Enquanto a alta liderança chinesa define políticas nacionais a portas fechadas num hotel administrado pelo Exército da Libertação Popular em Pequim, dezenas de milhares de chineses de todo o país se reuniram na capital – não para celebrar o evento nacional, mas para expor suas queixas e exigir soluções.
“Por volta das 10h, havia mais de dez mil pessoas fazendo fila”, disse Wang Jing, uma ativista dos direitos da província de Jilin, em referência à Secretaria Estatal de Cartas e Chamadas, o órgão onde peticionários têm o direito legal de recorrer às arbitrariedades do regime.
“Toda vez que o Partido Comunista Chinês tem uma reunião importante, peticionários de toda a China desejam ir a Pequim na esperança de que de alguma forma o governo os ouvirá e ajudará a resolver suas queixas”, disse Wang em entrevista por telefone com o Epoch Times.
O evento nacional é a 4ª Plenária do Congresso Popular Nacional do 18º Comitê Central do Partido Comunista Chinês (PCC), o maior encontro anual dos líderes do PCC.
“Nós apenas passamos pelo lado oeste de Zhongnanhai [a complexo central da liderança do PCC] e ele está fortemente vigiado… há milhares de interceptadores”, disse Zhang Baozhu numa entrevista por telefone com o Epoch Times. “A polícia está verificando os documentos das pessoas e se eles percebem que alguém é um peticionário, eles arrastam a pessoa à força para dentro de uma viatura.”
“Eu gritei ‘Abaixo com a corrupção’ e logo em seguida a polícia me arrastou para um carro e me levou para uma delegacia de polícia”, disse Zhang.
Os ‘interceptadores’ são basicamente bandidos contratados e enviados pelos governos locais para raptar as pessoas de suas áreas e impedi-los de protestar. [Muitos peticionários de uma mesma região convergindo em Pequim pode resultar na punição das autoridades locais ou mesmo arruinar suas carreiras.]
“Eu estive na prisão 7 ou 8 vezes e em cada ocasião o governo local gastou 13.500 yuanes [US$ 2.205] para me levar de volta”, disse Zhang. “Desta forma, muitos milhares de yuanes foram gastos apenas comigo. Mas o governo ainda não está disposto a me ajudar.”
Zhang disse que em 2004 a polícia local sequestrou-a e levou-a para um hospital psiquiátrico e então demoliu sua casa de 1.300 metros quadrados. Desde então, ela tem viajado frequentemente a Pequim como peticionária.
“Agora, a opressão em Pequim é muito grave. Táticas antiterroristas são usadas contra peticionários como se eles fossem terroristas”, disse Lu Qiumei, um peticionário da cidade de Linyi, na província de Shandong, em entrevista por telefone com a emissora nova-iorquina NTDTV.
Huang Qi, editor do 64Tianwang, um conhecido website de direitos humanos na China, disse que um grande número de peticionários tentou entrar no Hotel Jingxi, onde os principais líderes chineses realizavam seu conclave político até 23 de outubro, mas eles foram todos removidos e repelidos.
“Há cerca de 6.000 peticionários em Zhongnanhai”, disse Huang, informou a Radio Free Asia, em 20 de outubro.