A Corte Suprema reconheceu o perigo da barragem El Mauro, a maior da América do Sul, sobre a vila Los Caimanes e arredores
Protagonista da julgamentos milionários e conflitos de interesse com a mineradora Los Pelambres, de propriedade do Grupo Luksic, a vila chilena Los Caimanes e arredores, na Região IV do Chile, acumulou nos últimos anos uma perigosa contaminação de sua água potável, o que foi denunciado pelo médico e presidente do Departamento de Meio Ambiente da Associação Médica do Chile.
O Dr. Andrei Tchernitchin disse ao Epoch Times que “a empresa de mineração Pelambres construiu uma bacia de rejeitos que descobrimos que filtra mercúrio, manganês e outras substâncias tóxicas das águas subterrâneas que são utilizadas como água potável e para a irrigação, afetando a saúde das pessoas que ali vivem e afetando a produção na área.”
“O fluxo de água que antes era limpa e agora está poluída, é produto da mineração”, disse Tchernitchin, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Chile.
Tchernitchin disse que, embora as amostras tenham sido feitas com a mais recente tecnologia e os protocolos mais elevados de nível internacional, as autoridades locais negam tal possibilidade, mesmo com os números confirmados pelo Departamento de Polícia a pedido do Tribunal de Justiça.
“O Departamento de Polícia, que me perguntou de onde retirei as amostras, encontrou a mesma coisa, inclusive em concentrações mais elevadas, e a autoridade do Serviço Ministerial Regional (SEREMI) declarou não ter encontrado nada e defende a empresa de mineração.”
A aldeia Los Caimanes está localizada a apenas 10 quilômetros sob as mineradoras El Mauro. Após a contaminação da água potável e depois que a Justiça acolheu um mandado de segurança impetrado pelos aldeões, no ano passado os moradores locais solicitaram ao Dr. Andrei Tchernitchin que realizasse um estudo sobre a contaminação do rio Choapa, do estuário Pupío e da água potável de Caimanes.
A Faculdade de Medicina estaria envolvida
Após a obtenção de amostras poluídas por manganês 25% acima do padrão de água potável e por mercúrio 20% acima do normal, além de alta concentração de arsênico, a Faculdade de Medicina informou que o Conselho Regional La Serena apresentou em 16 de outubro de 2012 uma liminar do Tribunal de Justiça da cidade, a fim de proteger as pessoas de Caimanes.
“O fato de que a Faculdade de Medicina tomou parte do recurso significa que praticamente fez suas as reivindicações apresentadas pelos habitantes de Caimanes, ocupando uma posição paralela à dos que estão no campo jurídico”, disse o Dr. Jaime Bastidas, Presidente Regional de La Serena.
Efeitos sobre a saúde
O Dr. Tchernitchin observou, no relatório dos Documentos Sociais da Universidade do Chile, que os minerais contaminantes do setor, tais como arsênico, ao longo do tempo podem causar câncer.
Em seu relatório médico ele afirmou que o manganês encontrado na água da região é um metal pesado cuja exposição na gravidez provoca danos neurológicos irreversíveis e pode causar vários defeitos de nascença.
Nos seres humanos causa sérios efeitos adversos à saúde, se a exposição for crônica. Entre eles está o Mal de Parkinson acompanhado de uma deterioração intelectual, psicose, demência e paralisia espástica (ao contrário do Mal de Parkinson clássico que não apresenta essas mudanças). O manganês também causa, entre outras doenças, infertilidade e disfunção erétil, disse ele.
O mercúrio, também encontrado em altos índices, produz danos neurológicos tais como a paralisia, demência e problemas nos rins, entre outros efeitos prejudiciais. A exposição prolongada ao mercúrio orgânico ou inorgânico causa danos permanentes ao sistema nervoso central, especialmente o cérebro, os rins e para o feto.
O órgão mais sensível à exposição por períodos curtos ou longos é o sistema nervoso, diz o médico. Um exemplo dos sintomas é a “doença de Minamata” (Japão), onde ocorreu um envenenamento em massa por mercúrio orgânico, proveniente do consumo de peixes contaminados por uma fábrica de produtos químicos.
“Em adultos, quando a concentração no ambiente é muito elevada, é produzido um quadro de debilidade, calafrios, vômitos, diarréia, tosse, sensação de aperto no peito, pneumonite intersticial e fibrose. A síndrome neurovegetativa ou micromercurialismo se caracteriza pela diminuição da produtividade, perda de memória, sensação de fraqueza muscular, alterações de personalidade, estados depressivos e alterações do comportamento, com quadro de depressão frequente.
Outro perigo é o ferro, que também é tóxico. O excesso de ferro causa a peroxidação lipídica e a formação de radicais livres. O organismo se defende, mantendo as moléculas de ferro ligadas a proteínas de transporte (transferrina) ou de armazenamento (ferritina). O ferro aumenta a concentração de radicais livres e causa danos à saúde por este mecanismo.
Cifras da contaminação
O estudo apresentado por Tchernitchin descreve suas amostras colhidas em 27 novembro de 2012, onde a concentração de ferro ultrapassou 50%, e de manganês 80%, em áreas de Pupío baixo. O molibdênio ultrapassou as medições em todos os pontos. A concentração de ferro encontrada em uma residência havia ultrapassado 700%, e em outra área, 530%.
De acordo com a Faculdade de Medicina, “as evidências sugerem que estes altos níveis de elementos tóxicos provêm de vazamentos da barragem de El Mauro na Região IV do Chile.” A empresa mineradora argumenta que não houve contaminação ambiental.
Los Caimanes sofreu corte de água, depois que o laudo pericial confirmou que esta estava contaminada por elementos como cádmio, mercúrio, ferro e manganês, entre outros. O Movimento Veo Verde informou que há quatro dias as áreas ao redor da mina continuaram sem água.
A barragem El Mauro, a maior da América do Sul, foi construída em 2006 e atualmente enfrenta vários processos judiciais. A advogada Sandra Dagnino declarou que um dos avanços no processo é que, pelo menos, a Suprema Corte reconheceu o perigo que a barragem representa para a população de Caimanes. No entanto, o recurso interposto por moradores da região para demolir El Mauro foi rejeitado em 29 de agosto com o argumento de que as obras já foram concluídas.