Os acordos de investimento e as crescentes relações comerciais entre Argentina e China estão deteriorando os laços econômicos entre Argentina e Brasil, principais parceiros do Mercosul. Diante deste contexto, o chanceler brasileiro Mauro Vieira viajou para a Argentina no último 10 de fevereiro para se reunir com os ministros argentinos Axel Kiciloff (Economia), Débora Giorgi (Indústria) e Julio De Vido (Planejamento), informou o jornal Clarin em 11 de fevereiro.
O Brasil acompanha “rigorosamente e com preocupação” os acordos de investimentos recentes entre China e Argentina, segundo o jornal. “O acordo refletirá ainda mais na indústria brasileira e pode prejudicar até mesmo o setor agrícola no Brasil”, disse o empresário brasileiro Pedro Luiz Passos, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), para o jornal Folha de São Paulo, citado pelo jornal El Cronista Comercial em 10 de fevereiro.
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“A aliança entre Buenos Aires e Pequim abre a possibilidade para que empresas chinesas tenham presença em níveis até agora desconhecidos no continente”, disse Passos com preocupação, e também advertiu que as empresas que se estabelecerem no país sul-americano poderão até mesmo trazer mão de obra da China (de acordo com o polêmico artigo 6º da Convenção).
Além disso, o empresário considerou que o acordo abre uma porta para a importação de insumos e bens de capital sob condições mais favoráveis do que as concedidas a outros parceiros comerciais. “Este acordo vai acentuar o já significativo avanço chinês sobre os mercados de empresas brasileiras”, disse ele.
Na verdade, desde que a China pôs os pés na região, o Mercosul perdeu ligações intra-regionais. Por exemplo, a Argentina e o Brasil, em geral, perderam mercado no Uruguai e no Paraguai com o avanço dos produtos chineses com os quais é impossível competir no quesito preços.
Os números falam por si: as exportações brasileiras para o Mercosul, entre 2008 e 2012, cresceram 4,6%, enquanto as importações provenientes do bloco sul-americano de procedência chinesa cresceram 115%.
A preocupação dos principais sócios do Mercosul é tamanha que em 10 de fevereiro, a União Industrial Argentina (UIA) solicitou uma reunião com o governo para atualizar-se dos recentes acordos com a China, por considerar que eles concedem benefícios exclusivos a empresas chinesas para operar em território argentino, e que há possibilidade do capital chinês concorrer diretamente, o que implica numa diminuição da produção local e até mesmo na extinção de postos de trabalho, informou o jornal La Nación em 10 de fevereiro.
O empresário têxtil e secretário-geral da UIA, José Ignacio De Mendiguren, disse que Brasil e Argentina têm que estabelecer uma política comum para defender os interesses da região diante do avanço da China. “Argentina e Brasil, juntos, teria sido o ideal, porque temos forças para negociar com a China para ser aproveitada”, disse o empresário, segundo o jornal La Voz del Interior, em 9 de fevereiro.
Nesta situação, a perspectiva do comércio entre Argentina e Brasil para 2015, segundo a consultoria Abeceb e citado pelo cronista, são sombrias. “Em janeiro, os números do comércio acumularam recordes de retrocessos: 16 meses consecutivos de declínio para o intercâmbio bilateral; 13 para as importações, e 17 meses no vermelho para as vendas externas.”