Tomemos como exemplo o Titanic, um bem para ser exibido e que segue cativando o público de todo o mundo, já tendo atraído mais de 20 milhões de visitantes
Todos nós escutamos sobre filmes que tiveram grande êxito de bilheteria ou de apresentações de teatro com casa lotada; porém usualmente não nos referimos ao êxito das vendas feitas por exibições nos museus, no entanto, agora já poderemos fazê-lo. As estantes empoeiradas e o piso de madeira rangendo dos museus do século XX se tornaram coisas do passado.
As exibições relevantes e bem consideradas agora se encontram nos museus junto a bens culturais do passado, apresentadas engenhosamente com interações de multimídias, telas digitais e inclusive apresentações ao vivo.
Um exemplo é o Titanic que é um bem de exibição que segue cativando o público de todo o mundo, já tendo atraído mais de 20 milhões de visitantes.
Andrew Sayers, diretor do Museu Nacional da Austrália com sede em Camberra, diz que os museus tiveram de reconsiderar seus métodos para despertar o interesse do público, produzindo exibições relevantes e isto é um processo contínuo e estratificado.
Identidade nacional
Em termos de um rol nacional, as pessoas esperam que um museu seja o reflexo da sua identidade nacional. No entanto, este é um processo complexo, disse ele, citando a discussão havida por sugestão do presidente da França, Nicholas Sarkozy, de que um novo museu da história da França fosse estabelecido no edifício dos Arquivos Nacionais em Paris, o qual “reforçaria a identidade nacional”.
Os críticos das políticas de imigração do governo de Sarkozy imediatamente expressaram sua preocupação de que isto conduziria ainda mais a um sentimento de anti-imigração.
“Muitos historiadores e museólogos franceses têm uma sensação incômoda de que o museu tentará consolidar uma ideia de insularidade do que significa ser francês”, disse Sayers.
Se bem que a hipótese da identidade não pode se basear numa identidade dominante, Sayers disse que todos os membros de um país estão relacionados de maneira indelével por algo em comum, que é o lugar.
“Partindo deste ponto, podemos passar a ideia da cidadania e a partir daí as responsabilidades interpretativas do museu”, afirma Sayers.
Um poder brando
Para interpretar as responsabilidades dos museus, não apenas implica pensar a nível local, mas sim cada vez mais a um nível internacional, disse ele.
Sayers assinalou, no Instituto Lowy de Sidney, por exemplo, o crescente “papel do poder brando dos embaixadores” dos museus. Por exemplo, o governo britânico possui uma estratégia clara e definida dos intercâmbios culturais, como uma forma de fomentar as relações com o país, explicou.
Ele citou Jeremy Hunt, Secretário de Estado do Reino Unido que numa carta recente ao Museu Britânico enfatizou o quão importante têm sido os intercâmbios culturais do museu com o Escritório das Relações Exteriores, oferecendo direções a respeito dos países com os quais, especificamente, se ia negociar sobre um particular.
O diretor do museu se apressou em acrescentar que as instituições cultuais não devem ser vistas como um porta-voz na propaganda do governo.
“Este é um ponto importante, as instituições culturais são orgulhosamente independentes quando se trata do conteúdo”, disse à audiência no Instituto Lowy.
Para melhor ilustrar isto, fez a leitura, em revisão, dos comentários feitos pelos meios de comunicação sobre uma exposição indígena australiana denominada “Guerreiros da Cultura”, que estava em turnê pelos EUA.
“Mesmo que a exibição atue como o mais civil dos diplomatas, ela também subverte as expectativas, e mais importante, sua própria existência reconhece a história de racismo encomendado pelo estado”, escreveu o crítico no The Washington Post.
Sayers disse que a mostra foi considerada como “um êxito para os interesses australianos nos EUA, precisamente porque foi enérgica, crítica e política, e não pelo motivo da própria apresentação.”
Os museus também estão muito conscientes de seu papel no sentido de reduzir as brechas e criar suas próprias iniciativas, disse, indicando o empréstimo feito pelo Museu Britânico em 2011 do antigo cilindro de escrita cuneiforme da Babilônia, o “Cilindro de Ciro”, ao Museu Nacional do Irã.
Sayers citou Karen Armstrong, membro do Museu Britânico, que disse: “Este intercâmbio cultural pode ser uma pequena contribuição, mas é uma oportuna contribuição em direção à criação de melhores relações entre o ocidente e o Irã.”
A repatriação de bens culturais
Sayers disse que “os museus têm se beneficiado com a revolução digital, pois já estão bem conectados. De fato, os museus coloniais viram-se, deste modo, como parte de uma comunidade de intercâmbio científico e material estabelecida mundialmente.”
O Museu Britânico, do Louvre e o Smithsonian, estabelecido em Washington, foram reconhecidos por suas coleções internacionais e considerados como “museus mundiais”.
Sem embargo, os museus mundiais têm gerado um debate acerca da propriedade nacional ou internacional dos artefatos, disse, referindo-se ao desafio atual que enfrenta o Museu Britânico frente às autoridades gregas no que diz respeito aos Mármores de Elgin.
Em princípios de 1800, os fragmentos de frisos e outras peças foram retirados do Partenon e de outros edifícios da Acrópole de Atenas pelo então embaixador britânico junto ao Império Otomano, Thomas Bruce, o sétimo Conde de Elgin.
Enquanto o enfrentamento entre a Inglaterra e a Grécia prossegue, a repatriação dos bens culturais acabou se convertendo numa parte importante da função de um museu. Referiu-se ao Museu Nacional da Austrália que devolveu os restos de mais de 1.000 pessoas para a comunidade aborígene e dos insulares do Estreito de Torres e, também, 360 objetos secretos e sagrados.
“É uma via dupla de intercâmbio internacional; o Museu Nacional ajuda na repatriação dos restos aos museus interessados no estrangeiro (o que muitas vezes ocorre em silêncio e sem publicidade), e material culturalmente sensível tem sido repatriado a partir das coleções australianas, por exemplo, aos Maoris e comunidades americanas nativas”, explicou Sayers.
Enquanto os diretores do museu buscam formas de serem úteis e de atrair o público, ele realçou um fator importante no aumento da importância dos museus no mundo moderno.
Ele assinalou o elemento representativo humano na exposição australiana os “Guerreiros da Cultura”, na qual foi incluída oportunidade para falar com os artistas além de se presenciar as atuações de música, canto e dança.
“Este elemento humano, geralmente passado por alto se vemos os museus apenas como uma coleção de objetos, é uma parte vital do nosso papel no futuro e é onde os efeitos mais duradouros produzir-se-ão”, disse ele.