A criminosa derrubada de um avião comercial da Malaysia Airlines teve o efeito de um raio: matou infelizmente a vários, mas — precisamente como fazem tais raios — iluminou com uma claridade terrível um panorama então coberto de trevas.
Densas trevas, sim, que há anos vêm toldando progressivamente os horizontes da política internacional, com óbvios reflexos sobre a política interna dos países onde ainda há liberdade.
Convém que a realidade assim posta em evidência com o fulgor irresistível, mas tão transitório, de um raio, não seja esquecida pela opinião pública.
Bem ao certo, o que houve? Ainda se discutem pormenores. Mas, o fato essencial está aí: um país agressor já tinha invadido e anexado uma região de um país vizinho: a Rússia se apossou ilegalmente e pela violência da Crimeia.
Porém, o invasor queria mais. E, para isso, vinha atiçando uma guerra subversiva com pretextos culturais e étnicos contra a vizinha Ucrânia.
Nós conhecemos fenômenos análogos na América Latina alimentados desde Cuba. Alguns crepitam semeando destruição e morte, como as FARC na Colômbia.
No Brasil, “movimentos sociais” como o MST, o CIMI, apoiados por ONGs e simpatizantes internacionais de esquerda, trabalham para criar espécies de secessões, ou áreas onde não mais vigoram plenamente as leis que cimentam a unidade do Brasil.
Até a maioria dos cidadãos por razões étnicas ou culturais não podem ingressar em alguns desses territórios, submetidos a estatutos especiais.
Esses secessionismos peculiares em cada país e em cada grupo étnico e cultural também dividem a maioria da opinião pública nos países onde existem.
Pois para uns se trata de reivindicações peculiares de minorias culturais, étnicas ou sociais reconhecidas por leis com as quais podem até estar em desacordo. Para outros, a mão do comunismo está por trás.
O segundo grupo é olhado com desdém pelo primeiro. “Comunismo? O comunismo já era! Há em verdade alguns redutos comunistas como Cuba, mas que acabarão por se adaptar ao resto do mundo.”
E se houvesse dúvida, ali está Vladimir Putin que sem renunciar ao passado soviético, aparece para alguns como uma espécie de novo Carlos Magno vindo do Oriente para derrotar o caos do Ocidente.
Putin conseguiu ir persuadindo certos ingênuos do Ocidente, de que ele estava promovendo na Rússia um enigmático processo de restauração moral e religioso.
Moscou, muito favorecida pelo supercapitalismo, pelas superindústrias e pelos superbancos do Ocidente, estaria mudando. O supersuprimento de recursos financeiros, econômicos e técnicos de múltiplas ordens estava transformando a “nova URSS” de Putin num país moderno.
A Rússia está se impondo como o líder político dos países emergentes conhecidos como BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
E à testa da imensa nação russa instalou-se um personagem que gradualmente – sem conversão e sem explicações – um dia passou a ser tido como grande defensor do cristianismo, dos valores básicos da vida, da família, do casamento, do patriotismo nacional: Vladimir Putin.
A História jamais compreenderá como tal ilusão pôde ganhar pé no momento mesmo em que a velha URSS se metamorfoseava numa “nova URSS” e vem estendendo suas garras em todos os continentes.
Haja vista a cálida e idílica recepção que lhe foi conferida em sua recentíssima passagem por Cuba e pela América do Sul.
Recepção de quem? Dos líderes comuno-populistas que vêm efetivando a destruição dos valores que certos ingênuos acham que Putin vai resgatar.
Similis simili gaudet. O semelhante se regozija com seu semelhante, diz o sábio adágio latino. Isso se evidenciou eloquentemente com gestos, palavras e silêncios astutos dos líderes “chavistas” latino-americanos além do representante castrista com Vladimir Putin!
Mas nada disto abria os olhos dos enganados.
Até que o crime contra o Boeing 777 da Malaysia Airlines que ceifou 298 vidas foi como um raio em céu sereno. O avião comercial foi atingido por um míssil mortífero, mas esclarecedor. Esclarecedor porque nos faz ver o que há de falacioso no mito do “cristianismo” humanitário de Putin.
Há pouco mais de 30 anos, em 1º de setembro de 1983, jatos Sukhoi Su-15 soviéticos derrubaram um Boeing 747 da Korean Airlines e mataram todos os seus 269 passageiros e tripulação.
Pretextos diversos foram aduzidos então para o criminoso atentado, mas após investigação ficou averiguado para a história que a derrubada fora intencional, despropositada e ordenada por Moscou.
Certas formas de impiedade têm necessidade de desafogos, e esses são horríveis. Na Ucrânia, “ex”-comunistas, milicianos separatistas e batalhões de mercenários ilegais enviados desde a Rússia estavam perdendo posições.
Os planos de Putin para a anexação do leste ucraniano estavam indo água abaixo.
Que esta tremenda tragédia faça abrir os olhos dos que foram enganados pela metamorfose cosmética capitaneada pelo líder da KGB para restaurar o império soviético sobre novas bases.
Luis Dufaur edita o blog Flagelo Russo
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