Movimento Tuidang: 100 milhões de corações chineses mudados

17/04/2012 00:00 Atualizado: 17/04/2012 00:00

Participantes da marcha em Washington, DC, em julho de 2011, celebram as 100 milhões de renúncias ao Partido Comunista Chinês e suas organizações afiliadas. (Edward Dai/The Epoch Times)

Movimento de renúncia ao Partido Comunista Chinês alcança um importante marco

Quando escolas de Ensino Fundamental construídas precariamente desabaram em Wenchuan, na China, após um grande terremoto em 2008, os pais quiseram respostas. No entanto, ao invés de iniciar uma investigação ou registrar a morte dos estudantes, os agentes do Partido Comunista Chinês (PCCh) se infiltraram nos grupos de pais, acabando com os grupos, prendendo os mais inconformados, e pondo na prisão um homem que tentava ajudá-los.

Uma dinâmica similar aconteceu após o estouro do escândalo do leite envenenado em 2008. O homem que protestou em nome dos pais, e cujo filho também foi vítima, acabou na prisão.

Enquanto isso, milhões de cidadãos chineses pacíficos são monitorados, presos, e torturados até a morte, porque o PCCh considera sua crença religiosa uma ameaça ao governo.

Entrar no “Tuidang” significa, “Renunciar ao Partido”.

Yan Zhijun é o arquétipo de uma ativista do Tuidang. Uma mulher chinesa de 62 anos com um sorriso largo e tranquilizador, ela começou a promover o Tuidang no início de 2005, numa viagem dos Estados Unidos à China.

Ela começou com um pequeno círculo de familiares, lembrando-os dos horrores do governo do PCCh, passados e presentes, e simplesmente perguntou, “Vocês querem ser parte disso?”

Após retornar da China, suas atividades do Tuidang ganharam mais força. De familiares a amigos, ela estendeu o círculo aos amigos de amigos, ex-estudantes de colégio e professores, e então, a estranhos (hoje, ela diz que todos que conhece são como “irmãos ou irmãs”, e se eles são chineses, ela fala sobre o Tuidang).

Pessoas que não ouviam falar dela há quatro décadas ficaram surpresas ao receberem seu telefonema; ela, dos EUA, explicou-lhes porque precisavam cortar laços com o PCCh. Por seus cálculos, ela ajudou 1.800 pessoas a renunciarem.

Cortando laços

A ideia de romper laços com uma organização, com a qual alguém não é um membro formal pode parecer estranho, exceto pelo fato de que o PCCh não é uma organização normal. Desde que tomou o poder em 1949, ele tem forçado a população a jurar-lhe fidelidade, dominado ou tentado controlar cada aspecto da vida na China, e envolveu uma enorme parte da população em seus erros.

Nas palavras dos “Nove Comentários sobre o Partido Comunista”, um editorial publicado em novembro de 2004 pelo Epoch Times a respeito do governo do PCCh e que deu início ao movimento de renúncia: “As crenças tradicionais e os valores sofreram danos severos com os meios violentos adotados. Os conceitos éticos e as estruturas sociais sobre as quais se fundam o povo chinês foram desintegrados pela força. A empatia, o amor e a harmonia entre as pessoas se evaporaram, vítimas das lutas e do ódio.”

O resultado tem sido previsível: “Um desmoronamento total do sistema social, moral e ecológico, e uma crise profunda para o povo chinês, … ocorridas como resultado do planejamento deliberado, da organização e controle do PCCh.”

O povo chinês entendeu. Uma experiência com o PCCh é um denominador comum para cada pessoa que cresceu na China Continental, e da maneira como os ativistas do Tuidang o veem, é chegada a hora do povo Chinês determinar seu próprio futuro.

A preocupação não é em cortar os laços de uma pessoa física ou profissionalmente com o PCCh. Uma pessoa pode usar um pseudônimo para renunciar ao Partido ou mesmo voltar a trabalhar como oficial do governo contanto que a separação psicológica tenha sido feita. “Os deuses olham para o coração da pessoa”, os participantes do Tuidang costumam dizer.

Participantes explicam que o Tuidang dissolve pacificamente o Partido, uma renúncia por vez. O Tuidang também dá aos participantes a chance de separarem-se dos crimes e da corrupção do PCCh. Caylan Ford, um graduado pela Universidade George Washington, escreve em sua tese de mestrado sobre o Tuidang que o movimento oferece ao povo da China um caminho para “o alívio, a redenção moral e a liberdade através da cisão dos laços psicológicos e simbólicos com o Partido Comunista.”

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 O Sr. Chen Yonglin, ex-diplomata chinês que desertou para a Austrália e renunciou ao Partido Comunista Chinês em 2005, fala num comício em Sydney que celebra as mais de 100 milhões de renúncias. (Shar Adams/The Epoch Times)

Paz mental

Tendo em vista a violência extrema com que o Partido tem forjado o povo chinês ao longo de décadas de poder, algumas das declarações de renúncia são extremas. Uma delas é a do soldado retirado que chama a si mesmo de Chen Xiaoyu. Ele descreveu que foi forçado, assim como sua companhia, a abrir fogo numa vila do grupo étnico Hui na China. “Eu nunca esquecerei aquela cena trágica e a crueldade, que não pode ser descrita em palavras”, escreveu Chen.

As próximas linhas vão ao coração da experiência do Tuidang para o povo chinês: “Eu fui criado como uma pessoa honesta e boa, e poderia ter levado uma vida normal, feliz e pacífica, mas o demônio me roubou essa felicidade que eu deveria ter. … Se os deuses ouvirem meu apelo, me deem paz mental para que eu não fique mais assustado por esse pesadelo recorrente. Hoje, eu solenemente declaro que renuncio ao PCCh e qualquer uma de suas associações afiliadas.”

Um policial, usando um pseudônimo (uma vez que ser pego pode levar a punições, demissão e tortura), escreveu que estava cheio de remorso após anos “reprimindo as pessoas comuns”.

“Por eu ter perdido a fé em tudo o que o PCCh tem feito e ter sido uma ferramenta em seus crimes pelos últimos 30 anos, minha consciência não pode mais aguentar essa enorme pressão. Com a ajuda dos praticantes do Falun Gong, eu estou publicando a minha renúncia ao PCCh e suas organizações afiliadas”, escreveu ele.

Referências a deuses ou forças maiores que vigiam os homens são características comuns nos longos depoimentos. Tais crenças foram uma parte fundamental da cultura chinesa até 1949, quando então o Partido Comunista forçosamente reprimiu todas as religiões e “superstições”. E a referência ao Falun Gong é cabível, uma vez que a maioria das pessoas nas linhas de frente que levam o movimento de renúncia adiante são praticantes do Falun Gong, uma disciplina espiritual que tem sido perseguida desde 1999 na China.

Uma nova China

O Tuidang não apenas convoca os chineses a enfrentarem as questões morais apresentadas pela ditadura do PCCh, mas também apresenta a visão de uma outra China que está fundamentada em autênticas tradições chinesas, ao invés das teorias de Marx ou Lênin.

“Quando conheço pessoas, eu pergunto se elas já ouviram sobre o ‘santui’’”, diz Yan Zhijun. Santui significa as “Três Renúncias”, relacionadas aos Jovens Pioneiros, a Liga Comunista da Juventude, e ao próprio Partido.

“Eu falo apenas isso: ‘Por que você quer lutar contra o céu e a Terra?’” como é defendido pela teoria comunista do PCCh. “Não foi isso o que o Imperador Amarelo nos ensinou”, diz ela, referindo-se ao mítico fundador da civilização chinesa.

Yan intensifica seu discurso com fraseologia e referências históricas. “A China existe há milhares de anos, mas nenhuma dinastia tentou fazer lavagem cerebral contra a bondade em seu povo. Os chineses sempre enfatizaram a verdade, mas você tem esse sentimento hoje?” Poucos têm, observa ela.

O Tuidang apresenta-se como uma alternativa à cultura que foi criada pelo Partido Comunista: É a antiga China, a China muito antes de o comunismo chegar; é sobre entender a lei do carma, abraçar virtudes simples, e viver honestamente. E as pessoas tem sido receptivas.

Numa semana recente ensolarada, Yan obteve uma renúncia em menos de 30 segundos. Um homem aproximou-se procurando alguns dos materiais que ela e seu colega estavam distribuindo. Ela perguntou se ele havia se unido ao Partido Comunista. Ele disse que não. Ele havia se unido à Liga da Juventude? Não. Mas e quando era jovem, ele não tinha usado o “lenço vermelho”? Assim como a maioria dos chineses, ele tinha. Quando ele era apenas uma criança, ele também fizera o juramento de “firmemente obedecer ao Partido Comunista”. Agora que ele entende que o PCCh é má notícia, não deveríamos fazer uma clara separação? Ela deu-lhe o pseudônimo de Xia Ming (um trocadilho com as palavras “é verão; eu entendo a verdade”) e ele concordou. Mais tarde, ela inseriria aquele nome para ele no website tuidang.dajiyuan.com

O nome Xia Ming está gravado em algum lugar na onda de 55 mil novos depoimentos que aparecem no website a cada dia, cada um deles demonstrando a hora, o número de identificação e a pessoa que fez a renúncia. Na tarde de 9 de agosto de 2011, os números já haviam atingido 100.141.700; em 10 de agosto eles eram mais de 100.200.000.

Ao redor do mundo, onde quer que haja chineses, e particularmente na China, pessoas como Yan Zhijun estão falando com amigos, parentes, ex-colegas de colégio e turistas, lembrando-os dos horrores do governo do Partido Comunista, e informando que eles de fato podem escolher, algo que o Partido decididamente tentou tirar de seus cidadãos. “Vocês não deveriam fazer uma separação clara?”, os ativistas perguntam. Mais de 100 milhões disseram “Sim”, que eles deveriam.