Multidão chinesa responde com raiva e violência à repressão na China

21/04/2014 11:07 Atualizado: 21/04/2014 11:07

Cerca de mil chineses indignados sitiaram um grupo de funcionários da gestão urbana – ou oficiais chengguan, um tipo de guarda municipal – numa cidade no Leste da China neste sábado, esmagando sua viatura com tijolos e pedras, espancando-os até a inconsciência e então virando a ambulância que lhes prestava atendimento de emergência.

Foi uma reversão dramática e violenta da ordem normal dos acontecimentos, quando as notórias autoridades urbanas, chamadas “chengguan” em chinês, entram em conflito com vendedores ambulantes e transeuntes. Embora seu trabalho oficial seja impor a ordem nas ruas, os chengguan conquistaram uma reputação de brutalidade arbitrária em toda a China ao longo dos anos.

Em 19 de abril, um grupo de chengguan do município de Cangnan, parte da cidade de Wenzhou, província de Zhejiang, foi visto atormentando um vendedor de rua. Um transeunte de 36 anos, o sr. Huang, começou a fotografar o evento com seu telefone celular. Um dos oficiais lhe ordenou que apagasse as imagens, mas ele se recusou, resultando num turbilhão de chutes, socos e ameaças por parte dos chengguan.

A multidão viu que o sr. Huang estava sendo atacado e decidiu intervir. Boatos online se proliferaram rapidamente que “alguém foi espancado até a morte pelos chengguan”, o que intensificou a ira do público e atraiu mais pessoas ao local, segundo o jornal chinês Diário Metropolitano do Sul.

Quando os chengguan tentaram fugir da multidão em sua van, eles foram cercados. Espectadores irritados esvaziaram os pneus do veículo, enquanto outros quebravam as janelas e portas com tijolos, pedras e pedaços de madeira. Os homens foram arrastados para fora da van e espancados pela multidão até desmaiarem. As fotografias postadas por chineses em websites de mídia social mostravam um chengguan caído e inconsciente na rua numa poça de sangue, e pedras e estilhaços de vidro por toda a sua van.

Cinco chengguan foram hospitalizados, enquanto dois entraram em choque devido à perda excessiva de sangue, segundo um comunicado no website oficial do governo local de Cangnan. Uma ambulância chegou ao local para socorrer os chengguan feridos, mas foi revirada pela multidão enfurecida. A Phoenix Television, uma agência de mídia baseada em Hong Kong, criou uma imagem GIF do processo.

Mais de 100 policiais de choque foram enviados para dispersar a multidão em torno de 16h; mais de 10 espectadores foram presos em conexão com o incidente, segundo a mídia estatal Cangnan News.

O ressentimento e a raiva contra as autoridades de gestão urbana da China têm se acumulado entre o público durante anos. Relatos dos chengguan usando força excessiva para implementar os ditames locais na China são comuns e ferimentos graves e inclusive mortes ocorrem periodicamente.

Em 9 de abril deste ano, um homem de 70 anos morreu na rua após ser espancado e estrangulado por dois chengguan, segundo a mídia estatal Beijing News. O idoso era um espectador que ousou defender um vendedor de rua que discutia com os chengguan.

Em julho passado, os chengguan mataram um vendedor de melancia, atacando-o com força na cabeça com sua própria balança de metal. Isso ocorreu durante um desentendimento quando os oficiais tentavam deslocá-lo para outro local. Por fim, quatro chengguan foram condenados a 11, 6, 4 e 3 anos de prisão por “agressão intencional”. Um grande número de internautas chineses manifestou seu descontentamento com o resultado, dizendo que as punições eram muito brandas.

Muitos compararam o caso com o do vendedor ambulante Xia Junfeng, que foi executado por “homicídio doloso” em setembro passado após esfaquear mortalmente dois chengguan num confronto. Xia disse em depoimento que ele lutava pela própria vida quando os chengguan começaram a espancá-lo brutalmente.

“Essas tragédias têm ocorrido frequentemente nos últimos anos”, disse Duan Xingyan, um internauta que se identificou como um policial. “A razão fundamental é a grave falta de estado de direito em nossa sociedade.”