Numa aldeia na província de Hebei – a província que cerca a capital chinesa de Pequim – moradores relataram que sua água de poço tem apresentado cor vermelha por mais de uma década e suspeitam que a cor anormal deve-se ao escoamento de uma fábrica local de produtos químicos. Vários anos de queixas às autoridades não produziram resultados notáveis e os moradores não tiveram outra escolha a não ser usar água engarrafada para beber.
Questionado sobre a situação na vila Xiaozhuzhuang, Deng Lianjun, diretor do Departamento de Proteção Ambiental do condado de Cangxian, província de Hebei, observou que feijões vermelhos cozidos podem mudar a cor da água para vermelho. De acordo com Deng Lianjun, a cor vermelha não é necessariamente uma indicação de qualidade inferior.
Os moradores então começaram a chamar Deng Lianjun de “Diretor Feijão Vermelho” e ele recentemente deixou o cargo em meio a críticas. Com sua partida, histórias de moradores locais que sofrem de câncer devido à poluição começaram a vir à tona.
O Diário Metropolitano de Yanzhao, um jornal da província de Hebei, relatou em 7 de abril que os resultados de testes de um poço de água vermelha numa granja na vila Xiaozhuzhuang mostraram que o teor de anilina, um produto químico tóxico, excedeu em 73 vezes o limite permitido em água para consumo.
Em 9 de abril, a mídia China News informou que, desde 1996, na vila Xiaozhuzhuang de 800 habitantes, 24 pessoas morreram de câncer e seis moradores atualmente convivem com a doença.
Embora os moradores tenham feito várias reclamações ao Ministério de Proteção Ambiental do Governo Central, a resposta tem sido sempre a mesma: “os resultados dos testes da água estão dentro dos parâmetros normais”.
“Isso acorre nas províncias de Anhui, Henan, Shandong, Shaanxi e Shanxi”, disse Hu Jia, um ativista de direitos humanos e ambientais de longa data, à Rádio Som da Esperança (SOH).
“Às vezes, há várias instâncias numa província. Eu fui até a linha de frente, por exemplo, nas áreas do entorno do rio Huaihe [um grande rio no leste da China]”, disse Hu Jia. “Tenho visto várias pessoas com câncer de esôfago. Há verdadeiras ‘aldeias de câncer’. Uma pequena fábrica pode envenenar um rio inteiro, sem falar na poluição de várias grandes empresas estatais.”
De acordo com o Relatório Anual de 2012, publicado em janeiro deste ano pela Secretaria Nacional Central do Câncer, o crescimento do câncer na China é alarmante, com uma pessoa diagnosticada a cada seis minutos e 8.550 pessoas diagnosticadas a cada dia.
A taxa de morbidade nacional de câncer é alta, com cerca de 3,5 milhões de novos casos e 2,5 milhões de mortes por câncer a cada ano.
‘Aldeias de câncer’
Em fevereiro, o Ministério de Proteção Ambiental da China publicou seu 12º Plano Quinquenal para a Prevenção e Controle de Riscos Ambientais de Produtos Químicos, que reconhece a existência das chamadas ‘aldeias de câncer’ – lugares com taxas altíssimas de câncer associadas à poluição por produtos químicos tóxicos.
Um artigo do New Epoch Weekly de 2011, intitulado “Aldeias de câncer desconhecidas para o mundo exterior”, relatou o testemunho da Sra. Tang Miwan, da Malásia, que se juntou a uma equipa médica enviada para ajudar os moradores.
O artigo revelava a localização de 30 aldeias de câncer na província de Henan, na China central. Nenhum estrangeiro tem permissão para visitar essas aldeias; barreiras foram formadas nas entradas de várias delas e os visitantes são instruídos a não fazerem perguntas ou fotografarem.
De acordo com o artigo, resíduos químicos eram rotineiramente despejados nos rios locais e os moradores que consumiram essa água seriamente poluída tinham alto risco de serem diagnosticados com câncer. Nada crescia na terra infértil perto dos rios e os moradores não podiam cultivar qualquer terra irrigada com a água contaminada. Os dedos de uma pessoa ulceraram após ela lavar as mãos com a água.
Desenvolvimento a todo custo
“O dano ao meio ambiente e ao ecossistema tem sido o custo do desenvolvimento na China”, diz Gong Shengli, pesquisador de notícias pela internet de Pequim, à SOH. Um relatório de 2007 do Banco Mundial revela que 750 mil pessoas morrem na China a cada ano devido à poluição do ar.
“A poluição do solo é muito mais grave do que a poluição do ar, assim, o resultado é ainda mais alarmante. Poluição grave afeta 40% do abastecimento de água do país e 55% da água subterrânea em 200 cidades está poluída. Isso significa que cerca de 300 milhões de chineses não têm acesso à água potável”, disse Gong Shengli.
De acordo com um artigo de 2008 do Jornal de Negócios da China, a Indústria Química Julong poluiu a vila Dongjin na província de Jiangsu, resultando na morte de 100 aldeões num período de 5 anos (2001-2006) por cânceres de esôfago e pulmão.
Um artigo de 2006 no Changjiang Times informou que o córrego adjacente à vila Diwan na província de Hubei foi gravemente poluído, causando a morte por câncer de mais de 100 moradores.
“Os oficiais do Partido Comunista Chinês em todos os níveis não pensam em nada exceto interesses e ganhos pessoais, até mesmo os oficiais de agências ambientais. As avaliações de desempenho dos oficiais estão intimamente associadas à taxa de crescimento do produto interno bruto [PIB], desse modo, eles estão preocupados apenas com as receitas fiscais ou com o crescimento do PIB e não se importam com as taxas de doenças ocupacionais ou a perda na produção de alimentos”, disse Hu Jia à SOH.
“Conquistas políticas e cargos oficiais se tornaram a prioridade dos oficiais. Como não há independência do Judiciário na China, como as pessoas podem esperar supervisão [ética] da segurança da água, da eliminação de resíduos químicos tóxicos e do meio ambiente? Os problemas ambientais agora se tornaram o ‘câncer’ da China, que é incurável quando intimamente associado [as prioridades nacionais]”, disse Hu Jia.
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