Milhares em Hong Kong pedem explicação por licença de TV negada

31/10/2013 09:54 Atualizado: 31/10/2013 10:34

Dezenas de milhares de cidadãos de Hong Kong convergiram para uma semana de protestos em apoio à ‘Hong Kong Television Network’ (HKTV), que foi negada uma licença pelo governo de Hong Kong.

Celebridades, funcionários da HKTV e grupos democráticos se reuniram em frente à sede do governo entre 20-26 de outubro. Os organizadores estimam que mais de 100 mil participantes apareceram para defender a popular rede de televisão, que teve de demitir 320 funcionários depois que o governo se recusou a renovar sua licença.

Os manifestantes exigem que o governo se explique, porque ele deu licenças a duas outras estações – a i-Cable e a PCCW’ Now TV – e não apresentou uma razão clara para negar a HKTV.

Funcionários da HKTV realizaram a sexta e última manifestação na sexta-feira à noite entre 20h-23h. Os participantes gritaram para que Leung Chun-ying, o chefe-executivo de Hong Kong, e seu Conselho Executivo “admitissem seu erro” e que Leung deveria “renunciar”.

O sindicato dos funcionários da HKTV pretende se reunir novamente em alguns dias, o presidente da HKTV planeja uma ação legal e muitos grupos democráticos e outros procuram manobras parlamentares para forçar o governo a esclarecer suas razões para negar a licença.

Um artigo da Zdnet.com descreveu a HKTV como “uma startup que promete transmitir programação crítica em Hong Kong, que reflete as realidades da vida em Hong Kong”.

“A recusa em fornecer razões para a recusa de conceder uma licença levantou suspeitas de que a influência do regime comunista chinês esteja por trás da decisão e que isso reflete o desejo de Pequim de infiltrar-se na liberdade de imprensa em Hong Kong, na tentativa de alinhar Hong Kong com os valores do Partido Comunista Chinês [PCC]”, afirmou o artigo da Zdnet.com.

Entre os manifestantes na marcha estavam funcionários públicos, que normalmente são apolíticos, e estudantes. “Fiquei chocado com a recusa da licença”, disse o Sr. Chung, do Departamento de Serviços Elétricos e Mecânicos, que participou dos protestos por quatro noites, segundo o Apple Daily. “Com um evento tão chocante, não se deve culpar os funcionários públicos e estudantes por participarem. Temos que lutar por nossos direitos.”

Um estudante chamado James disse: “Alguns, sob o pretexto de ‘estudar primeiro’, escolheram ignorar o que está ocorrendo, o que leva ao esquecimento da situação atual. Um dia, no futuro, quando formos oprimidos, ninguém virá em nosso socorro.”

Apoio das celebridades

Além dos apresentadores da HKTV presentes no evento, muitas celebridades passaram a apoiar a causa. Um deles foi o famoso ator Andy Lau, que incentivou os funcionários da HKTV por meio de um vídeo, dizendo que o sindicado da HKTV era “racional e coerente”. Lau disse: “Estou muito emocionado com sua conduta. Espero que vocês obtenham uma resposta. Deixe-me dizer mais uma vez: Eu os apoio! Mantenham o ânimo!”, provocando aplausos nos presentes.

O cantor britânico Kashy Keegan voou do Reino Unido para mostrar seu apoio. Membros de diferentes equipes da HKTV, incluindo alguns que foram demitidos, revezaram-se para expressar seus sentimentos no palco. A atriz Yoyo Mung disse soluçando: “Por que nos obrigam a parar? Eu realmente quero perguntar: Por que não obtivemos a oportunidade de melhorar?”

Paul Chun, um ator famoso de Hong Kong e pai do ator Benji Chiang Man-kit da HKTV, recordou como ele advertiu o filho quando ele quis entrar na carreira: “Você tem que trabalhar com entusiasmo e arduamente para se preparar bem.” Ele disse que o que ele ensinou ao filho é contrário ao que o governo está fazendo agora e criticou o governo por não dar explicação pela negação da licença.

“Acho que o espírito da HKTV é o espírito do povo de Hong Kong e o espírito das pessoas de Hong Kong é o meu espírito”, disse a atriz Maggie Cheung. “Espero que o governo preste atenção. Nós queremos saber a verdade, para preservar os valores fundamentais de Hong Kong, pela justiça e transparência. A situação atual é amargamente decepcionante.”

Desafios legais

Ricky Wong Wai-kay, o presidente da HKTV, disse que buscaria reparação legal e o sindicato dos funcionários, os grupos democráticos e o Partido Liberal têm apelado ao governo para que reconsidere sua decisão. O sindicato deu ao governo até 26 de outubro para explicar a negação da licença e expressou insatisfação pela falta de resposta do chefe-executivo Leung, segundo o Diário da Manhã do Sul da China.

O funcionário público Greg So Kam-leung afirmou que já havia explicado a decisão do governo numa carta à HKTV no sábado, segundo o Diário. No entanto, a carta teria afirmado apenas que “uma série de fatores foram considerados”, acrescentou o Diário.

O governo também afirmou que a questão envolvia “processos judiciais” e, portanto, não poderia oferecer uma explicação, segundo o Diário. Grupos democráticos, o Partido Liberal e um grupo político chamado ‘Partido Popular de Oposição’ insistiram ao governo que mude ou explique sua decisão. “A concessão de três licenças [em vez de apenas duas] é a maneira mais fácil de desarmar essa bomba política”, disse o líder liberal James Tien Pei-chun, segundo o Diário.

O próximo passo

Vários funcionários da HKTV permanecem acampados em frente à sede do governo, enquanto Henry Yeung Chi-ho, o presidente do sindicato da HKTV, disse que estão planejando o que fazer em seguida, segundo o Diário.

O sindicato retornará para outra manifestação em 6 de novembro, quando o Conselho Legislativo debaterá o assunto. O Partido Liberal pró-democracia e, possivelmente, outros legisladores tentarão usar a “Portaria de poderes e privilégios” para forçar o governo a mostrar os documentos que fundamentem a negação da licença.

De acordo com o Apple Daily, se o Conselho não empregar a portaria, os internautas bloquearão as vias de acesso ao edifício. Os internautas também pediram a todos na cidade que desliguem seus televisores em protesto em 30 de outubro entre 7h e 22h, informou o Apple Daily.