WASHINGTON – Rachaduras significativas estão começando a aparecer no controle do poder do regime chinês, segundo analistas da China e ativistas de direitos humanos, num evento no Capitólio, na capital dos EUA, na quinta-feira, 12 de julho.
“A China está à beira de grandes mudanças sociais”, diz Erping Zhang, um norte-americano nascido na China, falando num comício que marcou os 13 anos de perseguição aos praticantes do Falun Gong na China. “Muitas pessoas sentem que este ano pode ser o fim dos comunistas, porque a ideologia do comunismo parece estar à beira da falência.”
Zhang, que é um porta-voz da Associação do Falun Dafa de Nova York, graduou-se na Universidade de Estudos Internacionais de Pequim e na Escola John F. Kennedy de Governo da Universidade de Harvard, onde ele também detém o título de Edward Mason Fellow. Ele mantém uma extensa rede de amigos na China e é um especialista na censura chinesa da internet.
Ele diz que os abusos de corrupção e dos direitos humanos se tornaram tão desenfreados no continente que agora vão muito além da perseguição ao Falun Gong ou do massacre da Praça da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) para impactar diretamente as pessoas comuns. O descontentamento com o Partido Comunista Chinês (PCC) é tão difundido que é evidente na internet, em salas de conversação e até mesmo abertamente nas ruas.
A China agora experimenta, em média, 500 protestos por dia, segundo Niu Wenyuan, um membro do Comitê Consultivo Político Nacional do Povo Chinês, teria dito no New Express Daily em fevereiro.
O aumento da disparidade de renda na China ajudou a tornar a situação mais inflamável, com indicadores sociais e econômicos de mudança potencial atingindo proporções críticas, disse Zhang. Ele listou os dados principais: 0,05% da população detêm 60% da riqueza total; a renda média está classificada em 90ª no mundo; a saúde da China ocupa a 166ª posição do mundo.
“Quando o Estado possui tão grandes reservas de moeda e, no entanto, a população goza de tão pouco, algumas pessoas chamam isso de ‘Estado forte indivíduos fracos”, disse Zhang. “Isso gera enormes preocupações para o público em geral.”
Até mesmo as autoridades chinesas estão se apressando em mover seu dinheiro para o exterior, comprando casas de luxo na Austrália, Canadá e Estados Unidos e enviando seus filhos para estudar no exterior, disse ele.
Perseguição
Um termômetro da mudança na China envolve atitudes em relação à prática espiritual do Falun Gong. Por medo da popularidade do Falun Gong e da atratividade de seus ensinamentos para o povo chinês, o regime comunista lançou uma campanha para “erradicar” o Falun Gong em julho de 1999.
Jennifer Zeng, que figura em Free China, um documentário premiado sobre a perseguição ao Falun Gong na China, também estava na manifestação. Zeng é uma das vítimas da perseguição.
Depois de passar dois anos num campo de trabalho por praticar o Falun Gong, Zeng fugiu da China e obteve asilo na Austrália, onde escreveu um livro best-seller, ‘Testemunha da História’, contando sua terrível experiência.
“É sempre maravilhoso ver tantos congressistas e tantas pessoas de outras organizações se posicionando”, disse Zeng referindo-se aos muitos membros do Congresso norte-americano e das ONGs que enviaram cartas ou falaram durante o evento.
Ela observou que este ano o Relatório de Direitos Humanos dos EUA sobre a China mencionaram a colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong como uma preocupação. Um dos atos verdadeiramente horríveis cometidos pelo regime comunista contra o grupo pacífico; tal reconhecimento é parte de uma mudança no entendimento sobre a China, tanto dentro do continente como fora dele, disse Zeng.
“Acho que o clima é diferente, embora não vejamos muitas mudanças na superfície, no fundo, eu acho que as coisas estão mudando”, disse ela.
Maré virando
Após 13 anos de propaganda do Estado contra o Falun Gong, os chineses estão começando a ver que o regime chinês mentiu sobre a prática, disse Zhang, evidenciado pelas manifestações públicas de solidariedade em todo o país em apoio aos praticantes do Falun Gong.
“Isso nunca aconteceu antes”, disse Zhang, “É um sinal de que a propaganda do PCC não conseguiu convencer as pessoas de que o Falun Gong é mau.”
Num caso, em abril deste ano, mais de 300 famílias da vila de Zhouguantun, na província de Hebei, apelaram a oficiais do PCC exigindo a libertação de Wang Xiaodong, um praticante do Falun Gong e professor em sua comunidade que foi preso por sua prática. Eles assinaram com seus nomes reais e muitos incluíram suas impressões digitais.
Zhang acredita que os chineses agora veem a supressão dos praticantes do Falun Gong como um reflexo de sua própria supressão.
“Eles sentem a urgência em defender o Falun Gong, porque sentem que na defesa dos direitos do Falun Gong eles estão defendendo seus próprios direitos”, disse ele.
Alan Adler, porta-voz do grupo de apoio Amigos do Falun Gong, associou a deserção de 24 horas do ex-chefe de polícia Wang Lijun para a embaixada dos EUA no início do ano e a resultante queda do poder de seu chefe Bo Xilai.
Ambos os oficiais têm sido associados à colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong. A esperada ascensão ao poder de Bo foi desviada em 2007 devido ao número de ações judiciais contra ele em todo o mundo por seu papel na perseguição ao Falun Gong.
A perseguição contra o Falun Gong representa “uma verdadeira tragédia para o povo chinês”, disse Adler. “Eles merecem algo melhor.”
Para a China realmente avançar, será necessário responsabilizar os culpados e “retratar o que aconteceu”, disse ele. “A única maneira de conseguir isso é através do próprio povo chinês.”