Militares da China espionam em Hong Kong a partir de base na montanha

29/11/2014 13:03 Atualizado: 29/11/2014 15:46

Os militares do regime chinês têm uma estação de escuta na Montanha Tai Mo de Hong Kong, o ponto mais alto no Sul da China, que eles usariam para espionar os cidadãos de Hong Kong. Desta estação, os militares chineses estariam monitorando as chamadas telefônicas, o tráfego Wi-Fi e os e-mails pessoais das pessoas em Hong Kong.

Os detalhes foram relatados na última edição da revista sino-canadense Kanwa Information Review (KIR), que conversou com especialistas em segurança que analisaram as imagens de satélite e foram até o local da base militar chinesa.

O tamanho e a localização da instalação sugerem que não é uma estação de radar. Ela tem um diâmetro de pouco mais de 15 metros – maior do que a estação de radar local para aviação civil e outra usada como observatório, segundo a KIR.

De acordo com a publicação IHS Jane’s, o local e seu perímetro abrangem uma área de cerca de 9.300 m². A instalação possui uma cúpula geodésica com um mastro de antena nas proximidades. As imagens de satélite mostram um total de três dessas cúpulas. Também está rodeada por cercas com arrame-farpado e, segundo a inteligência da IHS Jane’s, há várias câmeras de segurança no local.

Os relatórios da IHS Jane’s têm observado veículos militares chineses dirigindo até a Montanha Tai Mo em duas ocasiões para entregar suprimentos ou substituir o pessoal. E relata: “É muito provável que se trate de uma instalação de inteligência eletrônica e de sinalização (ELINT/SIGINT).”

Espionando Hong Kong

De acordo com a mídia Apple Daily de Hong Kong, um edifício perto da estação de escuta é guardado por pelo menos 50 soldados. O jornal publicou uma foto que mostra soldados usando capacetes e uniformes militares azuis “estilo-07” tipicamente usados por membros da força aérea do regime chinês.

Os uniformes não têm qualquer insígnia e, segundo a reportagem, os soldados seriam parte da 3º Destacamento militar chinês designado para ciberespionagem. O 3º Destacamento, parte do Departamento Geral de Estado-Maior do Exército da Libertação Popular (ELP), é o ramo de sinalização de inteligência do exército chinês, que também realiza ciberataques contra outros países.

O 3º Destacamento é um dos três departamentos dos militares chineses destinados à guerra de espionagem e à guerra não convencional. Os outros dois departamentos, também no âmbito do Departamento Geral de Estado-Maior, são o 2º Destacamento, com foco em inteligência humana, e o 4º Destacamento, dedicado à inteligência eletrônica.

Uma estação de monitoramento dos militares do regime chinês é mostrada no Google Earth, em Hong Kong. A estação seria utilizada para espionar cidadãos de Hong Kong (Google)
Uma estação de monitoramento dos militares do regime chinês é mostrada no Google Earth, em Hong Kong. A estação seria utilizada para espionar cidadãos de Hong Kong (Google)

Local controverso

A mídia de Hong Kong informou que os militares chineses começaram a construir a base da Montanha Tai Mo três anos atrás. A IHS Jane’s afirmou que a construção começou por volta de 2010 e está operacional há três anos. As imagens de satélite do local apareceram pela primeira vez em 2011.

A IHS Jane reportou em julho: “O governo de Hong Kong admitiu ter dado ao ELP um lote de terra” que se encaixa na descrição da instalação. Mas acrescenta que a “existência [da instalação] não foi confirmada publicamente”.

Em Hong Kong, há controvérsia sobre se a base operada pelo regime chinês viola o Acordo Sino-Britânico de Defesa Territorial de 1994 sobre bases militares. O Exército da Libertação Popular ocupa 19 instalações militares em Hong Kong, incluindo a instalação na Montanha Tai Mo.

A estação da Montanha Tai Mo está numa área atribuída ao governo de Hong Kong que não é designada para uso militar. Parece que a terra foi transferida secretamente por autoridades de Hong Kong para o regime chinês, que, em seguida, usou-a para construir uma base militar e estação de escuta que violam o tratado de 1994.

O Apple Daily contatou a Secretaria de Segurança de Hong Kong, a qual se recusou a comentar uma vez que a base envolve segredos militares. Os militares de Hong Kong também se recusaram a comentar. De acordo com IHS Jane’s, o Exército da Libertação Popular também se recusou a explicar o propósito da instalação.

Kenneth Chan, um legislador de Hong Kong, questionou o secretário Lai Tung-kwok do Departamento de Segurança a respeito da estação violar a lei de Hong Kong. Lai disse que instalação era para comunicação. Ele alegou que não era uma instalação militar, mas não quis fazer mais comentários, dizendo que há segredos militares envolvidos.

Estudantes iluminam seus telefones celulares durante protestos pró-democracia em Hong Kong em 1º de outubro. O regime chinês estaria espionando os telefones celulares dos cidadãos de Hong Kong a partir de uma base militar localizada numa montanha próxima (Paula Bronstein/Getty Images)
Estudantes iluminam seus telefones celulares durante protestos pró-democracia em Hong Kong em 1º de outubro. O regime chinês estaria espionando os telefones celulares dos cidadãos de Hong Kong a partir de uma base militar localizada numa montanha próxima (Paula Bronstein/Getty Images)

Estado policial da China

O 3º Destacamento do regime chinês opera várias estações de escuta em toda a China.

Ele tem uma base em Kashgar. Esta cidade mais ocidental da China fica na província de Xinjiang, lar da minoria uigur. Também há bases no Tibete perto da fronteira entre Índia e China. O regime chinês também tem três estações de escuta no litoral continental do estreito de Taiwan e em ilhas disputadas no Mar do Sul da China – então, a estação de escuta em Hong Kong fecharia o círculo de suas operações de monitoramento em todas as regiões chinesas que requerem democracia ou independência.

Além disso, no entanto, o regime chinês opera muitos outros locais de monitoração. Os mais importantes estão localizados perto das fronteiras da China, com apenas algumas exceções.

Entre outras grandes estações de escuta do regime chinês há instalações em Jilemutu, perto da fronteira com a Rússia; em Erlian, na fronteira da Mongólia; quatro na fronteira do Vietnã, incluindo em Hainan e Kunming; duas na fronteira norte-coreana, e muitas outras mais.

A estação de monitoramento na Montanha Tai Mo em Hong Kong complementa outros meios utilizados pelo regime chinês para espionar os cidadãos de Hong Kong.

A companhia de segurança Volexity descobriu recentemente o que eles acreditam serem hackers do governo chinês infectando websites pró-democracia em Hong Kong.

“Parece que alguém está tentando infectar e manter o controle sobre todas as pessoas pró-democracia em Hong Kong”, disse Steven Adair, CEO da empresa de segurança Volexity, ao Epoch Times numa entrevista anterior.

Os ataques contra websites pró-democracia em Hong Kong foram acompanhados por ataques semelhantes que tiveram como alvo os telefones celulares dos manifestantes pró-democracia em Hong Kong. O ataque foi descoberto por pesquisadores da Lacoon Mobile Security em 30 de setembro, que acredita que o regime chinês está usando os dispositivos móveis para espionar os residentes de Hong Kong envolvidos nos protestos.

Houve também casos mais bizarros do regime chinês espionando os cidadãos de Hong Kong. Em junho de 2010, foi descoberto que “cartões de inspeção e quarentena” – instalados nas janelas laterais dianteiras de todos os veículos com placas duplas da China e de Hong Kong – continham dispositivos de escuta.

Os dispositivos, que foram obtidos de forma independente e testados pelo Apple Daily, poderiam ser usados para espionar as conversas.