Um amigo meu que foi estudar na China me contou sobre um teste que ele e outras crianças foram orientados a fazer. Uma das perguntas era assim: “Durante a Guerra da Coreia, um piloto de caça chinês derrubou um avião americano apesar de ter equipamento inferior. Por que ele foi capaz de fazer isso?” A resposta a essa pergunta, disse meu amigo, era: “o piloto chinês tinha o espírito do comunismo”.
A Força Aérea atual da China e suas forças armadas como um todo ainda operam sob esse conceito. Ao invés de se focarem no treinamento de combate real, os militares chineses gastam longo tempo em grupos de estudo forçado da doutrina comunista.
A orientação militar para treinar menos e estudar mais o comunismo foi transmitida pelo Partido Comunista Chinês (PCC), e em 28 de agosto eles reforçaram esta abordagem. A nova regulamentação, aprovada pelo Departamento Político Geral do Exército da Libertação Popular, diz que seus militares devem participar nas “disposições da vida organizacional” do PCC.
Entre essas “disposições”, detalhadas pela mídia estatal chinesa Xinhua, há lembretes para participar das atividades e palestras do PCC, e adequar-se ao máximo ao estilo de vida exigido pelo regime comunista. E também os lembra de pagar seu dízimo ao PCC.
A doutrina recente contribui para um projeto de reforma dos militares chineses anunciado pelo Partido Comunista em novembro do ano passado. O objetivo, segundo a Xinhua, é constituir um exército que “obedeça ao comando do Partido Comunista, seja capaz de vencer batalhas e tenha um estilo de trabalho eficaz”.
O jornal The Diplomat resumiu o problema num artigo de 31 de janeiro. Ele afirmou, a respeito das forças armadas chinesas: “… um exército que passa muito tempo em treinamento é um exército que não está envolvido em significativa doutrinação política”.
“O pior pesadelo de Pequim”, diz o artigo, é que seus militares esqueçam de que sua “missão número um é proteger os líderes civis do Partido Comunista contra todos os seus inimigos, especialmente quando os ‘inimigos’ do PCC são estudantes ou grupos religiosos chineses que lutam por direitos democráticos…”
O Exército da Libertação Popular “tem de se engajar em ‘trabalho político’ constante à custa do treinamento de combate”, afirma o Diplomat. Assim, de 30-40% do tempo de um oficial militar chinês “é desperdiçado estudando propaganda do PCC, cantando canções patrióticas e participando de grupos de discussão sobre a teoria marxista-leninista.”
Para os Estados Unidos, os militares chineses inexperientes e doutrinados pelo comunismo significam problema, como foi visto recentemente na quase colisão entre um avião de vigilância dos Estados Unidos e um caça chinês. Em 19 de agosto, um caça chinês Shenyang J-11BH fez uma manobra perigosa perto de um avião P-8A de vigilância marítima da Marinha dos EUA.
O almirante John Kirby, porta-voz do Pentágono, detalhou a incursão numa conferência de imprensa em 22 de agosto. Ele disse que o incidente ocorreu cerca de 135 km a leste da ilha chinesa de Hainan, no Mar do Sul da China.
Ele disse que o avião chinês primeiro cruzou diretamente sob o avião americano, chegando a 15-30 metros de colisão, e em seguida passou ligeiramente o avião americano enquanto de cabeça para baixo para mostrar suas armas. O piloto chinês em seguida chegou a 6 metros da asa do avião americano antes de girar a apenas 12 metros acima dele.
As autoridades militares americanas, segundo a mídia Foreign Policy, disseram que o incidente foi particularmente perigoso, já que “muitos pilotos de caças chineses não são necessariamente bem treinados”. Kirby acrescentou que as ações provocativas por parte do piloto chinês foram “muito agressivas e nada profissionais”.