O mito de que a gordura engorda

16/08/2014 06:30 Atualizado: 14/08/2014 15:03

É fácil acreditar que a gordura engorda. Comparado com os carboidratos ou proteínas, a gordura é rica em calorias. No entanto, as evidências não vinculam a ingestão de gordura com a obesidade.

Aderir a dietas com baixa gordura é praticamente ineficaz para a perda de peso. A evidência sugere que a gordura não engorda. Entender a razão disto nos ajuda a compreender o que influencia o acúmulo de gordura nas células adiposas.

Um dos principais responsáveis é a insulina. Este hormônio predispõe o organismo ao acúmulo de gordura através de uma variedade de mecanismos, incluindo o aumento da captação de gordura dentro das células de gordura (através da ativação da enzima lipase lipoprotéica) e a supressão da liberação de gordura (pela enzima lipase sensível ao hormônio de inibição).

A gordura não estimula a secreção de insulina. É possível que alguém pudesse comer uma dieta de nada além de gordura e perder peso? Este conceito pode parecer exagero, mas há indícios para isto.

Um estudo foi feito em indivíduos que não tiveram acesso a qualquer comida e que foram alimentados com gordura por meio intravenoso. O estudo foi publicado em maio de 1992 no American Journal of Physiology. Os indivíduos foram submetidos a um jejum num total de 84 horas numa ocasião.

Durante o jejum, os níveis de insulina normalmente caem, e os níveis de ácidos graxos na corrente sanguínea sobem. Os níveis de substâncias chamadas cetonas também sobem. As cetonas são formadas no fígado a partir de gordura e podem ser utilizadas para produzir energia e combustível para o cérebro.

A produção de cetona é um mecanismo normal e saudável que permite que o corpo se autoabasteça quando o alimento é escasso ou quando os carboidratos são severamente restringidos na dieta.

Durante a fase do jejum, neste estudo, os níveis de glicose e insulina diminuíram, enquanto os níveis de ácidos graxos e cetonas aumentaram. A taxa de lipólise (quebra da gordura) também aumentou.

A parte realmente interessante do estudo surgiu quando os mesmos indivíduos foram submetidos ao jejum em outra ocasião. A diferença foi que, nesta ocasião, os indivíduos foram alimentados com um gotejamento intravenoso contendo principalmente gordura. O valor calórico desta gordura correspondia às necessidades calóricas dos indivíduos participantes do estudo.

Nesta ocasião, os níveis de glicose e insulina caíram, enquanto os níveis de ácidos graxos e de cetonas se elevaram. A lipólise também aumentou. A extensão destas mudanças foi a mesma durante o jejum completo. Em outras palavras, estar alimentando o corpo unicamente com gordura induziu um estado metabólico no corpo que era, para todos os efeitos, o mesmo que o estado induzido pelo jejum.

Durante a infusão de quantidades significativas de nada além de gordura no corpo, o corpo continuava a descartar prontamente a própria gordura. E isto ocorreu tão facilmente como quando não se come nada.

Este estudo fornece algumas evidências de que a gordura não é inerentemente engordativa e nos lembra do papel fundamental que os hormônios, além do balanço calórico, têm que desempenhar no gerenciamento da gordura corporal.

 

O Dr. John Briffa é um médico de Londres e escreve sobre saúde, com interesse em nutrição e medicina natural. Seu website é Drbriffa.com