Tentando evitar consequências da mudança climática, empresas reorganizam redes de fornecimento na Tailândia e além
Como a estação das monções se aproxima da Tailândia, não são somente os agricultores que estão observando as nuvens rolando, os donos de fábricas e trabalhadores também. Ao contrário dos agricultores que esperam as chuvas para inundar os terrenos semeáveis, trabalhadores temem que inundações devastadoras possam acorrer e afogar as fábricas.
As cheias de 2011 inundaram 250 fábricas, deixando 200 mil pessoas desempregadas e interrompendo a cadeia de suprimentos global de produtos eletrônicos e autopeças. À medida que o governo tailandês se prepara para combater as inundações, os fabricantes estrangeiros não querem se arriscar, e estão reorganizando suas redes de suprimentos e procurando locais alternativos para a produção.
Em retrospecto, 26 das 90 províncias da Tailândia foram seriamente afetadas pelo grande volume das águas. Muitas montadoras de automóveis e fabricantes de peças para a Honda, Toyota, Isuzu, Nissan e Ford, situadas em e ao redor das províncias de Ayutthaya e Pathum Thani, sofreram muito com as destrutivas enchentes, com graves efeitos sobre os mercados automotivos do mundo.
A produção automotiva na Tailândia foi certamente afetada em curto prazo devido à escassez de autopeças como resultado das inundações, sem efeito aparente a médio ou longo prazo no país como um centro de produção automotiva na região.
Quase 10% do total de autopeças para a produção local vêm de regiões afetadas pela enchente no país. Toyota, Auto Alliance Tailândia, Mitsubishi Motors, Nissan todas dependem de fabricantes de autopeças nesta região em particular. Frost & Sullivan, ID, relata que alguns dos fatores susceptíveis de serem considerados pelos fabricantes de equipamentos originais no futuro incluem aumentar o estoque de autopeças e resistir ao processo de produção just-in-time.
Um novo modelo de produção implicaria explorar uma estratégia multifornecedor que envolve não apenas desenvolver fontes de peças de fornecedores diferentes, mas de regiões diferentes também, uma estratégia climática antirrisco da cadeia de fornecimento com fabricantes de equipamentos originais investindo em locais geográficos menos afetados por catástrofes naturais. Por exemplo, a Toyota anunciou recentemente um plano para construir sua segunda fábrica de produção em Karawang, Java Ocidental, Indonésia, que tem um bom histórico por ser uma área de clima seguro.
Entretanto, como parte da diversificação de suas bases de produção para não depender somente das fábricas do sudeste da Ásia, a Toyota também vai ampliar suas instalações de produção norte-americanas para fazer os carros de que necessita para a exportação.
Os fabricantes poderiam estar perdendo a confiança na Tailândia ou em qualquer outro local que luta para lidar com os desafios da mudança climática.
Discos rígidos
As inundações na Tailândia também forçaram o aumento do custo de discos rígidos tradicionais de computadores, pelo menos em curto prazo, porque os fabricantes se esforçaram para contornar as fábricas e fornecedores fechados. Os discos rígidos estavam em relativa escassez desde o fim de 2011 até 2012 adentro. Isso afetou a disponibilidade e os preços de tudo, desde laptops e computadores desktop até leitores de mídia, unidades de TV a cabo e terminais de HD.
Como os analistas têm antecipado, oferta reduzida junto com grandes despesas de capital, como resultado das inundações, fizeram os preços das unidades de disco rígido subirem, reverberando em toda a indústria. Os fabricantes de computadores tiveram sua oferta restrita e não puderam fazer tantos sistemas quanto achavam que poderiam vender.
Assim, eles não tiveram escolha senão aumentar os preços dos computadores que poderiam fazer para cumprir as metas de receita. Por exemplo, se os limites da disponibilidade de discos rígidos significaram que um fabricante de computador só poderia fazer cerca de 85% do número de sistemas originalmente planejado.
Os preços para esses sistemas teriam de ser de 11-25% maiores para os fabricantes manterem o mesmo nível de receita e deixarem seus investidores felizes. Mas isso foi antes do custo de produção do disco rígido aumentar. Os custos dos discos rígidos já aumentaram 10%, elevando os preços para produtos de baixa margem até 20%. Embora não seja imediatamente perceptível, a faixa de preço de um notebook tem aumentado desde o ano passado, devido aos custos e a pressão de receita das restrições de suprimentos.
Embora as águas tenham recuado, isso não significa que os fabricantes de disco rígido e de componentes possam simplesmente retornar para suas fábricas, virar uma chave, e voltar ao trabalho. Enquanto algumas empresas repararam e substituíram equipamentos e processo caros, algumas instalações permaneceram desativadas. Isto significava que a escassez de disco rígido continuou depois que as águas baixaram, e os fabricantes tiveram custos significativos para voltar à produção.
Quanto ao impacto no investimento estrangeiro direto (IED), de acordo com o relatório recente do Banco Mundial, os prejuízos estimados para a base manufatureira na Tailândia são de cerca de 13 bilhões de dólares em termos de ativos destruídos e 22,75 bilhões de dólares em perda de produção. Embora em curto prazo o IED na Tailândia seja ajudado pelos esforços de reconstrução em fábricas danificadas, a confiança do investidor provavelmente vai sofrer em médio e longo prazo.
Calculando riscos
Os investidores estão propensos a rever sua presença na fabricação e ter em conta o risco de inundações e outras catástrofes naturais na Tailândia. Como resultado, as operações existentes na Tailândia podem ser diminuídas ou eliminadas completamente e novos investimentos reduzidos, especialmente se há outros destinos atraentes na região, como a Malásia e o Vietnã. Mas não se deve ignorar o fato de que a Tailândia era um atraente destino de investimento originalmente, com uma infraestrutura bem desenvolvida, uma economia de livre empresa, geralmente com políticas pró-investimento, e fortes indústrias de exportação.
Para recuperar a confiança dos investidores, a Tailândia, sob a liderança do Primeiro-Ministro Yingluck Shinawatra, propôs gastar 4,2 bilhões de dólares na reconstrução e medidas para evitar futuras inundações. Ela tem procurado tranquilizar os investidores de que a Tailândia continuaria a ser um lugar seguro para negócios, após as principais empresas japonesas, incluindo a Honda Motor e a Toyota Motor, terem previsões de lucros desfeitas despois das enchentes e fecharem fábricas na Tailândia.
Na verdade, Yingluck mesmo fez uma visita ao Japão no início de março com o objetivo principal de aumentar a confiança dos investidores na Tailândia e, em particular, mostrar planos concretos para a gestão de inundações se problemas reaparecerem.
Pode ser um pouco tarde demais para o governo de Yingluck controlar os danos. Declarando sua visita ao Japão um sucesso, Yingluck ignorou relatos de que algumas grandes empresas japonesas podem querer gastar mais para construir fábricas em países vizinhos da Tailândia, incluindo a Indonésia e o Vietnã, depois que as inundações tailandesas interromperam a produção.
Fumihiko Ike, CFO da Honda, disse que suas empresas esperavam que o governo tailandês melhorasse a infraestrutura, incluindo os sistemas de drenagem de água. No entanto, a empresa está pensando em flexibilidade no gerenciamento de fábricas em países vizinhos. A Honda reconheceu a necessidade de repensar diversificar os investimentos não só no interior da Tailândia, para evitar zonas sujeitas a inundações, mas em outros locais também.
Enquanto isso, Takahiro Sekido, chefe economista japonês do Credit Agricole CIB em Tóquio, disse, “Os executivos reconhecem o risco de concentração após as enchentes. A recente tendência de acelerar os investimentos na Tailândia esfriará apesar do fato de a Tailândia ter sido um destino tão ideal.”
Afinal, as preocupações entre os investidores estrangeiros não são apenas sobre as inundações prejudiciais da natureza, mas também as “inundações políticas”, com vários atores na política tailandesa explorando o desastre para minar adversários, assim atrasando a necessária cooperação e uma solução rápida para o problema.
Pavin Chachavalpongpun é professor-associado do Centro de Estudos do Sudeste Asiático na Universidade de Quioto. Com a permissão da YaleGlobal Online. Copyright © 2012, Centro Yale parar o Estudo da Globalização da Universidade de Yale.