Sina Weibo, um serviço similar ao Twitter, é visto sob a lente implacável do regime comunista chinês
Citando a influência na opinião pública do Weibo, uma plataforma de mídias sócias e microblogues na internet chinesa similar ao Twitter, um oficial militar do Exército da Liberação Popular (ELP) disse numa entrevista recente que os microblogues Weibo representam um perigo para a segurança nacional, porque espalham ideias de governo constitucional, liberdade de expressão e outros conceitos “perigosos” do Ocidente.
Numa entrevista com o ‘Chinese Social Sciences Today’ (CSST), Li Dianren, que é tenente-general e instrutor na academia militar chinesa, a Universidade de Defesa Nacional do ELP, qualificou a internet de uma nova frente de batalha na guerra de propaganda sobre opiniões divergentes. Ele listou o constitucionalismo, o neoliberalismo econômico e o “niilismo histórico”, como as três principais ameaças à ideologia do Partido Comunista Chinês (PCC).
Ele explicou o último item como versões da história que “negam a revolução, a escolha da China do caminho do socialismo ou o status histórico e o papel do PCC”. Ele também condenou as ideias de um sistema multipartidário ou a separação dos poderes que se originam do Ocidente, dizendo que elas “difamam e negam o sistema político do país”.
A série de pergunta e resposta com Li Dianren foi inicialmente publicada num jornal ideologicamente denso do PCC, mas foi reproduzida em tom de gozação pela Caijing, uma revista de negócios com tendências liberais. Os editores grifaram as partes mais coloridas da entrevista, enquanto cerca de 9 mil internautas postaram comentários.
Num ponto o entrevistador pergunta: “O ataque e a defesa online se tornaram uma parte essencial da guerra moderna e lutar em microblogues se tornou um aspecto importante da guerra online. Então, qual o efeito dos microblogues na defesa e segurança nacionais?”
Li Dianren respondeu seriamente: “A guerra psicológica, a guerra jurídica e a guerra da opinião pública são ferramentas importantes no combate moderno. A luta em microblogues faz parte das ‘três categoria de guerra’.”
O PCC é conhecido por realizar uma política intensa e complexa de vigilância e censura na internet, bem como apagar postagens, o regime também contrata um número incontável de comentaristas online, chamados de “exército dos 50 centavos” (devido ao valor que seriam pagos por postagem), cuja função é manipular a opinião pública.
Li Dianren rejeitou aqueles na China que interpretam o “Sonho da China”, um slogan frequentemente repetido pelo líder chinês Xi Jinping, como um “sonho de constitucionalismo”, como alguns intelectuais liberais desejariam.
Internautas chineses usam frequentemente o Weibo para se queixar sobre a corrupção oficial, o abuso de poder e outras injustiças que enfrentam comumente. Os internautas também têm publicado e divulgado os últimos incidentes que acorrem em suas localidades e que muitas vezes expõem falhas do governo.
Quando um trem de alta velocidade colidiu com a traseira de outro em Wenzhou, na província de Zhejiang, matando pelo menos 40 pessoas, as autoridades primeiramente tentaram abafar a história. Mas quando a notícia apareceu no Weibo, o escrutínio público implacável tornou impossível para os oficiais não explicar o que aconteceu.
Assim, o Weibo se tornou uma das poucas plataformas onde as pessoas podem criticar abertamente o regime chinês e sua propaganda oficial, apesar de temas “sensíveis” serem rotineiramente censurados nos mecanismos de busca. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas estima que existam atualmente mais de 309 milhões de usuários de plataformas de microblogue na China.
Li Dianren advertiu contra os acadêmicos que postam mensagens no Weibo promovendo a liberalização dos bancos e a privatização de empresas estatais e terras, bem como “elementos dissidentes” que acumularam um grande número de seguidores no Weibo.
Para combater “as forças inimigas nacionais e estrangeiras que utilizam o Weibo para se infiltrarem na cultura de pensamento”, Li Dianren disse que se deve difundir propaganda para “orientar a opinião pública” em favor do regime, combinando o trabalho de agências estatais, acadêmicos apoiados pelo regime e órgãos de propaganda e jornalistas afiliados aos militares.
Os internautas chineses expressaram principalmente indignação com a retórica. Um usuário do Sina Weibo postou: “Não nos considere como massas ignorantes. Nós sabemos distinguir o certo do errado.”
Outro contra-argumentou: “A economia de hoje é de fato monopolizada por oficiais, isso não tem nada a ver com liberalismo… a arma das forças progressistas é o realismo histórico, não o niilismo histórico. É ter uma atitude realista sobre a história, restaurar a verdade histórica e admitir a realidade atual!”
Um internauta de pseudônimo “Beijing Cook” comentou: “O povo os alimenta, lhes dá bom licor para beber e gasta dinheiro para apoiá-los a comprar e fabricar as melhores armas para resistir à invasão estrangeira. No final, vocês querem apontar a lança para as pessoas para ensiná-las como falar e como usar a internet? Que espécie de soldados vocês são? O que estão tentando fazer? Estabelecer um regime militar?”
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