Novo chefe anticorrupção é velho amigo do líder chinês Xi Jinping

15/07/2013 14:35 Atualizado: 15/07/2013 14:37
O líder chinês Xi Jinping numa reunião com o primeiro-ministro etíope Hailemariam Desalegn em Pequim. Xi Jinping lançou recentemente uma campanha de retificação do PCC e encarregou um velho amigo para supervisioná-la (Goh Chai Hin/AFP/Getty Images)
O líder chinês Xi Jinping numa reunião com o primeiro-ministro etíope Hailemariam Desalegn em Pequim. Xi Jinping lançou recentemente uma campanha de retificação do PCC e encarregou um velho amigo para supervisioná-la (Goh Chai Hin/AFP/Getty Images)

Em 18 de junho, o líder chinês Xi Jinping anunciou uma nova campanha para “retificar” o Partido Comunista Chinês (PCC), convidando os membros a seguirem “o grande alinhamento” e purgarem seus hábitos degenerados. O movimento é uma reminiscência da retórica e expurgos da era maoísta: relatos de oficiais morrendo em procedimentos de interrogatórios secretos têm emergido da China e um novo slogan expressivo de Xi Jinping é: “Olhar no espelho, corrigir o traje, tomar um banho e tratar sua doença.”

O conselho poderia ser útil aos oficiais do PCC, considerando os recentes escândalos, como o do ex-ministro das ferrovias Liu Zhijun que foi julgado recentemente por aceitar 64,6 milhões de yuanes (US$ 10,5 milhões) em propina; além de ser acusado de usar seu cargo para ter relações sexuais impróprias com 20 atrizes. Para o público chinês, casos como esse confirmam que a corrupção no oficialismo impregnou todos os níveis do governo. Desde que Xi Jinping assumiu o poder em março, ele lançou uma campanha anticorrupção na tentativa de restaurar a fé das pessoas no PCC, o movimento disciplinar de “grande alinhamento” parece ser uma tentativa de avançar mais um degrau.

Tendo em vista que eles têm estado “separados das massas” ultimamente, os membros do PCC devem voltar a “servir o povo de todo o coração”, disse Xi Jinping num discurso em 18 de junho em que delineava a campanha. Enquanto isso, uma “limpeza” em grande escala começará a livrar o PCC de quatro males: “Formalismo, burocratismo, hedonismo e extravagância.” Comentaristas notaram a similaridade desses desprezados “ismos” com os apontados por Mao Tsé-tung 50 anos atrás.

Chen Xi, um membro do PCC nomeado pelo líder chinês Xi Jinping para supervisionar a nova campanha de “grande alinhamento”. Chen e Xi estudaram engenharia química jutos na Universidade Tsinghua e são amigos íntimos (Weibo.com)

Como em todas as mobilizações políticas comunistas chinesas, a lealdade à liderança é a chave. É por isso que Xi Jinping conferiu um papel fundamental em sua campanha de alinhamento a seu ex-colega de escola Chen Xi.

O título do trabalho de Chen é colorido: “Vice-líder do grupo de educação e prática do movimento de grande alinhamento na direção de subgrupos.”

Como o braço direito no pequeno grupo do PCC no comando da campanha, Chen tem uma boa posição para supervisionar. Em relatos da mídia chinesa, ele é frequentemente relatado observando grupos de estudos políticos e discursando longamente sobre a necessidade de aderir à disciplina partidária.

Nascido na província de Fujian em 1953, Chen Xi era amigo de Xi Jinping nos dias de universidade. Ambos estudaram na Universidade Tsinghua em 1975-1979, onde se graduaram em engenharia química. Com Xi Jinping como referência, Chen se tornou um membro do PCC em 1978.

Chen também foi promovido a uma série de posições do PCC com a ajuda de Xi Jinping. Tendo permanecido na Tsinghua até obter um mestrado, ele continuou a atuar na escola como líder no comitê universitário do PCC, um pequeno grupo de oficiais que fiscalizava e ditava a agenda. Em 2002, Chen foi feito secretário do grupo.

Em 2011, Xi Jinping levou Chen Xi para Pequim e arranjou sua entrada no 18º Comitê Central, um grupo de uns 350 oficiais do PCC que exercem grande poder na China.

Mas a posição mais significante de Chen lhe foi concedida em abril desse ano, quando ele foi nomeado vice-secretário-executivo do Departamento de Organização, um órgão importante na atribuição de pessoal no PCC. Menos de dois meses depois, ele foi nomeado um dos supervisores da nova campanha de retificação de Xi Jinping.

Campanhas de retificação do PCC, chamadas “zhengfeng yundong” em chinês, foram inventadas por Mao para eliminar adversários políticos e consolidar sua autoridade suprema sobre a ideologia comunista chinesa. A primeira de tais campanhas, 1942-1944, visava testar a lealdade dos membros do PCC e remover os suspeitos “espiões” da oposição nacionalista. Campanhas semelhantes foram lançadas nos anos 1950, muitos delas empregaram quotas rígidas e brutais sobre quantos membros perseguir.

Qian Guoliang, um oficial da província de Hubei, que morreu durante uma detenção disciplinar “shuanggui”. Vários outros oficiais morreram desde que o líder chinês Xi Jinping começou sua campanha anticorrupção (Weibo.com)

Talvez a mais notória de Mao seja a campanha “antidireitista” de 1957, que perseguiu intelectuais que ousaram criticar o regime do PCC. Muitos foram obrigados a se submeter a “reforma do pensamento” em campos de trabalhos forçados, enquanto outros foram presos e outros tantos linchados.

Estudiosos do assunto dizem que as retificações do PCC têm várias fases: primeiro, o líder identifica o problema; então, os membros estudam e discutem os textos comunistas principais que tratam da questão e depois eles são agrupados para participar de sessões de crítica e autocrítica. A etapa final é a ação disciplinar para punir o retardatário ideológico, neste caso, os funcionários corruptos que forem pegos.

“O grande alinhamento” de Xi Jinping pode não usar o antigo formato de pequenos grupos de estudo forçados, mas, até agora, sua campanha, que deve ocorrer de fato no próximo ano, começou de forma tradicional maoísta. Propaganda estridente foi postada no site dedicado à campanha, que é patrocinado pelo pequeno grupo do PCC e compilado pelo jornal estatal Diário do Povo.

“Usando as ‘conexões de sangue e carne’ para descrever a origem da relação PCC-massas” é a manchete de um dos ensaios publicados no site. “Usando ativamente a cultura política honesta e limpa da história de nosso país como uma referência, enquanto constantemente fortalecendo a capacidade de combater a corrupção, prevenir a degeneração moral e suportar os riscos”, diz outra.

Como no século 21, o aspecto de crítica e autocrítica assumiu um toque virtual: o site do movimento inclui um fórum de mensagens online em que os membros do PCC podem postar suas reflexões após participarem dos estudos.

Mas a violência contra oficiais problemáticos permanece no cardápio. Desde que Xi Jinping começou sua campanha anticorrupção, relatos da mídia têm surgido de oficiais sendo torturados e interrogados, às vezes até a morte em “shuanggui”, uma forma de detenção disciplinar. Bo Xilai, um membro desgraçado do Politburo e secretário do PCC em Chongqing, passou 10 meses em “shuanggui” antes de ser entregue ao sistema judicial para aguardar julgamento.

Nos últimos quatro meses, pelo menos três oficiais morreram em shuanggui. A última vítima foi Qian Guoliang, chefe da Administração de Terremoto do condado de Huangmei, província de Hubei, que foi detido por agentes do PCC em 8 de abril, segundo o Diário Metropolitano do Sul. As autoridades chinesas disseram que a causa de sua morte foi insuficiência respiratória, mas as fotos que circularam online mostram-no deitado sem vida numa cama de hospital com a área ao redor da boca enegrecida, sangrenta e machucada.

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