“Modelo chinês” prejudica o mundo

26/04/2013 14:19 Atualizado: 30/05/2013 02:33
Lixo poluindo um canal na periferia de Pequim em 16 de março de 2012 (Mark Ralston/AFP/Getty Images)

O “neocolonialismo” chinês se tornou um tema popular quando o novo líder chinês Xi Jinping visitou a África em meados de março.

Neocolonialismo, de maneira geral, significa: a China explorando os recursos da África enquanto ignora o impacto ambiental e despeja produtos industriais baratos no continente.

O desenvolvimento econômico da China trouxe poucas oportunidades de emprego para os africanos. O que é pior, a política da China de “ajuda financeira incondicional” e de “não interferir com a política de outros países” quebrou o padrão dos países ocidentais de prestar ajuda somente quando certas exigências políticas fossem atendidas. Isso afrouxou as rédeas sobre alguns ditadores africanos.

A razão para o crescimento viral do neocolonialismo chinês na África é que empresários chineses introduziram o elemento distintivo do modelo chinês – o conluio governo-negócios – na África, usando suborno e corrupção para obter direitos de mineração e acesso ao mercado.

Alimentado por suborno e corrupção

Pouco antes da visita de Xi Jinping à Nigéria, Lamido Sanusi, o governador do banco central no país, criticou a China no Financial Times do Reino Unido por tomar os bens primários e vender manufaturados à África, dizendo que a China está no continente não pelos interesses africanos, mas pelos seus próprios.

“Essa foi a essência do colonialismo”, disse Sanusi, acrescentando, “Isso contribui significativamente para a desindustrialização e o subdesenvolvimento da África.”

O presidente sul-africano, Jacob Zuma, advertiu em 2012 que o padrão de comércio entre a África e a China é “insustentável em longo prazo”.

Mas tais queixas de governos africanos são raras, pois benefícios para líderes estatais estão muitas vezes ligados a empresas chinesas de várias maneiras. A maioria das objeções vem de grupos populares.

A organização anticorrupção Transparência Internacional pesquisou 3.016 executivos seniores de 30 países sobre suas percepções de negócios de 28 países com quem tinham relações comerciais.

Com base em suas avaliações sobre como as empresas de cada país pagariam subornos no exterior, um Índice de Pagadores de Suborno (BPI) foi calculado para cada país, para refletir o nível de corrupção identificada. A China recebeu o segundo menor BPI, indicando a segunda maior probabilidade de corrupção, depois da Rússia.

O BPI considerou 19 setores e incluiu países e regiões de todas as áreas-chave do mundo. O relatório BPI de 2011 também sugeriu que indústrias de grande volume de dinheiro controladas pelo governo, incluindo infraestrutura, construção, petróleo e gás natural, são mais suscetíveis à corrupção no exterior.

O governo chinês refutou o relatório BPI, mas a realidade mostra que o suborno e a corrupção tem sido o motor da expansão do negócio exterior da China.

Entre 2008 e 2012, o Conselho de Sanções do Banco Mundial colocou 14 empresas e indivíduos chineses em sua “lista de impedidos e excluídos” por fraude e corrupção. Foi determinado que estas empresas e indivíduos seriam inelegíveis para receberem um contrato financiado pelo Banco Mundial por dois a oito anos.

Em 2009, a empresa estatal chinesa de mineração Metallurgical Group Corp foi acusada de subornar o ministro afegão das Minas com US$ 30 milhões para ganhar o contrato do maior projeto de desenvolvimento do país.

Em 19 de março de 2013, executivos seniores da filial mongol da gigante das telecomunicações chinesa ZTE foram investigados por suborno. Os produtos e serviços da ZTE estão distribuídos em mais de 140 países. Em fevereiro, a ZTE foi acusada de subornar funcionários no Quênia para ganhar um contrato do governo.

Na Argélia, executivos da ZTE foram condenados a 10 anos de prisão após serem condenados por corrupção em junho de 2012.

A maioria do investimento chinês na África é em projetos de infraestrutura pública, mineração e construção e em quase todos os casos empresas chinesas abrem o caminho com subornos. Mas por que apenas alguns casos foram divulgados?

Kong Xiangren, um oficial do Ministério de Supervisão da China, explicou em 2010, “Muitos casos [de suborno] chamaram nossa atenção e foram investigados após serem descobertos pelos governos locais nos Estados Unidos ou na Europa, especialmente os que envolvem corrupção de negócios internacionais. Isso acontece porque as atividades de suborno foram bem escondidas.”

Boicote o ‘modelo chinês’

Richard Dowden, diretor da ‘Sociedade Real do Reino Unido para a África’, assinalou uma vez que a China está mais do que preparada para lidar com os países africanos que são governados por ditaduras. Isso porque o regime comunista gosta de sua própria espécie.

O pesquisador empresarial chinês He Yifan citou numa postagem de blogue o líder da sucursal de uma empresa de construção civil no exterior dizendo que na Nigéria a corrupção ocorre abertamente. Quando oficiais fazem o orçamento para projetos, eles incluem o próprio suborno como parte do custo. É exatamente isso que os oficiais corruptos chineses fazem.

Ditadores africanos conduzidos por interesse próprios não encerrarão a “diplomacia dos recursos” com a China, porque eles ganharam enormes benefícios com isso.

A ajuda chinesa à África – fornecida por vários níveis de organizações governamentais, incluindo o Ministério do Comércio e outros ministérios e agências de nível provincial – por exemplo, é extremamente carente de transparência.

Funcionários de alto escalão também têm quotas flexíveis quando visitam o exterior. Assim, o montante total da ajuda é muito difícil de determinar. Isso cobre a corrupção em ambos os lados.

Mas cada vez mais africanos ficam mais avessos ao “salvador do Oriente”. Eles se queixam da falta de consideração das empresas chinesas pela ecologia local e a mineração e extração de madeira danificam seriamente o meio ambiente.

Além disso, a desconsideração pela segurança dos trabalhadores típica das empresas chinesas tem causado frequentes acidentes e custado vidas. Houve até mesmo incidentes de empregadores chineses matando trabalhadores africanos.

Empresas africanas também se queixam de que o forte apoio financeiro do governo chinês a empresas chinesas torna extremamente difícil que empresas locais possam competir. Alguns acidentes também foram relatados como resultado da construção chinesa de má qualidade de estradas e hospitais. E a lista continua…

Apesar de um histórico tão terrível, empresas chinesas têm crescido na África, porque elas subornam oficiais e inspetores locais para escapar de punições. Seus produtos, desde alimentos até pontes e estradas, são muitas vezes inseguros, mas essas empresas frequentemente subornam oficiais e juízes para evitarem punições caso haja reclamações de consumidores ou ambientalistas.

Poucos chineses duvidariam da credibilidade do exposto acima, porque empresas chinesas fazem o mesmo na China. Negócios são conduzidos em conluio com o governo e subornando autoridades para obterem oportunidades de negócio e proteção política.

Eles não param por nada, danificam o meio ambiente, geram números falsos do PIB, desconsideram a segurança dos trabalhadores e os exploram como ferramentas de produção. Na China também, seus produtos, desde alimentos até pontes e estradas, são frequentemente inseguros, mas subornando oficiais e juízes eles evitam punições.

O modelo chinês, marcado pela corrupção, exploração de recursos e descaso pelo meio ambiente e o bem-estar das pessoas, espalhou-se pelo mundo por meio de investimentos no exterior.

O Equador está prestes a sentir o gosto amargo enquanto seu governo planeja vender um terço de sua selva amazônica para uma companhia de petróleo chinesa. Sete tribos locais lutam no local contra o plano. Eu gostaria que o povo equatoriano aprendesse com as lições da África e mantivesse as empresas chinesas de fora. Essa é a única maneira de salvar sua terra natal.

Após ser implementado na China por quase 30 anos, o modelo chinês rendeu um PIB sangrento e tóxico por meio do abuso do meio ambiente e do futuro do povo chinês enquanto tornou a China o maior berço de bilionários do mundo, bem como o país mais poluído e com maior índice de câncer.

Zhu Houze, chefe de propaganda da China de 1985-1987, alertou em seu leito de morte que o modelo chinês não deveria ser espalhado para o exterior. “Esse modelo tem prejudicado mais de um bilhão de chineses. Não podemos continuar a prejudicar outros países”, disse ele.

A China é hoje fortemente dependente de recursos externos. Ela tem de desistir de seu modelo atual, que o mundo acha detestável, para obter recursos. Caso contrário, um dia o mundo civilizado se unirá para boicotar a China. Quando isso ocorrer, a China se tornará a “órfã da Ásia” e a “órfã do mundo”.

He Qinglian é uma proeminente autora chinesa e economista que atualmente vive nos Estados Unidos. Ela é autora de “China’s Pitfalls”, que trata da corrupção na reforma econômica da China da década de 1990, e “The Fog of Censorship: Media Control in China”, que aborda a manipulação e restrição da imprensa. Ela escreve regularmente sobre questões sociais e econômicas da China contemporânea.

Publicado pela primeira vez no periódico “Human Rights in China Biweekly”.

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