Moçambique enfrenta impasse nas negociações entre governo e oposição

04/06/2014 13:07 Atualizado: 04/06/2014 13:07

Três pessoas ficaram feridas em um ataque na região central de Moçambique nesta quarta-feira (4), aumentando para 15 a contagem de feridos nos combates entre a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e o exército do governo em quase uma semana, somando-se agora um militar morto. “Está confirmado um ataque a um grupo de veículos na manhã de hoje”, disse o porta-voz da polícia da província de Sofala, Daniel Macuacua, segundo a Agência Lusa.

De acordo com moradores, o ataque foi direcionado ao veículo militar que escoltava um grupo de blindados na direção centro-sul da N1, a mais importante estrada do país, e ocorreu a seis quilômetros da vila de Muxúnguè, província de Sofala. As vítimas foram levadas para o Hospital Rural de Muxúnguè com ferimentos leves, ocasionados pelas quedas durante tentativas de fugir do tiroteio.

Na intensificação dos ataques conferidos a militantes armados da Renamo, é a primeira vez que há ocorrências próximas de uma zona residencial. Segundo os habitantes ouvidos pela Agência Lusa, as recentes emboscadas às viaturas militares que fazem as escoltas num raio de cerca de 100 quilômetros da N1, entre Muxúnguè e Save, aconteceram em áreas pouco comuns.

Em declarações à Agência Lusa, o delegado provincial da Renamo em Sofala, Albano José, confirmou que não houve aumento do número de homens na zona de ação. Todavia, antecipou que “os combatentes (da Renamo) acatam as ordens do seu líder para resistirem às agressões das Forças de Defesa e Segurança”. No total, desde quinta-feira (29), cinco combates entre Renamo e Exército acarretaram em pelo menos um morto e quinze pessoas feridas, nove delas civis.

Discursando em um comício no distrito de Morrumbla, província da Zambézia, centro de Moçambique, o secretário-geral da Renamo – o mais importante partido de oposição do país -, Manuel Bissopo, disse que o movimento está organizado para dividir o país, no caso do governo não aceitar a isonomia na formação do exército, assunto que tem causado obstáculos negociais com o executivo.

“Se a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, facção atualmente no poder] insistir em dizer que não concorda com a paridade, então a Renamo e o presidente Afonso Dhlakama não podem fazer mais nada, senão acatar o que a Frelimo quer, que é estabelecer as circunstâncias propícias para dividir o país”, disse Manuel Bissopo, segundo o jornal O País.

A Renamo reclama, nas negociações com o governo, – que se propõem a colocar um fim na tensão política e militar no país -, a reintegração, no exército, dos seus antigos militantes, declarados como marginalizados pelo executivo, como exigência para o desmantelamento da divisão armada do movimento.

A imposição feita pelo mais importante partido de oposição acarretou em um obstáculo ao prosseguimento das negociações, que já duram mais de dois meses, já que o executivo contesta a alegada discriminação de equipes vindas da antiga guerrilha, justificando estar em andamento uma sequência normal de transição para a reserva nas forças de segurança e defesa.

Membros da Renamo já prometeram, em momentos anteriores, fracionar o país a partir do Rio Save, que separa o sul do centro e norte, áreas de maior estabelecimento do partido.

O partido oposicionista comunicou na terça-feira (3) o cancelamento do cessar-fogo unilateral, anunciado com o objetivo de pôr fim aos enfrentamentos que atingem a região central do país há mais de um ano. Na última semana, houve combates diários entre a Renamo e o exército e armadilhas foram preparadas na estrada N1, única ligação entre o sul e o norte do país, num raio de cerca de cem quilômetros entre Muxúnguè e o rio Save, na região central, contra as forças armadas, e que ocasionaram perdas de vidas entre militares e civis.

Moçambique atravessa o seu pior momento político-militar desde que foi assinado o Acordo Geral de Paz (AGP) em 1992, entre a Renamo e o governo, acordo que acabou com a guerra civil de 16 anos.