Dezenas de milhares de residentes de Hong Kong saíram às ruas, na segunda-feira, para exigir democracia, enquanto o público se preocupa cada vez mais com a penetração de Pequim na independência da cidade.
O grupo civilista organizador da marcha, a Frente Civil dos Direitos Humanos, estimou que 430 mil pessoas participaram dos protestos, na segunda-feira, apesar da chuva forte ocasionada por um tufão que se aproximava. As forças policiais de Hong Kong, no entanto, relataram apenas 66 mil manifestantes.
A cidade, uma ex-colônia britânica, foi devolvida à soberania chinesa em 1º de julho de 1997. Todos os anos, uma marcha é realizada nessa data para pedir democracia e sufrágio universal. Em Hong Kong, o líder político local, chamado de ‘chefe-executivo’, é eleito por um comitê eleitoral composto de menos de 0,02% da população da cidade. Uma proporção de membros do Conselho Legislativo também é eleita por meio de eleições fechadas entre os setores empresariais.
Embora as autoridades do continente chinês tenham prometido sufrágio universal para as eleições de 2017 do chefe-executivo, os residentes de Hong Kong estão preocupados que a liderança de Pequim tenha influência considerável sobre os candidatos concorrentes, especialmente após Qiao Xiaoyang, um alto oficial da China continental, observar que os candidatos não podem ser aqueles que “confrontam o governo central”, reportou o Diário da Manhã do Sul da China.
Um participante na marcha, que se identificou apenas como Leung, não acredita que eleições verdadeiramente livres possam ocorrer. “O Partido Comunista Chinês [PCC] não tolerará o sufrágio universal em Hong Kong. Eles não compartilharão seu poder com o povo… A única maneira que resta é derrubar o governo, derrubar o PCC.”
Nas últimas semanas que antecederam a marcha, a preocupação dos cidadãos de Hong Kong pela perda de suas liberdades civis fundamentais atingiu um novo patamar, quando várias organizações de mídia de Hong Kong, cujos artigos frequentemente criticam o regime da China continental, foram atacadas. Muitos suspeitaram que os ataques foram coordenados pelo regime chinês para silenciar as críticas, criando um “abrandamento” da liberdade de expressão em Hong Kong.
No domingo, 26 mil jornais do Apple Daily foram incendiados num ponto de distribuição no Distrito Central, segundo seu publicador Next Media. O Apple Daily é um jornal popular conhecido por ser crítico à liderança de Pequim e apoiar a causa democrática em Hong Kong.
O ativista da democracia e legislador Leung Kwok-hung disse à BBC China que recebeu um telefonema anônimo no sábado, quando um homem ameaçou que Leung “pagaria pelas consequências” se participasse da marcha recente. No entanto, Leung compareceu à marcha.
Tais incidentes intensificam a diferença entre Hong Kong e o continente. Num artigo recém-publicado pela Universidade de Hong Kong, apenas 36% dos residentes locais se identificaram como cidadãos chineses, o menor percentual desde 1999.
A marcha partiu do Parque Vitória em torno de 14h40 hora local. Os manifestantes gritavam slogans como “lutem pela democracia, sem medo da chuva ou do vento” e exibiram faixas pedindo a renúncia do chefe-executivo Leung Chun-ying, que está envolvido em vários escândalos desde antes de assumir o cargo no ano passado, incluindo o boato de que seria um membro do PCC.
O manifestante Sr. Wong disse que Leung Chun-ying tem um histórico terrível. “Em termos de política pública, sua administração é fraca e tem havido grande inflação. Quanto à democracia, o sufrágio universal não foi instituído, especialmente devido às intervenções do PCC. Assim, Hong Kong não desfruta de verdadeira democracia. Acho que seu governo seria bom se de fato melhorasse a vida das pessoas.”
A organizadora da marcha Jackie Hung Ling-yu disse que a supressão das liberdades só se agravará se Leung não for derrubado. “O governo pensa que usar esses métodos para eliminar a voz das pessoas é eficaz, então, Leung Chun-ying deve sair.”
Organizações pró-democracia e outros grupos também participaram da marcha para defender suas causas, como anticorrupção e liberdade de expressão.
Como Hong Kong é o único lugar no Estado chinês onde as pessoas podem se reunir livremente, muitos cidadãos chineses do continente viajam para Hong Kong para expressar suas queixas. Tendo apelado às autoridades da China continental por anos sem obter resposta, Ran Chongbi, uma moradora da cidade de Dongguan, província de Guangdong, chegou a Hong Kong para buscar reparação por sua filha, que foi estuprada em 2008 quando tinha 5 anos. O agressor recebeu uma sentença leve de seis anos de prisão e uma multa de alguns milhares de yuanes, alegando que confessou o crime e não tinha condições financeiras para pagar a multa, segundo Ran Chongbi. Ela espera que, ao participar de marcha de 1º de julho, ela possa divulgar ao mundo o caso da filha.
O código de direito penal chinês diz que estupro infantil é punível com pelo menos dez anos de prisão. Ran Chongbi tem apelado desde 2008 contra o tribunal que julgou o caso da filha, mas foi repelida repetidamente pela polícia e espancada por bandidos contratados pela Secretaria de Segurança Pública de Guangdong. “Há tantos injustiçados na China, centenas de milhares, e não há direitos humanos ou democracia para argumentar. Espero que o povo de Hong Kong preste atenção no caso de minha filha, ajude-a a superar sua experiência e me ajude a obter justiça.”
Muitos chineses do continente que tentaram ir a Hong Kong para a marcha foram detidos pelas autoridades locais. Embora Jin Wenmei, uma peticionária da cidade de Zhanjiang, província de Guangdong, tenha residência em Hong Kong, ela foi detida pelas autoridades de Guangdong, que a impediram de comparecer à vigília de velas de 4 de junho em Hong Kong em memória às vítimas dos protestos pró-democracia de 1989 e de viajar para Hong Kong para a marcha recente.
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