Nordeste pode assegurar vitória de Dilma Rousseff

27/06/2014 10:34 Atualizado: 27/06/2014 10:34

As regiões nordeste e sudeste, que respondem por 26% e 44% do eleitorado respectivamente, são consideradas estratégicas pelos analistas políticos pelo poder de definir eleições presidenciais.

Foi assim em 2010, quando Dilma obteve 71% dos votos válidos do nordeste e 52% no sudeste, enquanto que na soma das demais regiões o quadro foi relativamente neutro, pois Dilma perdeu com margem estreita de 49% dos votos.

As últimas pesquisas eleitorais mostram que a disputa no sudeste será mais difícil para o atual governo, apesar de eventuais divergências de resultados. Pelo Datafolha (3 a 5 de junho), Dilma teria no primeiro turno apenas 26% das intenções de voto na região, enquanto o último Ibope (13 a 15 de junho) indica 34%; resultados bem distintos entre si mesmo levando em consideração a margem de erro das pesquisas. Ainda assim, ambos têm caído e estão bem abaixo do resultado do primeiro turno da eleição de 2010, quando Dilma obteve 40,7% dos votos válidos.

No nordeste, por outro lado, a margem é folgada. A intenção de voto em Dilma Rousseff está em 48% pelo Datafolha e 52% pelo Ibope, ambos bem acima dos resultados em nível nacional, de 34% e 39%, respectivamente. No entanto, também no nordeste a intenção de voto tem recuado (estava em 59% pelo Datafolha de fevereiro); lembrando que no primeiro turno de 2010, Dilma obteve 61,6% dos votos na região.

Não sem razão, especialistas apontam que a eleição no nordeste será mais competitiva do que no passado, tornando a região ainda mais relevante estrategicamente por conta das dificuldades crescentes do atual governo no sudeste; o que não surpreende à luz do fraco desempenho dos indicadores econômicos da região.

Pela estimativa mensal de PIB calculada pelo Banco Central, a região sudeste é a que mais sofre com o baixo dinamismo econômico do país e a que mais desacelera. O crescimento anual acumulado em 12 meses até março deste ano ficou em 0,8%, bem abaixo da média nacional de 3,1%. A desaceleração desde 2010 é expressiva, pois naquele ano a região registrou crescimento de 7,2%. Sem dúvida a fraqueza da indústria é a principal responsável por este resultado.

É, portanto, um quadro desafiador para a presidente Dilma Rousseff. A economia fraca pode estar alimentando o desejo de mudança, que atingiu 79% no sudeste em junho.

No nordeste os dados são relativamente mais favoráveis, mas basicamente em linha com a média nacional.

O PIB da região cresceu 2,9% nos últimos 12 meses, depois de ter registrado 7% em 2010. O quadro, ainda que modesto, está em linha com o da média do país. E reflete a alta de 3,4% da produção industrial, o aumento de 6,1% no volume de vendas do varejo e de 8,2% na receita nominal de serviços, na mesma comparação.

No que tange ao mercado de trabalho, variável central para a aprovação do governo, o quadro não é muito conclusivo. Enquanto a PNAD-contínua, com reduzida série histórica, indica estabilidade da taxa média anual de desemprego no nordeste em 2013 e queda de 9,8% para 9,1% entre os primeiros trimestres de 2013 e 2014, as pesquisas mensais do IBGE e do Dieese mostram uma inflexão. Pelo Dieese, que tem pesquisa mais ampla, a taxa média anual ponderada para Fortaleza, Recife e Salvador está em 9,7% em abril deste ano ante 9,5% há um ano e também no fechamento de 2010, depois de ter atingido a mínima de 8,6% em agosto de 2011. Nada favorável.

Apenas pelo retrato atual dos indicadores macroeconômicos não se justificaria o grande diferencial de intenção de voto em Dilma no nordeste em relação à média do país. Mas isso não é novidade. Já se observou algo assim em 2010.

A diferença é que o filme hoje não é tão favorável quanto no passado. A região colheu muitos frutos com aumento do crédito e do consumo das famílias, principalmente entre 2005/07, e apresentou maior resiliência na crise de global de 2008/09. Agora, há uma desaceleração em curso da economia nordestina, que pode explicar a queda da taxa de aprovação da presidente – de 49% em fevereiro para 41% agora – e o aumento do desejo de mudança – em 67% pelo Datafolha.

A ideia que os programas assistenciais seriam garantia de voto não parece tão clara, pois eles não têm evitado o possível aumento do desemprego na região.

Frear o recuo da intenção de voto no nordeste e manter larga vantagem na região é essencial para Dilma Rousseff, tendo em vista o ambiente mais competitivo no sudeste. O nordeste poderá ser importante campo de batalha.

IMIL