Negócios, ao invés de direitos, chanceler alemã visita a China

04/09/2012 08:08 Atualizado: 04/09/2012 08:08
A chanceler alemã Angela Merkel (esquerda) e primeiro-ministro chinês Wen Jiabao viajam num trem de alta velocidade entre Pequim e Tianjin em 31 de agosto, durante uma visita de dois dias à China. (Guido Bergmann/Bundesregierung/Getty Images)

A chanceler alemã Angela Merkel visitou a China para um encontro de dois dias na última quinta-feira, focando principalmente em reforçar as relações comerciais entre os dois gigantes da exportação. Grupos de direitos humanos apontaram a omissão de declarações claras sobre os abusos do regime.

Merkel chegou a Pequim com a maior delegação econômica e governamental alemã até o momento, composta por sete ministros federais, 20 líderes empresariais e mais de 100 funcionários, viajando em três aviões.

Além de conversas com o premiê Wen Jiabao e o líder chinês Hu Jintao, ela se reuniu com Li Keqiang e Xi Jinping, que assumiriam os cargos de primeiro-ministro e secretário-geral, respectivamente, no fim deste ano.

A mensagem fundamental da Alemanha para seus homólogos chineses foi enfatizar a importância do chamado terreno favorável que a indústria alemã precisa para operar e investir na China. “O mercado europeu está aberto às empresas chinesas. Esperamos o mesmo para nossas empresas”, disse Philipp Rösler, o ministro da Economia e Tecnologia, num comunicado.

Para a Alemanha, cuja economia é profundamente dependente de exportações, o mercado chinês é um dos “pilares da indústria de exportação alemã”. A China é o segundo destino mais importante fora da Europa para os produtos alemães, como peças de máquinas e carros. Em 2011, mercadorias no valor de mais de 80 bilhões de dólares foram exportadas, contribuindo com 0,5% do crescimento alemão (de um total de 2,7%).

Para continuar este crescimento, em Pequim, contratos de mais de 6 bilhões de dólares foram assinados por ambos os lados na quinta-feira. Simbolicamente, o ministro Rösler abriu uma nova fábrica de transmissão da Volkswagen na sexta-feira.

As conversas também ofereceram uma oportunidade de tranquilizar o regime chinês que a crise da dívida na União Europeia está sendo tratada adequadamente, o que é uma grande preocupação para o regime chinês.

Grupos de direitos humanos e da oposição política alemã expressaram desapontamento com Merkel que dificilmente abordou questões de direitos humanos durante sua viagem.

Man-Yan Ng da Sociedade Internacional para os Direitos Humanos (SIDH), uma organização alemã sem fins lucrativos, disse que o governo alemão devia “criticar publicamente, não apenas atrás de portas fechadas”.

Ao longo dos últimos anos, Merkel iniciou mais de 50 diálogos com Pequim sobre diversos temas, incluindo o Estado de Direito e os direitos humanos. O Human Rights Watch chamou tais conversas privadas que terminam sem resultados claros como uma “fachada de ação”.

Merkel precisa reconhecer que não está lidando com qualquer governo, mas com “o maior agressor dos direitos humanos”, disse Ng.

Para Ng, Merkel está limitada em suas opções, enfrentando pressão tanto da indústria alemã como das eleições gerais no próximo ano.

A chanceler costumava ser mais franca e ousada. Em 2007, ela convidou o Dalai Lama para Berlim, fazendo o regime chinês reagir irritado em protesto. Esta primavera, durante sua última viagem, ela tentou se reunir com representantes do Grupo de Mídia do Sul, um jornal relativamente ousado e crítico, mas foi negada. Esta semana, foi noticiado que Merkel exigiu melhores condições de trabalho para os correspondentes alemães.

“A Alemanha só pode ganhar em longo prazo”, ao ser sincera em relação à China, disse Ng, descartando a ideia de que existe um conflito entre interesses econômicos e morais.

Políticos da oposição alemã também expressaram desaprovação. Claudia Roth, a chefe do Partido Verde, falando à revista Stern, exigiu que Merkel “abordasse questões difíceis”.