Mídia estatal teria notificado um número de mortes muito inferior
Uma morte aparentemente desnecessária na enchente de Pequim do editor de uma revista para crianças atraiu a atenção dos internautas chineses. A morte do editor é um caso específico que ilustra o sentimento público de que a mídia estatal tem dado informações falsas em sua cobertura da catástrofe e que o comportamento das autoridades sobre a inundação tem sido insatisfatório.
Por volta das 19h do dia 21 de julho, Ding Zhijian dirigia para seu local de trabalho, onde era editor-chefe da revista de ciência infantil chamada ‘Ah Ah Bear’, quando ficou preso embaixo da ponte Guangqumen. A água atingiu de 3 metros no local.
Ding não conseguia abrir a porta do carro e chamou sua esposa Qiu Yan para obter ajuda. Qiu discou 110 (número da chamada de emergência na China), mas todas as linhas estavam ocupadas, segundo a mídia estatal.
De acordo com Zhang Qingli, um colega de Ding, a mídia estatal chinesa deu informações falsas sobre a morte de Ding. Segundo uma mensagem que Zhang publicada na manhã de 23 de julho em seu microblogue no Sina Weibo, policiais e bombeiros demoraram a resgatar Ding.
A mensagem de Zhang sensibilizou o público. Ela foi republicada mais de 12 mil vezes em poucas horas, mas então foi eliminada pelo Sina Weibo, uma mídia social chinesa similar ao Twitter que opera sob a censura do regime comunista.
“Embora de acordo com os relatos [da mídia estatal] pareça que eles o resgataram a tempo, esse não é o caso”, diz o início da mensagem de Zhang.
A mídia estatal afirmou que três horas depois, às 22h30 horas, a polícia chegou à cena.
“Cinco carros ficaram presos na água [embaixo da ponte Guangqumen]”, disse Cui Jinbo da Secretaria Paisagística e Florestal à mídia estatal. “O carro estava cheio de água e o homem estava ainda sentado no banco do motorista.”
Mas colega da vítima fez um relato diferente, “O principal motivo [para sua morte] foi que o resgate chegou duas horas atrasado e que a melhor chance de salvá-lo foi perdida. Na verdade, Qiu Yan [a esposa de Ding] chegou ao local às 20h30.”
“Ela implorou ajuda da polícia e a polícia lhe aconselhou a chamar os bombeiros. Em seguida, ela chorou e implorou aos bombeiros, que insistiram que nenhum carro estava preso lá. Qiu Yan claramente lhes deu a localização exata, mas os bombeiros se recusaram a ajudá-la.”
“Mesmo a multidão estava irritada [com os bombeiros] e um rapaz tirou a roupa e pulou na água. Mas a corrente era muito forte, então, ele nadou de volta. Mais tarde, os bombeiros finalmente concordaram em dirigir até a ponte. Mas não agiram.”
“Qiu Yan os implorava sem parar. Em seguida, eles receberam um telefonema e informaram que seu chefe estava a caminho. Só então eles começam o resgate, mas […] A verdade é que eles só começaram o resgate depois que as pessoas da mídia chegaram com as câmeras. Eu trabalhei com o homem que morreu e, por isso, digo a verdade.”
“Foi com a esperança de desvendar a verdade e com respeito que respostei a história da morte do Sr. Ding em Guangqumen. Minha postagem foi logo eliminada. Como um internauta, eu entendo a situação de desamparo do Sina e a força e pressão sobre o website. Mas eu ainda sinto desespero quando inundações sobem acima de uma pessoa […]”, comentou fif2006, um dos mais de 12 mil usuários do Weibo que republicaram a mensagem de Zhang.
Um nativo da província costeira de Jiangsu, Ding obteve um mestrado na prestigiosa Universidade de Pequim e se estabeleceu em Pequim com sua família. Ele deixou para trás a esposa e uma filha de 3 anos.
Muitos em Pequim tem dúvidas quanto ao número oficial de 37 mortes. Outro Sr. Zhang do distrito Fangshan em Pequim disse ao Epoch Times que 37 mortes não podem ser verdade. “Esse valor não inclui as mortes nos subúrbios. Dizer que há apenas 37 mortes é encobrir os fatos.”
Zhang disse que na região com as maiores baixas na área turística de Shidu, todos os edifícios foram inundados e muitos turistas morreram. “Quando a água recuou, encontramos dezenas de corpos levados correnteza abaixo.”
Um porta-voz do governo de Pequim refutou as questões sobre a taxa de mortalidade em Pequim, segundo o Wall Street Journal.
Mudanças drásticas nos relatos da mídia estatal sobre a dimensão dos estragos provocaram indignação entre os chineses. Embora originalmente descrita como a pior tempestade em 61 anos, o desastre já foi considerado o pior em 500 anos em Fangshan, um dos bairros de Pequim.
O impacto teria afetado outras áreas e o número de mortos foi elevado para 95 a nível nacional. Graves inundações são esperadas em várias áreas perto do rio Yangtzé no sul.
Internautas chineses consideraram as autoridades de Pequim responsáveis pelo sofrimento, culpando o desastre na infraestrutura precária resultante da incompetência e corrupção.
Durante os três dias desde o desastre de sábado, nenhum dos líderes maiores do Partido Comunista, os nove membros do Comitê Permanente do Politburo, fizeram declarações oficiais.