Nova líder do Brasil pretende presidir para a estabilidade

12/11/2010 03:00 Atualizado: 14/11/2014 00:03

RIO DE JANEIRO – Com o brilho de sua recente vitória, a presidente eleita Dilma Rousseff tem uma série de desafios econômicos pela frente, alguns dos quais ela já começou a enfrentar antes mesmo de assumir o cargo oficialmente em 1º de janeiro de 2011.

Esta semana, 11-12 de novembro, ela acompanhou o presidente que sai Luiz Inácio Lula da Silva às reuniões do G-20 em Seoul, Coreia do Sul, para começar a desbastar a obra diante dela.

As principais áreas de desafio para Dilma, que ela herdou de seu antecessor e maior defensor, o Presidente Lula, são equilibrar as contas públicas e aumentar a estabilidade econômica e o crescimento.

A primeira mulher presidente do Brasil também tem de lidar com a taxa de juros recorde do país de 10,75%. Ela diz que planeja tirar vantagem da instabilidade econômica internacional para reduzir gradualmente as taxas de juros, crescer a economia e criar mais empregos e renda para o Brasil, diferenciando-se da linha conservadora do atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Roussef culpa as altas taxas de juros devido à desvalorização do Dólar. Ponto principal em sua agenda na reunião do G-20 foi sua queixa à desvalorização artificial do dólar e seus efeitos sobre o real brasileiro, provocada pela guerra cambial entre os EUA e a China. O Brasil disse aos Estados Unidos e à União Europeia que eles deveriam desenvolver incentivos fiscais para estimular suas economias ao invés de desvalorizar suas moedas.

Economista de formação, em seus discursos, Dilma disse que permaneceria com os fundamentos da política econômica, baseada nos três pilares de controle da inflação, uma taxa de câmbio flutuante e manter um excedente orçamental (excluindo o pagamento de dívidas).

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse na quinta-feira que o governo terá como objetivo reduzir a carga da dívida do país de 40% do PIB para 30%, informou o Wall Street Journal. Lula está deixando um défice orçamental de cerca de 90 bilhões de reais para sua sucessora.

No entanto, em contraste com o atual Presidente Lula, Dilma diz que planeja governar a economia com mão de ferro e adotar uma linha mais arrojada, lutar contra a inflação e identificar novos indicadores, tais como metas de emprego.

Dilma pretende continuar com a política pública social. Ela se esforçará para manter baixas taxas de juros e gastos públicos elevados, incluindo o aumento dos benefícios sociais na Bolsa Família, aumentar o salário mínimo e criar um ministério para incentivar pequenas e médias empresas.

Merval Pereira, comentarista d’O Globo, descreveu o aumento dos gastos públicos em programas sociais ao longo dos últimos dois anos como uma tática populista para garantir que um candidato do governo ganharia a eleição, o que funcionou. Lula não era elegível para concorrer a um terceiro mandato e Dilma correu como sua sucessora escolhida a dedo.

Na sequência de tais políticas, Lula teve de reduzir o superávit primário e fazer “malabarismos fiscais”.

Outros pontos importantes a tratar, a fim de desatar o nó restringindo o crescimento do país, são os altos impostos, a deficiente infraestrutura, e as margens de lucros elevadas de empresas. O setor produtivo está considerando uma petição ao governo para aumentar os impostos sobre as importações de certos produtos, e acima de tudo, sobre o capital financeiro estrangeiro.

Governabilidade

O novo Congresso que emergiu das urnas é o mais diverso do mundo, com representantes de 22 partidos eleitos, não de todo incomum no Brasil. Embora o balanço do Congresso se incline para a linha de esquerda com a ideologia do Partido dos Trabalhadores de Dilma, a diversidade, sem dúvida, representa um desafio para o próximo governo.

Dilma tem uma ampla coalizão eleitoral de 10 partidos formando seu governo. Seis partidos formam a coalizão de oposição.

O economista Octavio Amorim Neto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse em entrevista à Globo News na semana passada que o apoio do Parlamento é fundamental para que Dilma passe suas políticas, e ele espera que ela consiga.

“Pela primeira vez, a coalizão eleitoral da presidência será a mesma que a coalizão de Ministros”, disse Neto. Segundo ele, esse suporte político evitará o risco de grandes problemas como o escândalo sobre a compra de votos parlamentares que abalaram o primeiro mandato de Lula.

Em relação à direção do novo governo, de acordo com Neto, sua direção dependerá do equilíbrio de forças. A radicalização possível de esquerda do Partido dos Trabalhadores terá sempre o “contrapeso representado pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro”, o maior partido no Brasil. O poder do PMDB está em não ter uma linha ideológica. O PMDB é o sucessor do Movimento Democrático Brasileiro.

Em sua análise publicada no jornal O Globo, Merval Pereira disse que a oposição está se reconstruindo e promete oferecer um desempenho combativo.

Além de tirar vantagem da inexperiência Dilma, ela nunca ocupou uma posição eleita, pretende-se explorar brechas na fragmentação da coalizão do governo. Pereira comentou também que a oposição planeja criar alianças com partidos neutros e até mesmo com partidos da coalizão do governo, a fim de opor-se ao controle do Partido dos Trabalhadores e do PMDB, como uma forma de plantar sementes para o futuro.

Pereira também cita César Romero Jacob da Pontifícia Universidade Católica que disse que no Brasil “os mapas eleitorais deixam claro que não há uma luta ideológica [na população], nem mesmo uma luta de classes, mas uma votação popular impulsionada pelo interesse econômico”.