Negociação de alta-frequência não gera liquidez no mercado de ações

08/04/2014 12:15 Atualizado: 08/04/2014 12:15

Na semana passada, Michael Lewis conseguiu afundar a ‘negociação de alta-frequência’ (HFT) da ‘oferta pública inicial’ (IPO) da empresa Virtu. Após o lançamento de seu livro crítico “Flash Boys”, a empresa decidiu esperar por sua cotação em bolsa por causa de toda a publicidade negativa.

O livro de Lewis é muito crítico da HFT e tem gerado muita atenção da mídia. Em resposta, os defensores da HFT apareceram para defender o conceito de utilização de sistemas computacionais e algoritmos muito rápidos para negociar ações.

É preciso deixar claro aqui que o ponto principal de Lewis está correto: a maioria das estratégias de HFT não acrescenta qualquer valor econômico e escalpela uma taxa por ser mais rápida do que qualquer outra. Empresas de HFT afirmam que fornecem liquidez para o mercado. Embora isto seja verdade num nível puramente técnico, não é verdade do ponto de vista econômico.

Liquidez

Para a bolsa de valores, alguém que fornece liquidez envia uma ordem de limite que reside no sistema até que esta seja combinada com outro limite ou ordem de mercado. Programas de HFT fornecem regularmente este tipo de liquidez técnica, alertando sobre ordens de limite e em seguida cancelando-as logo que a ordem possa ser realmente satisfeita.

Os comerciantes do programa podem fazer isso porque eles veem as ordens no sistema mais rápido do que qualquer outra pessoa e podem reagir a elas mais rapidamente.

De um ponto de vista econômico, esse comportamento não adiciona qualquer liquidez real, porque as empresas de HFT não correm qualquer risco direcional. E quando se trata de negociação no mercado de ações, os participantes realmente não negociam ações, o que eles realmente negociam é risco.

Sem risco

Um vendedor de uma ação quer se livrar do risco de possuir o papel porque ele acha que este pode diminuir de valor. O comprador, por outro lado, quer a exposição ao risco porque ele também quer o possível ganho associado a esse risco. Operadores de alta-frequência não querem nada disso e, portanto, não fornecem qualquer benefício econômico à negociação.

Isso fica ainda pior quando as estratégias de HFT passam a frente das grandes ordens institucionais, porque eles as veem antes de qualquer outra pessoa. Na prática, isso significa que o algoritmo de HFT vê um investidor de verdade – alguém que quer comprar ou vender um ativo de risco – colocar uma ordem de grande risco.

Como o algoritmo vê a ordem mais cedo do que todos os outros, ele pode executar a ordem primeiro (por exemplo, comprar as ações que o investidor queria comprar) e então repassar as ações para o investidor a um preço mais elevado.

Porque o programa de HFT já sabe a ordem e o preço que o investidor está disposto a comprar ou vender, ele opera sem assumir qualquer risco e, portanto, não acrescenta nada de valor econômico.

Como é que esta estratégia de fazer dinheiro sem risco funciona na prática? Em seu prospecto de IPO, a Virtu disse que gerou lucros comerciais em 1.237 de 1.238 dias de negociação no período que antecedeu à apresentação de IPO.

Este registro de quase 100% não tem nada a ver com a tomada de risco empreendedorial. É o clássico comportamento rentista que não oferece nada em troca pelo lucro que está gerando para seus investidores.