Mortes recentes podem estar ligadas ao secreto órgão de segurança chinês

26/06/2012 11:00 Atualizado: 26/06/2012 11:00

Policiais militares chineses mudam a guarda em frente à embaixada dos EUA em Pequim. (Mark Ralston/AFP/Getty Images)Órgão de segurança da China tem medo de perder o controle

A China foi mais uma vez chocada com a notícia de uma morte bizarra em 19 de junho. O Sr. Yu Rufa, um peticionário do condado de Xian, cidade de Cangzhou, província de Hebei, foi levado pela polícia quando tentou entrar na embaixada dos EUA em Pequim em 14 de junho e foi confirmado como morto dois dias depois quando foi transferido para a província de Hebei por oficiais que estavam estacionados em Pequim, relatou a Voz da América (VOA).

O corpo de Yu foi enviado para sua casa em Hebei de carro. Ele teria ferimentos de faca na cabeça e havia sinais de que sangue foi limpo de seu corpo. As origens das facadas ou mesmo quem conduziu o corpo para casa ainda não estão claros.

Esta é mais uma morte estranha depois do “estranho suicídio” do Sr. Li Wangyang. O Sr. Li era um ativista pró-democracia da província de Hunan, cuja morte causou comoção em Hong Kong, e, de acordo com as provas existentes, definitivamente não se suicidou.

Um artigo intitulado “Zhou Yongkang mandou enterrar 200 pessoas vivas” foi publicado pela revista Open Magazine de Hong Kong em 5 de junho. De acordo com o artigo, Zhou disse num discurso que o Partido Comunista Chinês (PCC) está monitorando todos os dissidentes domésticos influentes. Uma vez que o Comitê Central do PCC considera que uma crise começou, ele prenderá todas as 200 pessoas monitoradas durante a noite e as enterrará vivas.

Com base nas informações e fatos combinados acima, o autor acredita que é necessário prestar muita atenção no Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), que é chefiado por Zhou Yongkang, antes do 18º Congresso Nacional do PCC, que poderia planejar tomar medidas extremas para salvaguardar a estabilidade do Estado. Penso que o CAPL esteja planejando matar os dissidentes ativos. A teoria de “enterrar-vivo” publicada pela Open Magazine apenas se concentra nos dissidentes intelectuais. Também é possível que isso sirva como um aviso para ameaçar todos os intelectuais relevantes para serem autodisciplinados antes do 18º Congresso Nacional.

Para os intelectuais que são bem conhecidos socialmente, as autoridades estão adotando uma abordagem suave antes de recorrer à força. Mas para os dissidentes menos conhecidos, ativistas e grupos religiosos, as autoridades poderiam tomar a abordagem de morte-direta.

A Hong Kong Media entrevistou o Sr. Li Wangyang antes do aniversário de 4 de junho do Massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) e ele disse, “Em nome da democracia, não tenho nenhum arrependimento, mesmo se eles cortarem minha cabeça.” Isso foi pouco antes de seu “estranho suicídio”.

No caso de Yu, ele foi assassinado depois de seguir os passos do famoso ativista chinês e advogado cego Chen Guangcheng ao tentar entrar na embaixada dos EUA. Minha preocupação é que o CAPL emitiu uma ordem de matar, talvez até mesmo com detalhes sobre que tipo de manifestantes pode ser diretamente eliminado.

As mortes dos Srs. Li e Yu estão relacionadas com Zhou Yongkang e o mais vulnerável ponto fraco do CAPL. O Sr. Li publicamente deu entrevistas à imprensa estrangeira que tiveram um grande impacto. Ele também obteve uma abundância de informação privilegiada devido a sua própria experiência de perseguição pelos sistemas do PCC de manutenção da estabilidade. O Sr. Yu tentou causar um incidente internacional ao tentar entrar numa embaixada estrangeira.

Essas duas situações expuseram a operação caixa-preta do CAPL. Quando estes tipos de incidentes ocorrem, o CAPL começa a perder o controle. Obviamente, o CAPL tem medo de perder o controle completo e está, portanto, aniquilando estes incidentes. Zhou provavelmente aprendeu uma lição do incidente de Chen Guangcheng, que fugiu para a embaixada dos EUA para revelar a corrupção na China.

Dentro de um mês, o mesmo tipo de incidente ocorreu nas províncias de Hunan e Hebei. Isso levanta a questão de se o CAPL está executando um cuidado plano, passo-a-passo, de crime sistemático, incluindo categorizar protestos de naturezas diferentes e de diferentes níveis de influência e tomar precauções estritas contra certos tipos de eventos.

Em outras palavras, eles estão procurando métodos ainda mais severos de controlar a sociedade após os incidentes de Wang Lijun e Cheng Guangcheng. Estas medidas aterrorizantes estão sendo aplicadas agora na tentativa de reverter a falta de atenção sobre essas situações no início do ano.

Wen Zhao é um especialista de assuntos chineses e da sociedade que vive no Canadá.