Mercado mundial de trigo teme contaminação por transgênicos

11/06/2013 15:50 Atualizado: 14/06/2013 13:04
A Associação de Consumidores de Orgânicos (ACO), Greenpeace e grupos de defesa dos alimentos e do meio ambiente pedem a suspensão dos testes de cultivos biotecnológicos
Trigo pronto para colher próximo de Tioga, Dakota do Norte, EUA (Karen Bleier/ AFP / Getty Images)
Trigo pronto para colher próximo de Tioga, Dakota do Norte, EUA (Karen Bleier/ AFP / Getty Images)

Quase todo o milho e soja cultivados nos Estados Unidos são modificados geneticamente, por que não o trigo?

A indústria já está interessada nisso. No ano de 2002, o gigante da biotecnologia, Monsanto, apresentou uma solicitação para criar uma variedade de trigo desenvolvido com a mesma característica de resistência aos herbicidas que se encontram em seus outros bem-sucedidos cultivos de sementes. Os agentes federais o consideram seguro, mas diferentemente do milho e da soja, os produtores de trigo deram marcha à ré e não o aprovam.

A oposição ao trigo geneticamente modificado se mantém tão forte que somente uma nova praga pode possivelmente reverter a situação. Quando o trigo não aprovado da Monsanto foi encontrado no Estado de Oregon no mês passado, vários compradores estrangeiros começaram a examinar e repudiar o trigo norte-americano. Os agricultores do país, em dois processos judiciais, estão solicitando à Monsanto que pare de colocar em risco a reputação do trigo dos EUA.

“Para nossos agricultores, a prioridade é o mercado de exportação e esse colapsará devido ao problema da contaminação”, disse o defensor dos alimentos Alexis Baden-Meyer em entrevista telefônica. “Sem dúvida isso poderia acontecer caso seja aprovado o trigo OMG (organismo geneticamente modificado) nos Estados Unidos. Outros países simplesmente não o querem”.

Segundo Baden-Meyer, diretora política da Associação de Consumidores de Orgânicos (ACO), a contaminação dos cultivos com espécimes da engenharia genética são uma consequência inevitável do sistema agrícola norte-americano.

Com as novas provas de contaminação em Oregon, a ACO, o Greenpeace e grupos de defesa dos alimentos e do meio ambiente estão pedindo a suspensão dos testes de cultivos biotecnológicos.

“Realmente não há uma boa solução exceto colocando fim aos testes desenvolvidos em campos abertos. É certo que se alguém deseja produzir algo não-OMG, terá que estar seguro que seu plantio não se encontra em alguma área próxima a um campo de OMG”, disse a defensora.

Buscando a Pureza

O trigo é o terceiro maior produto da agricultura norte-americana, cobrindo a maior extensão de terra que qualquer outro produto comercial. Ainda que a produção no país tenha se reduzido nos últimos 30 anos, os Estados Unidos seguem sendo um dos principais produtores do mundo.

Entretanto, manter a posição depende do abastecimento dos clientes. Mais de 80% dos importadores opõem-se ao trigo OMG; o mercado está sendo muito claro sobre o que os Estados Unidos devem produzir.

Em 2004, enquanto a Monsanto insistia na aceitação da aplicação da biotecnología no trigo entre os agricultores norte-americanos e canadenses, compradores estrangeiros se opuseram. Noruega, Japão, Coreia do Sul e outros disseram que mudarão para produtores asiáticos ou europeus antes que ocorra uma possível contaminação de organismos modificados geneticamente (OMGs).

Especialistas todavia não estão claros sobre como o trigo modificado entrou nos campos do Oregon, o qual não localiza-se próximo da antiga zona de testes. De acordo com investigação da USDA, o episódio parece ser um incidente isolado, mas o descobrimento indica danos potenciais a uma extensa área, segundo avaliação em outros 16 Estados.

Segundo o Centro para a Segurança Alimentar (CSA), os reguladores federais têm “um terrível histórico” de supervisão dos campos de teste de OMG. Em um comunicado, o CSA se referiu às demandas anteriores dos Estados do Havaí e Oregon, onde o Departamento de Agricultura dos EUA se viu obrigado a admitir que os incidentes de contaminação pelos campos de teste haviam sido mantidos em segredo.

A contaminação transgênica é habitual, de acordo com as centenas de casos documentados no registro da contaminação do Greenpeace. Isso pode ser desastroso para os plantios convencionais. Em 2011, a empresa de bioengenharia Bayer Crop Science foi multada em US$ 750 milhões devido à contaminação por um cultivo de OMGs não aprovado que destruiu toda uma variedade de arroz.

“É a isso que os cientistas se referem quando dizem que os transgênicos são uma ameaça para a biodiversidade, porque se perde a variedade devido à contaminação, e nunca mais poderemos recuperá-las”, disse Baden-Meyer. “Uma vez que se contamine por completo, essa variedade se perde para sempre na humanidade”.

Em um comunicado, a Monsanto disse que não crê que os cultivos de teste que possuem uma “administração dirigida, rigorosa e bem documentada” possam provocar contaminação hoje em dia, como aponta um “estudo que diz que 99% do pólen do trigo se move somente cerca de 9 metros de distância de seu ponto de origem”.

A Monsanto sugere que é mais provável que a disseminação do trigo OMG se desenvolveu por ação de sabotadores, que coletaram fraudulentamente a semente uma vez que seu projeto se concluiu en 2005, e recentemente o plantaram para incriminar a indústria, de acordo com a Bloomberg News.

“Provavelmente é um caso acidental isolado da mescla de uma pequena quantidade de sementes durante a semeadura, a colheita ou durante o ciclo de alqueive em um campo individual”, disse o diretor de tecnologia da Monsanto, Robb Fraley, em uma conferência telefônica com os repórteres realizada em 5 de junho.

Enquanto o trigo OMG não está disponível ao comércio, a Monsanto segue buscando a oportunidade de sê-lo. Em 2010 a companhia iniciou uma conversa com as Universidades Públicas do Kansas e Virginia Tech para melhorar seus programas de cultivo do trigo e gerar melhores variedades.

O Epoch Times contatou ambas universidades para verificar quais alterações genéticas os cientistas acreditam que possam melhorar o trigo OMG para comercialização, entretanto as instituições não responderam nossos questionamentos.

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