Nosso frágil planeta

19/01/2014 11:26 Atualizado: 19/01/2014 11:26

Examinemos algumas declarações que refletem uma visão tida como absolutamente inquestionável.

“O mundo em que vivemos é belo, mas muito frágil.” Ou, “A terceira pedra do Sol, também conhecida como planeta Terra, é um oásis bastante frágil.” Eis algumas frases divulgadas no Dia da Terra: “Lembre-se de que a Terra tem de ser salva diariamente.” “Lembre-se da importância de cuidar do nosso planeta. É o único lar que temos.”

Tais declarações, sempre acompanhadas de previsões apocalípticas, são rotineiramente feitas tanto por ambientalistas extremistas quanto pelos não-extremistas. Pior ainda é o fato de que esta doutrinação sobre a “Terra frágil” é infundida em nossa juventude desde o jardim de infância até a universidade. Sendo assim, examinemos o quão frágil a Terra realmente é.

Em 1883, houve a erupção do vulcão Krakatoa, localizado onde hoje é a Indonésia. Tal erupção teve a força de 200 megatons de TNT. Isso é o equivalente a 13.300 bombas atômicas de 15 quilotons cada uma (15 quilotons é aproximadamente a capacidade explosiva da bomba que devastou Hiroshima em 1945).

Antes desta erupção, houve a erupção do vulcão Tambora em 1815, também localizado onde hoje é a Indonésia. Esta ainda detém o recorde de ser a maior erupção vulcânica da história. Ela cuspiu tantos detritos na atmosfera, que a luz solar foi bloqueada. Consequentemente, o ano de 1816 passou a ser conhecido como o “Ano em que não houve verão” ou “O verão que nunca ocorreu“. As consequências foram plantações completamente destruídas, perdas totais de safras agrícolas e a dizimação de animais em grande parte do Hemisfério Norte, o que gerou a pior fome do século XIX.

Já a erupção do Krakatoa no ano 535 d.C. foi tão violenta que bloqueou quase que toda a luz e todo o calor oriundos do Sol por 18 meses. Há quem diga que foi esse evento que deu origem à Idade das Trevas.

Geofísicos estimam que apenas três erupções vulcânicas — Indonésia (1883), Alasca (1912) e Islândia (1947) — jogaram na atmosfera mais dióxido de carbono e dióxido de enxofre do que todas as atividades humanas o fizerem ao longo de toda a nossa história.

E como o nosso frágil planeta lidou com dilúvios? A China provavelmente é a capital mundial das inundações colossais. A inundação de 1887 do Rio Amarelo matou entre 900 mil e 2 milhões de pessoas. Já as inundações de 1931 foram ainda piores, causando um morticínio estimado entre 1 e 4 milhões. Mas a China não detém o monopólio das enchentes.

Entre 1219 e 1530, a Holanda vivenciou enchentes que mataram aproximadamente 250 mil pessoas.

E o que dizer dos terremotos que assolam o nosso frágil planeta? Houve o terremoto de Valdivia no Chile em 1960. Foi o mais violento terremoto já registrado na história, chegando 9,5 graus na escala Richter, uma força equivalente a mil bombas atômicas explodindo simultaneamente. Já o terremoto ocorrido em 1556 na província de Shaanxi, na China, foi o mais mortífero da história: matou 830 mil pessoas e devastou uma área de 1.300 quilômetros quadrados.

Mais recentemente, houve o terremoto de dezembro de 2004 no Oceano Índico, que alcançou uma magnitude 9,1 graus na escala Richter e gerou o devastador tsunami de 26 de dezembro, que atingiu majoritariamente a Indonésia, o Sri Lanka, a Índia, a Tailândia e as Maldivas e matou mais de 230 mil pessoas. E não nos esqueçamos do terremoto de 9 graus na escala Richter que devastou o Leste do Japão em março de 2011 e matou mais de 28 mil pessoas.

Nosso frágil planeta também já teve de enfrentar terrores vindos do espaço. Dois bilhões de atrás, um asteroide atingiu a Terra e criou a cratera de Vredefort, na África do Sul. Ela possui 300 km de diâmetro, o que faz dela a maior cratera de impacto do mundo. Em Ontário, Canadá, há a Bacia de Sudbury, a segunda maior cratera de impacto da Terra, resultante da queda de um meteoro ocorrida há 1,8 bilhão de anos. Ela possui um diâmetro de 130 km. Já a cratera de Chesapeake Bay, no estado americano da Virginia, é um pouco menor, tendo um diâmetro de 85 km. E finalmente há a famosa, porém miúda, cratera de Barringer, no Arizona, cujo diâmetro não chega nem a 2 km.

Citei aqui apenas uma ínfima fração de todos os eventos cataclísmicos que já atingiram a terra — e ignorei várias outras categorias, como tornados, furacões, queda de raios, incêndios, nevascas, avalanches, deslizamentos de terra, movimento placas continentais, raios solares, manchas solares, tempestades magnéticas, inversão magnética dos polos, erosão, raios cósmicos e eras glaciais. Não obstante todos estes eventos cataclísmicos, nosso frágil planeta sobreviveu.

Logo, minha pergunta é: dentre todos estes poderes da natureza, qual pode ser igualado pelo homem? Por exemplo, conseguiria a humanidade reproduzir os efeitos poluidores da erupção do vulcão Tambora, ocorrida em 1815? Ou, quem sabe, reproduzir o impacto do asteroide que aniquilou os dinossauros? É o cúmulo da arrogância acreditar que a humanidade pode gerar alterações paramétricas significativas na Terra ou que possa igualar as forças destrutivas da natureza.

Ocasionalmente, ambientalistas se entusiasmam além da conta e acabam inadvertidamente revelando suas verdadeiras intenções. O famoso biólogo ecossocialista Barry Commoner disse que “o capitalismo é o inimigo número um do planeta“. Já Leo Marx, professor do MIT, disse que “em termos ecológicos, a necessidade de termos um governo mundial dispensa debates“.

Com o colapso da URSS, o comunismo perdeu sua até então considerável respeitabilidade. Atualmente, ele adquiriu uma nova embalagem e se apresenta sob as formas de ambientalismo e progressismo.

Walter Williams é professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos

Tradução de Leandro Roque

Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Ludwig von Mises Brasil