NASA se opõe a cooperação com a China

08/10/2013 13:54 Atualizado: 08/10/2013 13:54
Um técnico do Ball Aerospace observa a sonda Kepler da NASA num evento midiático na instalação Astrotech Space Operations em Titusville, Flórida, EUA. A próxima conferência sobre o Telescópio Espacial Kepler tem criado controvérsias, devido à política do governo dos EUA de excluir nacionais chineses (NASA/Troy Cryder)
Um técnico do Ball Aerospace observa a sonda Kepler da NASA num evento midiático na instalação Astrotech Space Operations em Titusville, Flórida, EUA. A próxima conferência sobre o Telescópio Espacial Kepler tem criado controvérsias, devido à política do governo dos EUA de excluir nacionais chineses (NASA/Troy Cryder)

Uma conferência da NASA sobre tecnologia telescópica foi declarada fora dos limites dos cidadãos chineses, enquanto a agência espacial reafirma a política dos EUA de não cooperar com a militarização do espaço promovida pela República Popular da China (RPC).

A conferência de 4-8 de novembro sobre o programa do telescópio espacial Kepler da NASA é considerada o principal evento do ano para os acadêmicos especializados na busca por planetas fora do sistema solar e a postura da agência tem gerado controvérsia. O The Guardian, um jornal do Reino Unido, informou que vários pesquisadores estão boicotando a conferência, devido à política da NASA de excluir os cidadãos chineses.

A NASA obedece à lei dos EUA, linguagem que foi inserida pela primeira vez no projeto de lei, que financiou a agência em abril de 2011, do deputado Frank Wolf, presidente da Subcomissão para Dotações da Câmara de Comércio, Justiça e Ciência. Ela impede que a NASA e o Departamento de Política Científica e Tecnológica da Casa Branca usem verbas federais para a diplomacia com a China.

“Acho que Wolf fez a coisa certa, mas o governo chinês tirará proveito da ingenuidade dos acadêmicos americanos e jogará com a aversão natural por ações excludentes”, disse Greg Autry, autor de “Death by China” (“Morte pela China”), numa entrevista por e-mail. “A ironia fora de tudo isso é que tudo na China é bloqueado estritamente ao acesso dos americanos – ou mesmo da maioria dos chineses”, continuou ele. “Tudo na China diz respeito a restringir a liberdade das pessoas de participar.”

O regulamento foi renovado em março, mas houve reação semelhante no passado. Em maio de 2011, dois jornalistas da Xinhua foram afastados de um lançamento no Centro Espacial Kennedy na Flórida. A Xinhua, um jornal estatal operado pelo Partido Comunista Chinês (PCC), publicou um artigo acusando Wolf de opor-se a cooperação entre os Estados Unidos e a China. Também em 2011, a gabinete de ciência da Casa Branca teve seu financiamento reduzido em 32% após contrariar o Congresso e ignorar o regulamento.

Wolf defendeu sua posição num depoimento à Comissão EUA-China em maio de 2011. Ele observou que os programas espaciais da China são liderados pelo Exército da Liberação Popular (ELP) e comentou: “Os EUA não tem nada a cooperar com o ELP para ajudar a desenvolver seu programa espacial.”

A preocupação com as intenções da tecnologia espacial da China foi provocada por um incidente em janeiro de 2007, quando, sem aviso, o PCC destruiu um de seus próprios satélites com uma arma terrestre antissatélite e espalhou cerca de 2.500 pedaços de detritos na órbita do planeta.

Um informe do Departamento de Estado vazado pelo WikiLeaks detalhou a resposta dos EUA ao incidente, incluindo tentativas de dialogar com a China. O texto afirma que a China não deu “nenhuma resposta sensata” a qualquer nação em relação ao teste de armas.

Em seguida, o informe afirma que os Estados Unidos suspenderam a cooperação com a China em programas espaciais, observando: “Uma das principais razões para esta situação é a contínua falta de transparência da RPC em relação a toda a gama de atividades espaciais da China.”

A China desenvolveu e testou várias outras armas antissatélite desde então. O teste mais recente, relatado em 2 de outubro pelo Washington Free Beacon, ocorreu no final de setembro, quando a China testou uma nova arma secreta antissatélite usando três satélites equipados com braços mecânicos para capturar outros satélites.

“Estrategistas do ELP consideram a possibilidade de utilizar o espaço e negar o acesso ao espaço a adversários como fundamental para viabilizar a guerra informatizada moderna”, afirmou o Pentágono numa revisão dos desenvolvimentos militares da China em 2013.

O relatório observa: “Publicamente, a China tenta dissipar qualquer ceticismo sobre suas intenções militares para o espaço”, mas a doutrina interna diz o contrário. Ele cita um analista do ELP dizendo: “O espaço é o ponto de comando para o campo de batalha da informação” e “destruir ou capturar satélites e outros sensores… privará o adversário da iniciativa no campo de batalha e [dificultará] que eles empreguem plenamente suas armas guiadas de precisão.”

Ele também cita documentos do ELP que “enfatizam a necessidade de ‘destruir, danificar e interferir com o reconhecimento do inimigo… e suas comunicações de satélites’”.

Autry disse: “A maioria dos ocidentais que está envolvido na investigação espacial tem uma visão de um futuro aberto e pacífico para toda a humanidade no espaço, liderado por pessoas heroicas e sábias – tipo ‘Star Trek’.”

“Quem no mundo realmente gostaria de ver o legado da humanidade no universo representado por um regime totalitário e brutal?”, questionou ele. “Devemos dar as boas-vindas a China no espaço quando ela tiver um governo civilizado e digno de representar os seres humanos. Mas essa não é a realidade agora.”