Microcrédito na Índia: Pequenos empréstimos, grande mudança

23/04/2013 16:54 Atualizado: 25/04/2013 18:35
Funcionários da organização indiana Microcrédito SKS recebem o pagamento mensal de um mutuário numa reunião na vila de Vadod, Índia, em 6 de janeiro de 2011 (Sam Panthaky/AFP/Getty Images)

Desde que o conceito surgiu em Bangladesh há quase três décadas, “o microcrédito provou seu valor em muitos países como uma arma contra a pobreza e a fome”, disse Kofi A. Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, numa ocasião.

“Isso realmente pode mudar a vida das pessoas para melhor, especialmente a vida daqueles que mais precisam”, acrescentou Anan, segundo o website da ONU.

Baby Mangalath, empresário indiano nesta indústria, esclarece: “Microcrédito é a organização de pessoas marginalizadas para oferecê-las assistência financeira por meio de pequenos empréstimos que elas nunca poderiam obter de outra forma.”

O economista Muhammad Yunus ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2006 por popularizar o conceito. Seu trabalho em microcrédito começou em sua aldeia natal de Bathua, Bangladesh, na década de 1970 e se espalhou amplamente nas três décadas seguintes. É um negócio em crescimento na Índia – algo que Yunus diz poder quebrar o círculo vicioso da pobreza, oferecendo oportunidades para a geração de renda de autônomos.

Hansaben, uma aldeã indiana recipiente de microempréstimo, ao lado de sua máquina de costura na vila de Vadod, Índia, em 6 de janeiro de 2011 (Sam Panthaky/AFP/Getty Images)

Como funciona

Mangalath trabalhou para empresas de microcrédito por mais de 10 anos. Agora ele dirige seu próprio negócio, a Fundação Vida, no estado de Kerala, no sul da Índia. Com 20 funcionários, ele apresenta programas de microcrédito em aldeias em todo o estado.

Antes de ir a uma aldeia, eles providenciam que uma carta seja enviada para cada lar ou para que um membro do comitê da aldeia visite cada casa para informar as pessoas de que uma apresentação sobre microcrédito ocorrerá. Mangalath e sua equipe fazem uma apresentação, especialmente voltada para as mulheres.

A equipe discute projetos viáveis com os aldeões e alguns são selecionados. Então, a equipe registra os fundos iniciais necessários e desembolsa os empréstimos que vêm de bancos e empresas de microcrédito.

Mangalath e sua equipe acompanham regularmente e prestam assistência ao longo do caminho, incluindo o treinamento de habilidades.

“Se você não acompanhar, então, há uma chance maior de um empréstimo ficar inadimplente”, diz Mangalath.

Empresas de microcrédito funcionam como uma espécie de ligação com a comunidade. Bancos e instituições financeiras fornecem os fundos, mas não têm funcionários para enviar às reuniões em aldeias ou para visitar aldeias e dizer às pessoas sobre oportunidades de negócios e orientá-las durante o processo. Mangalath diz que este é o serviço que sua empresa oferece.

O trabalho pode parecer desorganizado, mas as contas são devidamente mantidas, assegurou ele ao Epoch Times.

Ele explica por que se concentra em projetos para mulheres: “As mulheres são a espinha dorsal da família. A melhora de seu bem-estar se reflete em toda a família.”

Elas também são menos propensas a falharem no pagamento dos empréstimos, disse ele.

Os projetos frequentemente envolvem agricultura, criação de animais ou outros empreendimentos de pequeno porte.

Sem acesso a serviços financeiros formais, a única alternativa disponível para as pessoas em muitas cidades e comunidades rurais são agiotas locais que cobram altas taxas de juros. Os mutuários são pegos numa armadilha de juros que continuam a pagar, às vezes, por toda a vida. Eles acabam pagando muitas vezes o valor que originalmente emprestaram.

Na Índia rural, agiotas muitas vezes fazem agricultores trabalharem sem remuneração. As más condições meteorológicas, a necessidade de ter sementes e equipamentos para competir com as fazendas industriais e outros fatores podem fazer um fazendeiro depender fortemente de empréstimos.

A alta taxa de suicídio entre agricultores na Índia tem causado alarme na última década e sido muito discutida na mídia. O ministro da agricultura indiano Sharad Pawar disse no ano passado que o governo aumentaria o investimento em agricultura para resolver o problema, segundo a BBC.

Mas um estudo publicado no jornal de revisão médica The Lancet descobriu que “embora a maioria das mortes por suicídio ocorra em áreas rurais, nossos resultados não sugerem que o suicídio seja mais prevalente em trabalhadores agrícolas (incluindo agricultores) do que em qualquer outra profissão.”

Uma candidata a empréstimo segura a filha enquanto reescreve sua assinatura escrita por um funcionário da companhia Microcrédito SKS numa reunião na vila de Vadod, Índia, em 6 de janeiro de 2011 (Sam Panthaky/AFP/Getty Images)

O futuro

O microcrédito desempenha um papel importante no desenvolvimento econômico dos países em desenvolvimento como a Índia, onde a maioria das pessoas é de classe pobre ou média. A indústria passa por constante evolução e, como as necessidades de cada pessoa são únicas, para satisfazê-las, novos modelos devem ser criados.

Empresas como a Kiva.org estão surgindo online para oferecer às pessoas ao redor do mundo pequenos empréstimos a partir de US$ 25.

Ainda há muitos fatores que afetam a indústria de microcrédito, pois ela ainda está em sua infância. Com 1,2 bilhão vivendo na pobreza extrema em todo o mundo, segundo estimativa do Banco Mundial, a demanda por microcrédito certamente existe.

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