Os líderes militares da China são conhecidos por suas tramas bizarras. Devido à natureza de suas propostas estranhas, que são frequentemente acompanhadas de tons altamente agressivos, muitos especialistas sobre a China avaliam suas alegações como pouco mais do que propaganda interna para incitar e manobrar o povo chinês.
De acordo com Michael Pillsbury, assessor de longa data do Pentágono, a incapacidade de reconhecer as ameaças agressivas da China criou um grande problema em que o público e a comunidade de defesa muito frequentemente só reconhecem as estratégias da China após elas acontecerem.
A comunidade de especialistas em questões de segurança e da China, disse ele, precisa de uma nova abordagem em sua análise sobre a China. Assim, Pillsbury e analistas do Instituto Hudson estão construindo uma nova abordagem na análise da natureza da estratégia da China em relação aos Estados Unidos.
Sua abordagem é a primeira a olhar 30 anos ou mais no passado e em seguida olhar para frente 30 anos. Ao fazer isso, Pillsbury espera que os Estados Unidos possam obter uma imagem mais clara das estratégias e motivações da China, e prever melhor o que ela fará em seguida.
Um dos primeiros problemas, disse Pillsbury numa entrevista por telefone, é que “nós não estamos levando a sério muitos escritos e discursos dos falcões chineses”.
Ele observou que o regime chinês de fato segue adiante com as estratégias propostas por seus líderes militares, por mais estranho que possam parecer. Exemplos disso podem ser vistos nos desenvolvimentos recentes no Mar do Sul da China.
Em março, quando a China participou da busca pelo avião 370 da Companhia Aérea da Malásia, o almirante chinês Yin Zhou do Exército da Libertação Popular disse que a China deveria construir pistas de pouso, ancoradouros e portos no Mar do Sul da China no caso de os militares chineses precisarem ajudar em esforços de resgate no futuro.
As declarações de Yin foram largamente ignoradas por especialistas em China na época, mas logo depois a China começou a construir pistas de pouso, ancoradouros, portos e ilhas artificiais no Mar do Sul da China e notícias de suas atividades agora podem ser encontradas na maioria das grandes agências de notícia.
Em seguida, houve o general chinês Zhang Zhaozhong, que propôs em maio de 2013 o que ele chamou de “estratégia de repolho” para capturar territórios em disputa no Mar do Sul da China. Zhang disse que isso funcionava enviando-se navios de pesca para as águas disputadas, em seguida navios de vigilância marinha e finalmente navios de guerra.
Apenas alguns meses depois, o mundo viu a estratégia de Zhang tomar forma. O regime chinês começou a equipar frotas de navios de pesca com sistemas militares de navegação por satélite e agora a maioria das principais mídias reportou o uso de barcos de pesca chineses no que parecem ser incursões altamente coordenadas em águas disputadas nos Mares do Leste e do Sul da China.
“A estratégia de repolho” da China é agora bem conhecida entre os especialistas de defesa. O problema, segundo Pillsbury, é que muitos especialistas em China estão reconhecendo as estratégias da China apenas depois que elas se desdobram – e esta tendência já se arrasta por décadas.
Os conceitos de estratégia militar são diferentes na China. Pillsbury disse que a própria palavra “estratégia” em chinês tem o caractere “guerra” como componente. E áreas da sociedade que não são reconhecidas pelos Estados Unidos como terreno para guerra estão sendo usadas pelo regime chinês em suas estratégias militares contra os Estados Unidos.
A China está desafiando os conceitos dos EUA com seus ciberataques, guerra política e roubo econômico. No entanto, mesmo o uso da guerra não convencional e suas intenções por trás dessas estratégias têm sido claramente indicados por líderes militares chineses.
Pillsbury disse que um dos textos mais claros sobre o uso da guerra não convencional da China é um livro de 1999 de dois coronéis chineses – um deles major-general atualmente – chamado “Unrestricted Warfare” (“Guerra Irrestrita”).
“A obra foi amplamente rejeitada na época como de dois coronéis chineses loucos”, disse Pillsbury. Ele acrescentou que o livro não foi traduzido para o inglês por muitos anos e que, na comunidade de especialistas em China, “quase ninguém leu o livro”.
Num recente artigo de opinião no Wall Street Journal, Pillsbury escreveu: “Como é que os planejadores políticos ocidentais e acadêmicos repetidamente interpretam a China tão erradamente?”
“Os especialistas nas administrações Truman e Eisenhower acreditavam que ela não entraria na Guerra da Coreia. Kennedy e Johnson acreditaram que a China ficaria de fora do Vietnã”, escreveu ele, e observou vários outros erros de cálculo sobre a China desde a inesperada guerra de fronteira sino-soviética de 1969 até a falta de previsão do massacre da Praça da Paz Celestial em 1989.
Como as coisas estão agora, escreveu ele, “o Reino do Meio – potencialmente o adversário mais formidável que já enfrentamos – permanece um grande mistério”. Pillsbury disse esperar que isso mude.