Nova liderança do regime chinês investiga ex-chefe da segurança pública

04/09/2013 12:15 Atualizado: 04/09/2013 12:15
Zhou Yongkang, um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês, na sessão de abertura do Congresso Popular Nacional em Pequim (Liu Jin/AFP/Getty Images)
Zhou Yongkang, um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês, na sessão de abertura do Congresso Popular Nacional em Pequim (Liu Jin/AFP/Getty Images)

O chefe aposentado do poderoso aparato de segurança do Partido Comunista Chinês (PCC) está no centro de uma investigação que tem avançado quietamente por meses ou um ano e que tem derrubado sistematicamente seus subordinados, protegidos e um ex-braço-direito. Ao fazer de alvo um camarada tão influente, a nova liderança estaria consolidando sua permanência no poder e eliminando a resistência às reformas econômicas de certos círculos do PCC.

A existência da investigação contra Zhou Yongkang foi recentemente divulgada aos meios de comunicação fora da China, após uma série de declarações públicas por órgãos do PCC que este estaria investigando elementos-chave no setor do petróleo, uma indústria em que Zhou tem raízes profundas.

O Epoch Times recebeu a notícia de que Zhou Yongkang foi alvo de investigação já em maio do ano passado. Que a notícia agora tenha sido dita aos grandes meios de comunicação ocidentais indica que a nova liderança tem a intenção de torná-la “oficial”, segundo analistas políticos.

Em particular, as divulgações e uma série de novas investigações foram feitas logo após o julgamento de Bo Xilai, um ex-membro do Politburo, ser julgado por corrupção na semana passada, indicando que a nova liderança pretende manter o ritmo forte no desmantelamento das estruturas de poder da velha guarda.

O alvo mais recente na lista de alvos a caminho de Zhou Yongkang foi Jiang Jiemin, o diretor-geral do órgão que supervisiona os ativos estatais. Jiang, que foi nomeado chefe deste órgão no início deste ano, foi anteriormente presidente da Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC), a maior companhia de petróleo da China.

Antes disso, outros quatro funcionários da CNPC foram removidos numa sondagem de corrupção. Zhou chefiou a CNPC, inclusive como secretário do Grupo do PCC, durante os anos 1980 e 1990.

A base política de Zhou Yongkang é no setor do petróleo, que, como muitos outros importantes setores da economia, é gerido pelo Estado e permite que famílias e facções que o controlam extraiam rendas desproporcionais. Chen Jieren, o sobrinho de He Guoqiang, um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo, disse a um diplomata norte-americano que era “bem conhecido” que “Zhou Yongkang e associados controlavam os interesses petrolíferos” na China, segundo um informe vazado pelo Wikileaks.

Antes da recente investigação do petróleo, a rede de Zhou Yongkang na província rica em energia de Sichuan, onde ele serviu como secretário do PCC, estava sob ataque. O caso de maior destaque foi a queda de Li Chuncheng, o então secretário do PCC em Sichuan e uma figura-chave no império de negócios de Zhou Yongkang e seu filho Zhou Bin.

O caso da liderança contra Zhou Yongkang é duplo, segundo Shi Cangshan, um especialista no PCC sediado em Washington DC. “Originalmente, o problema da liderança com Zhou Yongkang era político: ele cresceu fora de controle. Mais tarde, o problema era de caráter econômico”, disse Shi, referindo-se às tentativas da liderança do PCC de mudar o modelo de crescimento econômico da China e o efeito sufocante dos monopólios estatais na economia.

O atual líder chinês Xi Jinping declarou que pretende ir atrás de “tigres e moscas”, uma referência aos oficiais de alto e baixo escalões. A queda de Zhou Yongkang daria a Xi Jinping uma pele útil para exibir, para forçar o resto do corpo de oficiais a se alinhar com a reforma da economia e seu modelo de crescimento liderado pelo Estado, indicou Shi Cangshan.

A questão política em torno Zhou Yongkang se estende há mais de uma década, quando enormes poderes foram dados ao aparato de segurança, chamado de Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), que ele costumava comandar e que o PCC usava para governar a China com punho de ferro.

Em 1999, o então líder chinês Jiang Zemin contou com o CAPL para realizar sua campanha sem precedentes destinada a “erradicar” a disciplina espiritual do Falun Gong, uma forma tradicional de meditação que durante a década de 1990 atraiu 70 milhões de adeptos, segundo dados oficiais da época.

Jiang Zemin usou uma ampla campanha contra o grupo pacífico para consolidar seu poder e influência no regime. No curso de sua campanha, ele assumiu o controle do aparato de segurança nacional e nomeou seus próprios homens para conduzirem-no. O segundo desses oficiais foi Zhou Yongkang, que em troca do grande poder continuaria a implementar a campanha de perseguição ao Falun Gong.

Nos anos após o lançamento da campanha, as forças de segurança receberam enormes orçamentos e recursos muito ampliados. Numerosos protestos de massa também começaram a ocorrer neste período, fortalecendo o argumento de uma capacidade de segurança pública expandida.

A Polícia Militar Popular, utilizada para suprimir protestos, cresceu para cerca de um milhão de componentes, como um exército permanente. Sob a supervisão de Zhou Yongkang, o aparato de segurança se tornou um “segundo centro de poder” no regime, segundo Zhang Tianliang, um analista da China contemporânea.

Bo Xilai, um oficial chinês cujo julgamento amplamente divulgado foi concluído na semana passada, era destinado por Jiang Zemin e Zhou Yongkang a tomar as rédeas das forças de segurança e a suceder Zhou. Depois que Wang Lijun, o ex-braço-direito de Bo Xilai, tentou desertar para o consulado dos EUA em Chengdu em fevereiro de 2012, no entanto, todas as apostas foram encerradas.

No escândalo que se sucedeu e envolveu Bo Xilai e pessoas próximas a ele, Zhou Yongkang foi o único oficial sênior a defendê-lo. Em março de 2012, a notícia de que uma tentativa de golpe fora ensaiada em Pequim ricocheteou na internet chinesa e o Epoch Times foi informado por fontes próximas do oficialismo do PCC que Zhou Yongkang e Bo Xilai estavam envolvidos.

Dois meses depois, o Epoch Times foi informado de que Zhou era alvo de uma investigação. A investigação sobre Zhou Yongkang é incomum porque quebra uma convenção de longa data no PCC, que ex-membros do Comitê Permanente do Politburo, o órgão que controla a China, estão imunes a punições após deixarem o cargo. Analistas políticos ainda estão incertos se isso será mais ou menos favorável à estabilidade em torno da liderança central.

Hua Po, um comentarista de assuntos contemporâneos em Pequim, disse numa entrevista à emissora NTDTV: “Se Zhou Yongkang e sua rede são como uma grande árvore, então este movimento da liderança do PCC visa cortá-la e arrancar suas raízes. Em seguida, a árvore simplesmente secará e morrerá.”