Sabendo que a força principal dos militares norte-americanos está em seus sistemas de comunicação avançados, GPS e satélites e em suas frotas aéreas e navais que contam com essas tecnologias, os militares da China têm buscado intensamente desenvolver sistemas de guerra eletrônica que desativariam ou destruiriam essas vantagens adversárias.
Os militares chineses realizaram um treinamento sobre espectro eletromagnético em 11 e 12 de outubro em Chengdu, capital da província ocidental de Sichuan, China. Foi mostrado aos participantes o novo “sistema de gestão conjunta do espectro eletromagnético” da China e eles discutiram como estabelecer “tropas de gestão do espectro eletromagnético”, segundo o jornal estatal Diário do Povo.
O almirante norte-americano Jonathan Greenert descreveu a importância do espectro eletromagnético para os militares num artigo de opinião publicado em abril no website Breaking Defense. “Este ambiente é tão fundamental para as operações navais e tão importante para nossos interesses nacionais que devemos tratá-lo em pé de igualdade com nossos domínios tradicionais de terra, mar, ar e espaço”, afirmou Greenert. “Na verdade, os futuros conflitos não serão vencidos simplesmente usando o espectro EM e o ciberespaço, eles serão vencidos no espectro EM e no ciberespaço.”
Guerra eletrônica
O espectro eletromagnético inclui todas as frequências da radiação eletromagnética. É um espectro amplo de comprimento de onda que vai das ondas de rádio (usadas em comunicações de rádio), até micro-ondas, radiação terahertz, infravermelho, luz visível, ultravioleta, raios-X e raios gama (radiação gama).
A doutrina militar chinesa descreve o uso de tal tecnologia para a guerra eletrônica. Seus usos variam de sinais de interferência no espectro mais baixos até armas de micro-ondas de alta potência para desativar sistemas de mísseis inimigos e o uso de pulso eletromagnético (EMP) no nível de raios gama para fritar equipamentos eletrônicos em grandes áreas.
Essa tecnologia faz parte das armas chinesas “Maça Assassina” ou “Carta Trunfo” (Sha Shou Jian), descritas num relatório desclassificado do Centro de Inteligência Nacional da China. O documento afirma que elas são “armas modernas que permitem a China prevalecer sobre os EUA num conflito pela reunificação forçada de Taiwan”.
A natureza dessas armas se destina a permitir que a China desative a comunicação e os sistemas eletrônicos que são os pilares do exército dos EUA. O relatório afirma que a China “considera” o uso de armas nucleares detonadas em alta altitude para um ataque de EMP, “como uma arma Carta Trunfo ou Maça Assassina contra a infraestrutura eletrônica de Taiwan” ou contra a Marinha os EUA “caso um conflito ocorra no Estreito de Taiwan”.
Espectro eletromagnético
Muitos sistemas militares dependem do espectro eletromagnético. Um manual do Exército dos EUA afirma: “O uso do espectro eletromagnético é essencial para as operações militares em todos os níveis de comando”, mas observa que “em operações militares conjuntas, as exigências podem exceder a quantidade de espectro disponível”.
Devido às limitações na frequência e na natureza crítica da tecnologia, a guerra eletrônica está intimamente ligada à gestão do espectro eletromagnético.
O treinamento chinês foi realizado no centro de gestão do espectro eletromagnético da Área do Comando Militar (ACM) de Chengdu. Os quartéis-generais das várias ACM e suas ramificações na China enviaram cerca de 90 representantes de seus departamentos de tecnologia da informação para se juntarem ao treinamento.
Os militares chineses estão divididos em várias ACM, que cobrem diferentes regiões da China. Cada ramo dos militares chineses trabalha de forma independente, mas eles se coordenam por meio da “guerra conjunta integrada”. A abordagem chinesa é uma forma menos harmoniosa das “operações conjuntas” empregadas pelos militares norte-americanos, que tem todos os ramos trabalhando em conjunto e é fortemente dependente de sistemas de comunicação avançados.
Uma discussão também foi realizada sobre a monitoração da interconexão das redes militares e civis, segundo o Diário do Povo. Representantes compartilharam suas experiências de monitoramento das redes e incluíram pessoas dos departamentos de tecnologia da informação dos quartéis-generais das ACM de Shenyang e Nanjing e do 2º Batalhão de Artilharia.
O 2º Batalhão de Artilharia, também chamado de 2º Corpo de Artilharia, opera as armas nucleares estratégicas da China. Documentos vazados mostraram em janeiro de 2011 que o 2º Batalhão de Artilharia tem orientação para lançar ataques nucleares preventivos contra um país com armas nucleares, se o país lançar ataques aéreos contra um “alvo estratégico-chave” na China.