Mercado financeiro chinês está sujeito a severa volatilidade, segundo analistas

10/06/2015 18:23 Atualizado: 10/06/2015 18:23

O Índice Composto de Xangai ultrapassou as subidas de todos os mercados de maior performance durante os últimos 12 meses. Sua subida de 110% durante esse período tem sido produto de especulação, alavancagem excessiva e exuberância irracional que desafia os fundamentos econômicos.

Os esforços incrementais realizados pelos reguladores do mercado financeiro chinês para moderar a bolsa de valores não produziram efeito significativo, o que leva os analistas a acreditar que serão tomadas medidas mais drásticas.

Tal ação pode agitar o mercado e aumentar severamente a volatilidade daqui para frente.

A maior parte da apreciação do composto de Xangai foi alcançada nos últimos seis meses, com 91% de ganho. Esta subida está ganhando força a um ritmo que não é visto desde junho de 2005, quando um avanço similar precedeu o crash da bolsa de valores de Xangai em 2007.

No dia 21 de abril, o valor diário da atividade comercial na bolsa de valores de Xangai excedeu 1 trilhão de yuan (U$ 161 bilhões) pela primeira vez na história. Os computadores da bolsa não foram capazes de mostrar o valor, porque o software não conseguia representar tantos zeros, o que sublinha o recente e rápido crescimento do valor das ações.

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Baixo nível educacional

O recente pico está sendo alimentado principalmente por pequenos investidores individuais, e não por investidores profissionais ou instituições.

“As pessoas na China não têm muitos outros lugares para investir o seu dinheiro”, Mike Lu, um investidor individual em Xangai, disse ao International Business Times. “O mercado imobiliário está muito fraco, por isso as pessoas procuram novamente o mercado de ações. Alguns também estão interessadas em Hong Kong, onde os valores são mais baixos”.

Com a estagnação do mercado imobiliário da China depois de 15 anos de ganhos, os pequenos investidores procuram por uma nova forma de fazer dinheiro. O inquérito doméstico de finanças da China, um inquérito sobre o rendimento dos lares chineses realizado pela Universidade de Finanças e Economia de Chengdu, Província de Shichuan, constatou que a maior parte do novo dinheiro que entra nos mercados tem origem em investidores com relativo baixo nível de educação.

O inquérito, realizado no final de 2014, constatou que a maior parte dos novos investidores da bolsa de valores não frequentou o ensino secundário, e o valor de seus patrimônios é relativamente baixo. A pesquisa descobriu também que entre os novos investidores que estão operando, 67% indicou possuir um nível de educação abaixo do ensino secundário. Mais de 30% apenas completaram a escola primária.

E estes investidores estão abrindo novas contas de investimento com fervor. O Bloomberg reportou no dia 23 de abril que o valor de uma nova conta de corretagem de ações classe A chegou aos 3.25 milhões na semana anterior, mais do dobro das aberturas de contas semanais desde o meio de 2007, antes do último colapso da bolsa.

Os investidores também estão comprando cada vez mais fundos emprestados. De acordo com a Comissão Chinesa Reguladora de Títulos (CSRC), no dia 10 de abril um número recorde de 1.6 trilhões de yuan foi emprestado a investidores de varejo para negociarem com margem. Negociar com margem significa pedir dinheiro emprestado do corretor para comprar ações, o que permite o investidor comprar mais ações do que aquelas que poderia, e assim aumentar o retorno. Entretanto, à medida que o preço das ações declina, as perdas dos investidores também se amplificam e eles têm de depositar mais dinheiro para satisfazer os valores mínimos da conta, também conhecidos como chamada de margem.

Soando o alarme

A Pesquisa Financeira Familiar descobriu que, entre os investidores com experiência que investem no mercado imobiliário, as suas expectativas sobre os preços das ações são muito maiores que as suas expectativas relativas ao mercado imobiliário. Isso significa que alguns especuladores que investiram muito dinheiro no mercado imobiliário há uma década atrás estão agora muito focados em ações.

Este entusiasmo tem deixado os reguladores chineses preocupados.

A Comissão Chinesa Reguladora de Títulos (CSRC) avisou aos investidores através do seu blog oficial no dia 20 de março que “Os investidores devem ser cautelosos quanto aos riscos. Nós não devemos pensar que se não comprarmos agora vamos perder a subida”.

No início deste ano, a China lançou o Shanghai-Hong Kong Stock Connect (Ações Conectadas entre Xangai e Hong Kong), dando aos investidores internacionais em Hong Kong acesso ao mercado de ações de Xangai. Vender a descoberto ou apostar contra o preço de uma ação foi permitido no início de março como outra forma de encorajar investidores estrangeiros experientes em Hong Kong a ajudar a refrear o entusiasmo desmedido do mercado de Xangai.

A ideia, em teoria, era sólida. Porém, na prática, os investidores institucionais estrangeiros possuíam poucas formas de baixar o valor das ações de Xangai. Quem vende a descoberto geralmente pede ações emprestadas para vender, antecipando uma queda no preço de recompensa das mesmas ações mais tarde. O Stock Connect determinou que as ações só poderiam ser emprestadas por corretores registrados na bolsa, mas eles normalmente tinham poucas ações para emprestar. No final, o Stock Connect não apenas falhou em atrair vendedores a descoberto, mas fez o contrário, introduzindo pequenos investidores chineses raivosos para a Hong Kong Stock Exchange, que passou a vender ações por preços elevados.

No início de abril, a Comissão Chinesa Reguladora de Títulos lançou multas a seis corretoras, incluindo grandes nomes como Huatai Securities Co. e Great Wall Securities Co., por violar os princípios que guiam o financiamento de margens, tal como não cumprir com certas regras de pagamento e a venda de serviços a investidores não qualificados. O castigo varia conforme a companhia, mas a Great Wall foi barrada de criar contas com margem durante três meses. A ação vem depois de três companhias de corretagem serem punidas por violar regras semelhantes sobre o financiamento de margens em janeiro.

Alguns analistas já estão soando o alarme. O recente pico no mercado de ações da China é um “microcosmo para a economia geral: crescimento insustentável, alavancagem que disfarça fundamentos cada vez mais deteriorados e o aumento de um futuro risco de queda”, escreveu o BNP Paribas no mês passado em uma nota para clientes.

Os veteranos sabem que quando se trata de ações, quanto mais rápida é a subida, mais íngreme a queda. O Shanghai Composite Index caiu de uma alta de 5,903 no dia 12 de outubro de 2007 para 1,729 no dia 31 de outubro de 2008, uma queda de 71% em meros 12 meses.

Em 2007, menos investidores individuais investiram no mercado de ações chinês. Hoje, o regime chinês procura evitar tal catástrofe. Um colapso iria provocar o caos em sua já tênue rédea sobre a estabilidade social entre as classes média e baixa.

Se os limites incrementais não esfriarem o mercado intenso, os reguladores podem recorrer a uma intervenção mais drástica.

“É absolutamente possível que possamos ver medidas draconianas por parte dos reguladores”, disse o analista do UBS Wenjie Lu à Bloomberg, numa entrevista em Hong Kong. “O ritmo da subida das ações está rápido demais.”

De qualquer forma, os investidores devem-se preparar para uma maior volatilidade das ações chinesas.