Negação de oficial chinês sobre a colheita forçada de órgãos sugere culpabilidade

10/06/2013 16:43 Atualizado: 20/04/2014 21:09
A tentativa de Huang Jiefu, chefe do Comitê de Transplante de Órgãos na China, de responder a controvérsia sobre uma honra concedida pela Universidade de Sydney revelou que sua conduta passada violou o código de ética da universidade, segundo a organização ‘Médicos contra a Colheita Forçado de Órgãos’ (Raveendran/AFP/Getty Images)

Recentemente, o homem encarregado de reformar o abusivo sistema de transplante de órgãos da China participou em duas tentativas para justificar dados discrepantes e os esforços da reforma, mas ambas as tentativas somente pioraram as coisas.

Huang Jiefu foi o vice-ministro da saúde da China e agora é o chefe do Comitê de Transplante de Órgãos (CTO), um órgão criado para fiscalizar o que está sendo chamado de novo sistema de transplante, destinado a afastar-se da dependência de prisioneiros executados (no corredor da morte, religioso, etc., mas isso é outra questão).

Numa tentativa de limpar seu nome sobre uma controvérsia recente associada a um cargo de professor honoris concedido pela Universidade de Sydney, Huang Jiefu realizou uma conferência de imprensa em Pequim em meados de maio. Um oficial chinês dirigir-se privadamente à imprensa estrangeira é extremamente raro.

Huang Jiefu é importante porque tem sido elogiado por médicos ocidentais e instituições médicas pelo que consideram como seus esforços em afastar a China do uso de prisioneiros executados como fontes de órgãos para transplante.

Mas, durante o evento de imprensa, ele admitiu ter retirado e transplantado órgãos de prisioneiros executados – um ato que viola uma série de códigos de ética médica internacional e certamente os da Universidade de Sydney, que lhe conferiu o cargo de professor honorário. Ele também defendeu o uso de prisioneiros por seus órgãos, apesar dessa violação ética ter sido o motivo da criação do novo sistema pelo qual ele foi parabenizado.

Isso já era suspeito, com base em artigos da imprensa oficial chinesa, que Huang Jiefu teria realizado transplantes com prisioneiros executados. Mas a admissão direta foi surpreendente e prejudicial, segundo os Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos (DAFOH), um grupo de defesa da saúde baseado em Washington, que argumentou contra a condecoração de Huang Jiefu.

“A prática de transplante de Huang Jiefu conflita com o código de conduta da universidade”, disseram os DAFOH, num comunicado em seu website referindo-se à polêmica envolvendo a Universidade de Sydney. “Huang Jiefu [disse] que o mundo precisa ser compreensivo e dar à China uma chance. O pedido distorcido por ‘uma chance’ é como um tapa na cara das dezenas de milhares de vidas inocentes que não tiveram a menor chance e foram mortas por seus órgãos.”

Mais recentemente, um website de propaganda chinesa foi anfitrião de mais observações destinadas a aplacar os críticos, mas isso apenas propiciou uma análise mais aprofundada.

Na entrevista, Huang Jiefu disse: “Nosso país tem uma lei muito rigorosa; órgãos doados de condenados à morte devem ter a assinatura do preso e da família. Digo isso com muita responsabilidade; cada caso tem essas assinaturas e não contrariamos os desejos dos indivíduos envolvidos. É nestas circunstâncias que as coisas são feitas.”

Na superfície, isso soa como uma posição conveniente a um oficial da saúde chinês e indicaria que todas as operações de transplantes foram realizadas com o consentimento dos doadores, que se coaduna com o padrão internacional.

Mas de acordo com David Matas, um pesquisador da colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong na China, a alegação, se for verdade, seria problemática para o regime chinês, pois deixaria muitas outras questões pendentes de explicação.

Para entender por que é necessário regressar alguns anos. Até novembro de 2006, a posição oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) foi de que nenhum órgão transplantado vinha de prisioneiros no corredor da morte. O regime mudou essa posição quando Huang Jiefu admitiu à mídia estatal chinesa que “a maioria dos órgãos de cadáveres são de prisioneiros executados”.

Essa admissão ocorreu em meio a evidências de que praticantes do Falun Gong foram mortos por seus órgãos e que eram a principal fonte de transplantes de órgãos na China. Muitos pensaram que isso era uma manobra tática para afastar dos holofotes a questão do Falun Gong.

De fato, ninguém sabe exatamente quantos prisioneiros são executados na China e o PCC considera as estatísticas um segredo de Estado.

No entanto, especialistas apontam para a imensa desproporção entre o número de prisioneiros executados – há limites mínimos e máximos com os quais os pesquisadores trabalham – e o número de transplantes realizados na China durante determinado período. De 2000 a 2005, segundo o advogado internacional David Matas e seu colega David Kilgour, um ex-parlamentar canadense e promotor da coroa, esse número situa-se em 41.500. E a maioria dos que preencheriam a desproporção de violações seria praticantes do Falun Gong, uma disciplina espiritual que é perseguida na China.

Ao dizer agora que todo transplante de prisioneiros executados veio com sua assinatura de consentimento e da família, Huang Jiefu apenas reduziu o número de órgãos que viriam de prisioneiros executados: os números nunca chegariam a 100% dos prisioneiros executados ou mesmo a 50% deles devido às altas taxas de doenças sanguíneas entre detentos, que tornam seus órgãos inadequados para transplante.

Como se para se certificar de que todas as brechas foram tapadas, na mesma entrevista que Huang Jiefu falou, Shi Bingyi, uma figura importante no sistema médico-militar chinês de transplante de órgãos, foi citado negando conhecimento sobre a colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong.

Sem fazer uma afirmação factual, Shi Bingyi disse que “absolutamente não acredita” que praticantes do Falun Gong tenham tido seus órgãos coletados enquanto vivos.

Shi Bingyi é atualmente vice-presidente do ramo de transplante de órgãos da Associação Médica Chinesa e costumava ser chefe de transplantes no Hospital 309 do Exército de Liberação Popular. Ele foi fotografado oficialmente em trajes militares com um fundo vermelho brilhante.

As observações de Shi Huang foram publicadas em 28 de maio no website Kaifeng e seriam baseadas em entrevistas dadas à Rádio China Internacional. Kaifeng é o website mais virulento em sua campanha de propaganda anti-Falun Gong e associado à Agência 610, um órgão secreto e extralegal do PCC criado em 10 de junho de 1999 para supervisionar a perseguição ao Falun Gong. A agência era o instrumento-chave usado pelo ex-líder chinês Jiang Zemin para implementar a campanha e dispunha de recursos financeiros irrestritos, das forças de segurança pública e de uma variedade de medidas ilegais e extralegais.

Várias pesquisas pelos nomes de Huang Jiefu e Shi Bingyi não revelaram qualquer vestígio das entrevistas no website da Rádio China Internacional. Nem a rádio ou Kaifeng responderam a e-mails a respeito.

Ethan Gutmann, um pesquisador da colheita de órgãos de prisioneiros da consciência na China, acredita que as observações de Shi Bingyi fazem parte de uma tentativa de antecipar a atenção da mídia ocidental sobre a questão da colheita de órgãos do Falun Gong.

“Eles querem antecipar e estrangular a questão”, disse ele numa entrevista por telefone de Londres. Gutmann afirmou que um “ponto de virada” estaria amadurecendo gradualmente na mídia sobre a colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong e que as observações das autoridades chinesas foram feitas em preparação. “Agora, quando forem questionados, eles poderão dizer: ‘Oh, isso é um problema antigo, nós já negamos isso.’”

Mas Gutmann comentou que, independente da negação, “a questão não foi resolvida”.

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