Na semana passada, Hilary Clinton, ex-secretária de Estado dos EUA, comparou a invasão da Crimeia pela Rússia à ocupação dos Sudetos (Tchecoslováquia ocidental) por Hitler em 1938, no período que antecedeu a II Guerra Mundial.
Embora deixando claro que não estava comparando Vladimir Putin a Adolf Hitler, Clinton também sugeriu que havia “paralelos” históricos que todos devemos ter em mente. A mensagem não tão sutil era: “Aqueles que esquecem a sua história estão fadados a repeti-la.”
A ocupação nazista da região dos Sudetos representou o culminar de um período de intimidação agressiva por parte de Berlim. Antes desta invasão sem sangue, o exército alemão tinha invadido a Áustria (onde, como a Rússia hoje, realizou um plebiscito falso sobre a unificação), e instituiu um regime de intimidação com um aumento em massa de tropas na fronteira Checa.
Hitler, como Putin, entendeu que a arma mais importante em seu arsenal de intimidação era o desejo das potências ocidentais de evitar o conflito armado. Hitler conhecia seu adversário e usou esta brecha de forma muito eficaz. A humilhação do primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain na Conferência de Munique, onde ele (e o Ocidente) reconheceu mais uma vez às demandas territoriais de Hitler preparou o palco para o conflito global.
Mas a região dos Sudetos foi o jogo final da guerra de Hitler por intimidação. O paralelo histórico mais apropriado para Putin hoje é a ocupação temerária da Alemanha nazista das fronteiras germânicas da Renânia – a fronteira alemã com a França – em 1936.
A Renânia era um território concedido pela Alemanha à França após a I Grande Guerra, em 1919. Como a Rússia em 2014, a Alemanha em 1936 não estava no auge de seu poder militar. Então, como hoje, o governo do país invadido – no caso de Hitler, a França – não estava preparado para a agressão e problematicamente dividido. Em outra ironia do destino, a Alemanha em 1936 também foi palco dos Jogos Olímpicos.
A ocupação da Renânia foi uma grande aposta por parte de Hitler. O general Alfred Jodl, chefe da equipe de operações do Alto Comando das Forças Armadas durante a guerra, admitiu num depoimento do Julgamento de Nuremberg: “Se os franceses tivessem agido eles poderiam nos destruir.” Eles também poderiam ter poupado o mundo dos horrores da II Guerra Mundial. Infelizmente, a vitória fácil na Renânia alimentou o vício de Hitler pelo poder, e encorajou-o para todas as suas futuras aventuras.
Lições do século XX
O que o Ocidente deveria fazer diante de mais uma grave violação da paz na Europa?
Primeiro de tudo, é preciso admitir que muitos dos argumentos e precedentes que Vladimir Putin está usando para justificar sua invasão militar foram retirados de argumentos ocidentais a caminho de suas próprias invasões ilegais de Granada, Iraque e Afeganistão. O Ocidente perdeu a superioridade moral, e depois das mentiras descaradas em 2003 – lembra-se das armas de destruição em massa? –, só pode culpar a si mesmo pela perda de integridade do direito internacional.
No entanto, algo precisa ser feito. A maior lição aprendida desde 1930 foi a seguinte: palavras nada significam no Grande Jogo do Poder.
Após a invasão da Renânia, Hitler investiu numa ofensiva de propaganda: “Nós nos comprometemos, agora mais do que nunca, de que lutaremos por um entendimento entre os povos europeus, especialmente com nossos vizinhos ocidentais. A Alemanha… nunca violará a paz.”
E daí por diante, centímetro por centímetro, milha por milha, até que o Ocidente se viu envolvido no turbilhão da guerra. É evidente que o Ocidente deve se preparar para qualquer eventualidade e começar a julgar Putin por suas próprias ações.
A questão é: que medidas devem ser tomadas?
Por hora, a Rússia teve um momento fácil. A invasão e ocupação ilegal de seu vizinho e aliado histórico tem sido chocante, mas indolor e animará Putin. Claramente, um preço tem de ser extraído por esta violação, enquanto se mostra a cenoura da paz, prosperidade e segurança compartilhada.
A maior perda sofrida com o colapso da antiga União Soviética nos anos 90 foi a perda de um “Mundo Livre” identificável. Essa ideia – quem ele é e o que representa – precisa ser rapidamente reconstituída. O mundo livre tem certos valores que precisam ser declarados e honrados. Além disso, o Mundo Livre tem de deixar perfeitamente claro que está preparado para se defender de inimigos, estrangeiros ou nacionais.
Tendo identificado o Mundo Livre e esclarecido seus privilégios, o que fazer com a Rússia se torna mais claro. Não é uma questão de cegamente punir a Rússia por suas más ações, é um processo de redução de privilégios. O bom comportamento é recompensado com o acesso aos mercados ocidentais de consumo, capital e segurança. Mas, no caso de agressão, todos estes privilégios desaparecem. A Rússia será isolada.
Nada disso funciona na ausência de firmeza e consciência, e da vontade de responder ao fogo com fogo, mas antes que as bombas comecem a voar, sejamos claros sobre o que e quem estamos defendendo.
Robert McGarvey é um historiador econômico e cofundador do Genuine Wealth Institute, uma organização de pesquisa sediada em Alberta, Canadá, dedicada a ajudar empresas, comunidades e nações a construírem comunidades de bem-estar. Ele é autor de “The Creative Revolution”, um guia histórico para o futuro do capitalismo. Copyright TroyMedia.com