, Deng Yuwen escreveu que o PCC deve ter um senso de urgência sobre a reforma política e não deve ter uma mentalidade de avestruz, o objetivo da reforma política é estabelecer a liberdade e a democracia, disse ele.

Problemas sem precedentes

Xi Jinping se reuniu com o proeminente reformista Hu Deping nas últimas seis semanas, informou a Reuters em 7 de setembro. Hu Deping é o filho do ex-líder chinês Hu Yaobang.

Declarações e citações no artigo da Reuters ecoaram declarações de Deng Yuwen.

“Os problemas que a China acumulou são sem precedentes”, disse uma fonte da Reuters, parafraseando um resumo por escrito do que seriam observações de Xi Jinping circuladas entre alguns oficiais chineses aposentados.

“Temos de buscar o progresso e a mudança, enquanto permanecemos estáveis”, disse Xi Jinping conforme citado por outra fonte.

No encontro privado, Xi Jinping também pediu moderação aos defensores de uma mudança mais radical, disse a fonte da Reuters. Mas ele deu a entender que reformas políticas graduais destinadas a restringir alguns poderes do Partido Comunista poderiam vir mais tarde, disseram as fontes.

“Temos de elevar bem alto a bandeira da reforma, incluindo a reforma do sistema político”, disse uma fonte, parafraseando Xi Jinping.

“Xi Jinping disse que o povo está cansado de grandes discursos sem qualquer ação, então, ele evitará fazer promessas irrealistas.”

Sem saída

Alguns especialistas sobre a China têm comentado que duvidam que Xi Jinping faria tais comentários neste momento delicado.

No entanto, a Sun Affairs de Hong Kong confirmou que Xi Jinping e Hu Deping de fato discutiram a reforma política e, portanto, enquanto o 18º Congresso do PCC se aproxima, a reforma política virá mais cedo do que as pessoas esperavam e a reforma econômica será empurrada adiante em ritmo acelerado.

Chen Ping, o CEO da Sun Affairs, que é um bom amigo de Hu Deping, também confirmou à Deutsche Welle que Xi Jinping e Hu Deping se encontraram. Ele disse acreditar que Xi Jinping adiantará a reforma quando assumir.

“Sem reforma, nem a China nem Xi Jinping terão saída”, disse Chen Ping à Deutsche Welle.

De acordo com a Voz da América (VOA), muitas pessoas próximas a Xi Jinping são reformadoras. A VOA entrevistou Zhou Duo, um estudioso independente de Pequim que pesquisa a reforma política e tem contato íntimo com oficiais reformistas do PCC. Zhou Duo comentou que o artigo da Reuters reflete completamente o estilo de Xi Jinping.

Segundo Zhou Duo, o histórico e a experiência especial de Xi Jinping o permitiram entrar em contato com pessoas controversas.

“Inclusive alguns de meus amigos, que tenho contato direto, se encontraram com ele”, disse Zhou. “Ele ouve opiniões diferentes de uma ampla variedade de fontes… Este é o traço político de Xi Jinping.”

“Xi Jinping manteve contato com filhos de ex-líderes do PCC, incluindo Hu Deping. Eles têm origens semelhantes e falam a mesma língua”, acrescentou Zhou Duo.

No entanto, falar abertamente sobre a reforma política não é boa notícia para Xi Jinping, segundo Wen Zhao, um comentarista político da NTDTV.

“Adversários de Xi Jinping podem usar isso como desculpa para retratá-lo como alguém que tem um motivo perigoso como Gorbachev, assim usando mais linhas-duras para se oporem a ele.”

Wen Zhao também não é otimista sobre as perspectivas de Xi Jinping pela reforma. “A realidade na China é que a política e a economia são controladas por grupos de interesse. Qualquer tipo de reforma substancial correrá grande risco.”

“Xi Jinping é o que é hoje porque foi aceito por facções diferentes. Será que ele se atreverá a assumir um risco tão grande para promover a reforma? Isso é duvidoso.”

“É também uma questão de correr contra o tempo. Ele usará a reforma política para aliviar os conflitos sociais antes que os conflitos explodam na China… Será que a reforma avançará num ritmo mais rápido do que o ritmo da crise social? Eu acho que isso não é muito realista”, disse Wen Zhao.

Nota do Editor: Quando o ex-chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro, ele colocou em movimento uma tempestade política que não tem amenizado. A batalha nos bastidores gira em torno da postura tomada pelos oficiais em relação à perseguição ao Falun Gong. A facção das mãos ensanguentadas, composta pelos oficiais que o ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu para realizarem a perseguição ao Falun Gong, tenta evitar ser responsabilizada por seus crimes e continuar a campanha genocida. Outros oficiais têm se recusado a continuar a participar da perseguição. Esses eventos apresentam uma escolha clara para os oficiais e cidadãos chineses, bem como para as pessoas em todo o mundo: apoiar ou opor-se à perseguição ao Falun Gong. A história registrará a escolha de cada pessoa.