Mídia chinesa revela como comprar e vender cargos públicos

25/11/2014 15:44 Atualizado: 25/11/2014 15:47

Como vender ou comprar uma posição oficial? Quando é o melhor momento para fazê-lo? Quem são os possíveis candidatos para a venda ou compra de posições oficiais? A Xinhua, uma mídia estatal porta-voz do Partido Comunista Chinês, expôs alguns dos detalhes da corrupção oficial desenfreada na China por meio de entrevistas com funcionários das organizações anticorrupção do regime.

Depois de inspecionar 31 províncias, 7 instituições e 6 empresas centrais e duas universidades afiliadas nos últimos dois anos, as equipes de investigação do regime chinês descobriram que subornar para conseguir promoção na carreira e até mesmo a compra de cargos são questões graves em diversos locais. A quantidade de suborno para cargos oficiais em alguns casos chega a dezenas de milhões de yuanes (10 milhões de yuanes equivale a US$ 1,63 milhão), diz a matéria.

Um funcionário sênior de uma organização anticorrupção indicou que três tipos de pessoas compraram cargos públicos: pessoas que querem obter uma promoção, pessoas que querem ser transferidas de uma região pobre para uma rica e pessoas que trabalham numa empresa não-governamental e que querem se tornar funcionários de uma empresa estatal.

Muitos venderam posições oficiais, incluindo altos funcionários que tem o poder de decidir mudanças de pessoal, vices, e, por vezes, terceiros ou quartos na linha de comando, aceitam subornos para viabilizar promoções, informou a reportagem.

As melhores oportunidades de subornar funcionários de alto escalão são durante as férias, quando familiares estão doentes, quando seus filhos planejam estudar no exterior e durante eventos familiares importantes, como um casamento. A compra e venda de posições oficiais também ocorreu com frequência antes de eleições e de mudanças na liderança do Partido Comunista Chinês.

Às vezes, funcionários de alto escalão vazariam informações de mudanças de pessoal para atrair subornos. Outras vezes as posições oficiais foram inclusive precificadas para que o oficial superior deixasse claro o montante necessário para a aquisição de um cargo. Sem conseguir o dinheiro, a pessoa não seria promovida, disse o artigo.

Um especialista em combate à corrupção indicou que, como o valor do suborno por uma posição oficial é significante, as pessoas costumam pedir dinheiro emprestado de conhecidos, obter empréstimos institucionais, procurar donos de empresas privadas em busca de patrocínio e desviam fundos públicos para obter o dinheiro do suborno.

Uma das razões para essa compra e venda desenfreada de cargos no oficialismo chinês é por causa da concentração de poder no único líder de uma unidade. Se o líder é um funcionário corrupto, isso não deixa margem para promoção exceto por meio de suborno.

O sistema de promoção e eleição oficial não é regulamentado, não permite transparência ou mobilidade exceto pela ordem ou autorização do mandachuva setorial e possui muitas brechas que facilitam a corrupção. A falta de um sistema de monitoração e delação também é uma razão para a ocorrência de corrupção, diz o relatório.

Um exemplo da venda de cargos oficiais foi apresentado como um caso típico. Zhang Xiaodong, secretário do Partido Comunista Chinês na cidade de Anyangyuan, província de Henan, foi acusado de aceitar suborno em 33 casos envolvendo mudança de pessoal. No maior caso, Zhang embolsou 2 milhões de yuanes (US$ 326,547) em suborno pela promoção de um indivíduo.

A reportagem, publicada em 16 de novembro, foi amplamente reproduzida pela mídia chinesa impressa e online. No entanto, muitos dos websites do continente censuraram e excluíram a matéria em 17 de novembro, incluindo o próprio site da Xinhua, sem dar qualquer explicação.