Novas evidências de seres humanos há 22 mil anos no Brasil reescrevem a história das Américas

26/03/2013 19:43 Atualizado: 06/08/2013 17:49
Outros locais na América do Sul revelam fogões de 50 mil anos e habitações de madeira de 13 mil anos
Novas evidências humanas de 22 mil anos encontradas no Brasil (Wikimedia)

Um estudo realizado por pesquisadores franceses e brasileiros encontrou evidências de presença humana na Toca da Tira Peia no estado do Piauí, nordeste do Brasil, com artefatos de pedra que correspondem há 22 mil anos atrás.

A equipe liderada pelo arqueólogo Christelle Lahaye, da Universidade Michel de Montaigne Bordeaux na França, disse que a nova pesquisa “contribui para a reescrita do povoamento das Américas”.

Os resultados mostram evidências da presença humana antes da chegada dos índios americanos Clovis, historicamente considerados por alguns arqueólogos como os primeiros povoadores americanos. Isso, sem contar as medições feitas anteriormente na América do Sul de datas ainda mais pré-históricas, mas que foram consideradas duvidosas.

“Evidência substancial das investigações arqueológicas, bem como paleogenéticas, estudos ambientais e antropológicos, têm levado a interpretações parcialmente conflitantes nos últimos anos, muitas vezes devido à falta de um quadro cronológico confiável”, disse o estudo de Lahaye, acrescentando que a nova pesquisa confirma a boa integridade do sítio arqueológico e dos artefatos descobertos.

“Temos confiança na precisão dos resultados de luminescência”, diz o estudo.

Por sua vez, os especialistas destacam que “temos novas e fortes evidências de que o modelo Clovis está desatualizado”, diz Lahaye, segundo o Instituto de Arqueologia Cass.

O último achado corresponde à presença humana na Toca da Tira no Piauí, onde os restos são 22 mil anos atrás.

Numa escala de tempo, os autores citam outras descobertas importantes encontradas na América do Sul, incluindo as encontradas na Pedra Furada no município de São Raimundo Nonato, no Piauí, Brasil.

Trata-se de uma rocha descoberta em 1973, que foi um refúgio humano pré-histórico, onde há pinturas rupestres. A equipe coordenada pela franco-brasileira Niède Guidon datou os restos encontrados entre 48 e 32 mil anos atrás.

No local, os arqueólogos desenterraram madeira queimada e antigos fogões de fabricação humana, além de ferramentas de pedra de cerca de 50 mil anos atrás, informou o Cass.

Segundo o arqueólogo Gary Haynes da Universidade de Nevada, que se recusa a confirmar os resultados do Brasil, as flutuações na umidade do solo podem ter distorcido as estimativas de idade.

Mas o arqueólogo Tom Dilehay, da Universidade Vanderbilt em Nashville, respeita os artefatos encontrados na Toca da Tira Peia e sustenta que são implementos feitos pelo homem e semelhantes aos encontrados em Monte Verde no Chile de mais 13 mil anos e em outros locais no Peru.

No caso de Monte Verde, sítio arqueológico localizado às margens do estuário Chinchihuapi em Puerto Mont no sul do país, as datações do assentamento humano descoberto no local poderiam corresponder até 33 mil anos atrás, segundo Dilehay, informou o Cass.

Segundo artigos chilenos, foram encontrados restos de casas de madeira e características de um habitat numa área florestal temperada fria.

Novas evidências humanas de 22 mil anos encontradas no Brasil

Toca da Tira Peia

Entre 2008 e 2011, a equipe franco-brasileira liderada por Lahaye encontrou na Toca da Tira Peia 113 artefatos de pedra em cinco camadas de solo.

Os pesquisadores encontraram ferramentas bifaciais e outros artefatos em diferentes profundidades e realizaram medições in situ com espectrometria gama.

A datação arqueológica detectada na camada superior chegava a 2.000 a.C. Datações de níveis inferiores foram de 10.900-900 a.C. até uma camada de 15.100 a.C. e por último de 20 mil a 1.500 a.C. a 1,6 metros de profundidade.

Os arqueólogos verificaram a datação dos artefatos de até 22 mil anos e agora esperam calcular quando foram enterrados.

Também participaram nas investigações Marion Hernández da Universidade Michel de Montaigne Bordeaux; Eric Boeda e Marina Pagli da Universidade de Paris; Gisele D. Felice da Fundação Homem do Museu Americano (FUNDHAM); Sirlei Hoeltz da Investigação Arqueológica do Brasil; Anne-Marie Pessi da Universidade de Pernambuco; Michel Rasse da Universidade de Rouen; e Sibeli Viana do Instituto Goiano de Antropologia.

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