Acalmadas as manifestações Brasil afora, acredito que seja oportuno fazer uma reflexão sobre esses tempos conturbados. Os últimos cinco anos, a bem dizer, não foram fáceis para a economia brasileira. O sustar da bonança internacional, a partir da quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, eclodiu o pilar de nossa belle époque dos tempos contemporâneos. Diante da animosidade do mercado nos últimos meses, o que devemos e, o mais prudente, o que podemos esperar para o futuro próximo?
As perspectivas para a economia doméstica são ruins, leitor, não lhe engano. O crescimento de 2013 deve oscilar em torno de 2%, enquanto a inflação fica acima de 5,7% e o déficit em conta corrente deve beirar os US$ 80 bilhões. São tempos díspares daqueles que vivemos entre 2003 e 2007, quando a economia gozava de crescimento razoável (condizente com redução do desemprego), inflação convergindo para a meta e superávit (veja você!) em conta corrente.
Em tempos em que a mão de obra é vista como fator raro e difícil, já não há dúvidas sobre o que a política econômica deve focar: aumentar a produtividade da economia. Isto é, fazer reformas econômicas que redundem em elevação da competitividade das empresas. O diagnóstico nos últimos três anos tem sido outro: o problema nacional seria a demanda. Com o consumo crescendo mais do que a produção de bens e serviços, fica no mínimo difícil concordar com ele.
A bem da verdade, o governo às vezes mostra sinais de que sabe os nossos reais problemas. Ele flerta com alguma mudança no marco regulatório da infraestrutura, por exemplo, mas parece não ter foco. Deve ser mesmo difícil administrar 39 ministérios, com suas infinitas demandas e um orçamento limitado. Só para reuni-los na mesma mesa e fazer o que a teoria deles diz ser o correto já deve dar um baita trabalho, leitor amigo!
A reflexão, nesse contexto, perpassa não apenas pela receita (aumento da produtividade) ou pelo diagnóstico (erro no uso da política econômica), para alterar o curso do barco. É preciso, sobretudo, entender as transformações sociais que os últimos 20 anos de mudança macroeconômica proporcionaram ao país. As mulheres têm menos filhos, a renda média é mais elevada e as crianças estão estudando mais. Para o que nos interessa, basta. Isso implica que as demandas de 30 ou 40 anos atrás, hoje, não fazem muito sentido. Mais inflação em troca de um pouco de crescimento, notadamente, não é mais uma delas.
É preciso compreender que o jeito de atender essas demandas é outro, e engendra uma nova forma de conduzir a economia. Nós não queremos governantes que tapam buracos: queremos um Estado que oferte bens e serviços públicos em quantidade e qualidade adequadas. Sendo mais específico: educação básica e saúde federalizadas, justiça célere, segurança e defesa de fronteiras bem estruturadas. Ademais, parcimônia, transparência e regras na condução da política econômica.
Não me admira, leitor, que o país tenha ido para a rua nesses últimos meses. Não me admira que movimentos radicais tenham surgido. Quando o Estado, guardião do contrato social, não cumpre com suas obrigações, as coisas desmoronam. É precisamente na tentativa de controlar tudo que ele, o Estado, acaba não conseguindo controlar nada. Falta humildade aos nossos governantes em admitir essa inexorável limitação e, por triste implicação lógica, também a quem vota nos que lá estão. Pense nisso!
Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Millenium