Durante anos, a única coisa que preocupava o regime chinês era o desemprego e a inflação.
Essas coisas fazem os chineses muito infelizes e contrariam a promessa do regime de tornar possível que alguns enriqueçam enquanto ele continua suas políticas sociais atrasadas e destrutivas.
Devido ao corte surpresa na taxa de juros no fim de semana, parece que a China agora está preocupada com outra coisa, porque a inflação e o desemprego estão relativamente estáveis.
As autoridades podem estar preocupadas com o que um estudioso de Chicago tinha a dizer sobre bolhas de dívida e o momento em que estas estouram. Esse ponto é chamado de “Momento Minsky”, em homenagem ao economista Hyman Minsky da Universidade de Chicago.
Colapso do crédito
Minsky focou-se na transição do sistema financeiro do financiamento produtivo para o financiamento especulativo e para o financiamento Ponzi sem colateral para a ocasião, quando toda a estrutura desaba, semelhante ao que ocorreu no mercado subprime dos EUA em 2007.
Na China, que criou US$ 15,4 trilhões em dívida em apenas cinco anos, as rachaduras começam a aparecer. Em primeiro lugar, a criação de crédito, o fator mais importante para manter a festa rolando, abrandou significativamente e como consequência o mesmo se deu com o crescimento do PIB.
De acordo com o Bank of America, o financiamento social total, que inclui empréstimos bancários e outros meios de financiamento, só aumentou 15,2% no terceiro trimestre. Este é o nível mais baixo desde 2005, quando o PIB da China era cerca de metade do seu tamanho atual.
O problema: menos crédito criado significa menos investimentos, o que significa um crescimento menor. Menos crescimento significa menos oportunidade para os credores existentes financiarem suas dívidas. Este é um problema comum em economias Ponzi, pois o crescimento não é baseado na produção subjacente ou natural, mas na especulação sobre mais criação de dívida.
Assim, o processo depende de si e só se sustenta na confiança em si mesmo, um processo que George Soros chamou de “reflexividade”. Por causa do abrandamento do crédito e do crescimento, temos visto agora a maior falência na China na semana passada sob a forma de uma usina siderúrgica improdutiva, o Haixin Iron & Steel Group. O crédito podre cresceu mais rapidamente desde 2005 e analistas preveem mais falências.
O motivo: os planejadores políticos restringiram o crédito em 2013 e as empresas se adaptaram às novas condições em 2014, diminuindo as despesas de capital. Este é exatamente o mesmo processo quando o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, subiu das taxas em 2006 para suavizar a bolha imobiliária, mas por fim ela explodiu de vez.
Sem retorno
Novamente como o Fed, o BPC agora está baixando as taxas num esforço para desacelerar a deflação. Como ocorreu com o corte nas taxas realizado pelo Fed no final de 2007, este movimento é um pouco tarde demais, porque as empresas e os consumidores já mudaram suas perspectivas e não estão assumindo mais dívidas.
Na verdade, apenas na crise do subprime, a dívida na periferia na China já está diminuindo em termos absolutos: os empréstimos fiduciários e aprovações bancárias diminuíram 22 bilhões e 241 bilhões de yuanes, respectivamente, em outubro.
Para brecar a desalavancagem, o BPC deve fazer o que o Fed fez. Monetizar a dívida pública. É claro que o BPC imprimiu mais dinheiro do que o Fed na última década, mas curiosamente foi para monetizar os títulos do Tesouro americano e assim manter a taxa de câmbio estável.
Desta vez, ele terá de monetizar a dívida do governo central chinês para inundar o mercado com liquidez e forçar as pessoas a comprarem casas e títulos novamente. Porque se um Momento Minsky se tornar realidade e o sistema de crédito desabar, o regime chinês terá que se preocupar seriamente com o desemprego.